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Uma guerra anunciada em busca do petróleo

por Fabiano Mossato |

O jogo de interesses entre EUA e Venezuela tem alguns capítulos interessantes e reviravoltas surpreendentes, mas não foge muito da geopolítica histórica das Américas. É um conflito entre colonizados e neo colonizadores, que permeia nosso continente por muito tempo.

Até meados dos anos 70 a exploração do petróleo era controlada majoritariamente por empresas privadas norte-americanas e os empresários locais eram sócios menores ou prestadores de serviços.

Com a crise mundial dos petróleos, iniciado em 1973, o governo venezuelano cria em 1976 a estatal Petróleo da Venezuela S.A. (PDVSA), sem atrapalhar os interesses multinacionais, pois as atividades de refino e comércio internacional continuavam em mãos privadas.

As elites políticas venezuelanas viviam das gordas comissões que eram pagas pelas licenças de exploração e outras concessões públicas. Dois partidos comandados por essas elites se revezavam no poder, acumulando riquezas e aumentando as desigualdades sociais na Venezuela.

Esses “donos” do petróleo venezuelano fortaleceram seus poderes controlando bancos locais, redes de televisão e empresas de vários ramos. A política misturou-se com negócios privados, nenhuma novidade por essas bandas.

Nos anos 80 ocorre nova crise do petróleo. O preço cai, diminuindo a entrada de recursos no país, a inflação aumenta, o PIB também sofre queda e o salário perde seu valor, acarretando na perda do poder de compra da população.

Todo esse processo levou a um programa de ajustes recomendado pelo FMI, tais como reajuste das tarifas de serviços públicos, corte das verbas sociais e privatização de empresas estatais.

Essas ações não deram resultado efetivo para grande maioria da população, fazendo crescer a indignação interna e dando forças a oposição a esquerda.

Em meio as manifestações que ocorriam na Venezuela, destaca-se Hugo Chávez, militar e grande orador, que em 1997 fundou o Movimiento V República (MVR), chegando a presidência em 1999. Promoveu a Assembleia Constituinte, também chamada de V República, que criou as bases de seu projeto político. Ele estabeleceu uma política nacionalista, atacou latifúndios e estimulou uma onda de nacionalizações em setores estratégicos – petróleo, siderurgia, telecomunicações, eletricidade e parte do setor alimentar.

A oposição e grandes grupos econômicos reagem convocando a classe média, sempre ela, e os militares às ruas em uma tentativa de golpe que ocorre em 2002. O golpe não durou 48 horas, pois grande parte da população e a maioria dos militares não aderiram ao chamado da oposição, restabelecendo Chávez no poder.

Muitas tentativas de golpe ocorreram na Venezuela desde então, sempre sufocadas por Chávez, que mantinha sua política nacionalista e social, ganhando mais ainda a simpatia de grande parte da população.

O petróleo foi fator importante para as realizações sociais efetivadas por Chávez.

Nesse período houveram 17 processos eleitorais, entre referendos e eleições, onde Chávez perde apenas 1 disputa (um referendo sobre a mudança da constituição).

A Venezuela é considerada por muitos uma ditadura. Mas como uma ditadura permite a oposição disputar as eleições, eleger seus candidatos e Guaidó ser eleito presidente da Assembleia Nacional?

As relações entre EUA e Venezuela não foram muito amistosas desde a ascensão de Chávez ao poder, mas em 2015 as coisas pioraram devido às sanções econômicas impostas ao país sul-americano, que desde então só aumentaram. Elas dificultam o comércio venezuelano, além disso a oposição interna ao chavismo vem crescendo desde a morte de Chávez, que tem em Maduro seu atual líder.

Os problemas vêm aumentando dentro do país, que vive uma guerra política entre chavista e anti-chavista, chegando a uma crise de abastecimento provocada pelo desabastecimento programado de bens essenciais; a inflação induzida; o boicote a bens de primeira necessidade; o embargo comercial disfarçado e o bloqueio financeiro internacional.

Assim chegamos ao ponto mais critico dessa história, dos últimos tempos, com real ameaça de conflito armado entre EUA e seus aliados e Venezuela.

Com as vitórias eleitorais de Trump, Macri e Bolsonaro, tivemos a ascensão da extrema direita ao poder.

Trump e Bolsonaro já se mostraram limitados e autoritários, parecem crianças mimadas, que quando não conseguem o que querem, mesmo que o que queiram não seja possível conseguir ou que afetem negativamente terceiros, eles não negociam, atacam. Já vimos esse filme algumas vezes na história.

Não podemos esquecer que a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo – mais que a Arábia Saudita – e fica muito mais próximo dos EUA.

A Venezuela tem interesse em proteger sua mais importante riqueza natural, que por muito tempo financiou os avanços sociais, assim, é errado querer manter a soberania nacional sobre seus recursos?

Trump tem seus problemas internos, sua popularidade só cai e o legislativo norte-americano hoje é formado por maioria oposicionista, que já cogita impeachment do presidente.

A estratégia de Trump é entrar em uma guerra para se manter no poder, assim com fez Bush filho nos anos 2000 com a tal guerra ao terror. Tendo com cortina de fumaça novamente a luta pela democracia. Como no caso Bush filho, o petróleo entra nessa equação como fator determinante, mas não explicitamente divulgado.

Bolsonaro, aliado declarado de Trump, pode se meter nesse negócio e quem mais vai pagar são os jovens soldados, que nem sabem porque entrariam nessa guerra, pois o Brasil não tem interesse nenhum nesse conflito e tem um histórico diplomático que tende a ser quebrado com esse atual governo.

Outra questão que não pode ser deixado de lado é que a Venezuela tem apoio da Rússia e da China, nesse sentido as coisas podem ficar pior que imaginamos.

Enfim, em um conflito armado internacional nós sabemos que muitos vão perder e poucos ganharão, se é que alguém ganhará mesmo.

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