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Suplente de deputado organizou caravana com dois ônibus de Curitiba para atos terroristas em Brasília

Desde o dia 08/01, as investigações da Polícia Federal, da Polícia Civil do Distrito Federal, do Ministério da Justiça e da imprensa têm identificado centenas de terroristas que participaram da invasão e da depredação dos prédios dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Entre os vândalos, foram identificados políticos, militares, empresários, entre outros. Na ocasião, 1843 pessoas foram detidas, destas, 1159 continuam presas.

Segundo levantamento da Agência Pública de Jornalismo Investigativo, a maioria dos ônibus usados por bolsonaristas golpistas que invadiram Brasília estavam registrados nos estados de São Paulo e Paraná. Nosso estado aparece como o segundo onde mais ônibus estariam registrados, com 23, sendo a cidade de Londrina o município com mais veículos no levantamento, com cinco ônibus. Sete coletivos de empresas paranaenses foram apreendidos.

Já a Polícia Rodoviária Federal no Paraná (PRF-PR) informou ter identificado a saída de 33 ônibus de bolsonaristas do Paraná. Os coletivos teriam partido de diversas cidades, entre elas Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta Grossa, União da Vitória, São Miguel do Iguaçu, Marechal Cândido Rondon e Paranaguá. O Ministério Publico do Paraná (MP-PR) e o Ministério Público Federal (MPF) receberam diversas denúncias e conseguiram identificar a participação de dezenas de paranaenses nos atos golpistas do dia 08.

Investigação do Parágrafo 2, por sua vez, conseguiu identificar um dos organizadores da ida de dois ônibus da capital do Paraná para o Distrito Federal.

Peterson Rocha Martins é presidente do Partido Liberal (PL) na cidade de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Ele foi candidato e deputado estadual pelo partido e ficou como sexto suplente depois de conseguir pouco mais de seis mil votos. Peterson é líder da Direita Paraná – Pinhais, movimento que atua nas redes sociais pregando, por óbvio, o Bolsonarismo, ataques ao Supremo Tribunal Federal e apoiando atos e acampamentos golpistas.

Peterson é um dos organizadores da ida de dois ônibus de Curitiba para os atos terroristas em Brasília. Dias antes dos atendados, ele anunciava as duas caravanas nos diversos perfis que administra em redes sociais como Facebook e Instagram. Conforme as publicações, que foram apagadas depois da repercussão das invasões, um ônibus sairia do Shopping Curitiba e outro da frente do Quartel General do Exército no bairro Pinheirinho. As saídas estavam previstas para as 05h00 e 05h30 do dia 07/01, com volta no dia 10/01. Confira nos prints abaixo:

Ao Parágrafo 2, por meio de conversa no WhatsApp, Peterson nega que tenha ido à Brasília e que tenha organizado as caravanas. “Eu estava de férias com minha família em Santa Catarina, não fui à Brasília. Apenas ajudei a divulgar as excursões a pedido do Pimentel”, diz.

Peterson passou o contato de Pimentel, mas minutos depois apagou as mensagens e a reportagem não conseguiu falar com o mencionado.

Porém, em uma das publicações que divulgaram as caravanas à Brasília existe um contato de Pix para pagamento do valor de R$ 450 para ida e volta. Esse pix é o e-mail do Direita Paraná – Pinhais, movimento liderado por Peterson. O mesmo e-mail está nos contatos das redes sociais de Peterson e o telefone de Peterson está nas páginas do Direita Paraná e do PL Pinhais . Ou seja, era ele quem estaria arrecadando dinheiro para as excursões:

Em destaque a chave PIX para os pagamentos.
A Chave Pix é o contato do Direita Paraná Pinhais e do PL de Pinhais, ambos administrados por Peterson. Nestas páginas há também o telefone de Peterson Martins

Fonte ouvida pelo Parágrafo 2, sob a condição de anonimato, revela que postagens em redes sociais comprovavam a presença de Peterson em Brasília durante as invasões. “Ele estava em Brasília, gritando no meio da multidão durante os atos terroristas. Tinha stories dele no Instagram e no Facebook que mostravam isso. Também tinham outras publicações nestas redes sociais que comprovavam a ida dele à Capital Federal”, afirma a fonte.

Segundo fonte ouvida pelo Parágrafo 2, stories publicados no dia dos atos mostravam Peterson em meio aos golpistas
Outra publicação apagada das redes sociais de Peterson.

As publicações relacionadas aos atos e também as que organizavam as excursões foram deletadas por Peterson Martins de suas redes. Porém, o Parágrafo 2 teve acesso a dois vídeos que mostram ônibus a caminho de Brasília. Em um deles Peterson está ao lado de pessoas e todos gritam “Curitiba ruma à vitória”, há no vídeo a legenda “se for preciso a gente acampa, mas o ladrão não sobe a rampa”. Em outro, publicado às 8h29 do dia 08/01/2022 na rede social Tik Tok, um homem não identificado reclama porque os dois ônibus da caravana tinham sido parados em um posto da Polícia Rodoviária Federal. “Estamos parados, novamente a PRF parou nossos dois ônibus. Eles têm que respeitar nosso direito constitucional de ir e vir. Viemos participar pacificamente de um movimento patriótico”, diz o homem.

Questionado sobre o último vídeo, Peterson afirma que apenas o republicou em suas redes sociais e desconhece a autoria.

Assista os vídeos

Vídeo 1 : https://www.youtube.com/shorts/Tl5NNWwoEjI

Vídeo 2:

Cerca de 87 ônibus foram apreendidos no Distrito Federal depois dos ataques do dia 08/01. Entre eles estava um pertencente à empresa Viação JMC Eireli, que tem sede na cidade de Pinhais, local onde Peterson mora. O Parágrafo 2 não conseguiu contato com os responsáveis pela empresa.

Ligações de Peterson com políticos do Paraná

Peterson Martins é bem relacionado na extrema direita paranaense. Há diversas fotos e vídeos em suas redes sociais ao lado de políticos influentes do PL. O principal é o deputado federal do Paraná Filipe Barros (PL). Peterson e Barros aparecem em diversas publicações, algumas delas ao lado de Paulo Martins, candidato ao senado derrotado na última eleição, e o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Na foto, Peterson (à direita) aparece ao lado de Bolsonaro, Paulo Martins e Filipe Barros – Reprodução do Facebook.

Barros, inclusive, foi o maior apoiador da campanha de Peterson à Assembleia Legislativa do Paraná. Ele foi também o maior doador da campanha do presidente do PL de Pinhais. Conforme a prestação de contas divulgada pela candidatura de Peterson no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o deputado Filipe Barros doou R$ 25.000 para a campanha do pinhaiense, o que representa 61,73 % do total arrecadado.

O Parágrafo 2 fez contato com a assessoria de imprensa do deputado Filipe Barros, tanto no gabinete de Brasília, quanto no gabinete de Londrina (cidade que levou maior quantidade de ônibus do Paraná para os atentados no Distrito Federal), mas até a publicação desta reportagem não obteve resposta.

A reportagem também entrou em contato com o PL estadual, mas também não obteve retorno da assessoria de imprensa do partido.

Além de políticos, Peterson tem relação com blogueiros golpistas como Oswaldo Eustáquio, preso a mando do Ministro Alexandre de Moraes. Peterson e Eustáquio já participaram de outros eventos em Brasília, como mostram postagens nas redes sociais de Martins.

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.

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