Reportagem: José Pires
Fotos: Emerson Nogueira
Indígenas da etnia Kaingang estão acampados em um terreno ao lado do Parque Newton Puppi, na Vila Bancária, em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba. Cerca de 30 famílias encontram-se no local. Ele é usado por indígenas das aldeias de Faxinal, que fica no município de Cândido de Abreu, Aldeia de Queimadas, que fica na região de Ortigueiras, Aldeia de Apucaraninha, no município de Tamarana e Aldeia Ivaí que fica em Manoel Ribas, também no interior do Paraná.
O acampamento improvisado recebe indígenas que vêm vender artesanato na Região Metropolitana de Curitiba. Sem ter como pagar hospedagem, muitas famílias se abrigam lá durante semanas e depois voltam para suas aldeias. Há meses os barracos à beira da avenida são ponto de parada para os Kaingangs.
Quando estão na região eles percorrem bairros de Campo Largo e de municípios vizinhos, como Rio Branco do Sul, tentando vender seu artesanato nos semáforos e também de porta em porta. A esperança de lucrar um pouco mais com as vendas, mesmo pagando deslocamento para ir de uma cidade a outra, faz com muitos indígenas se desloquem a Campo Largo durante o ano todo. “Aqui conseguimos vender um cestão, por exemplo, a R$ 50 ou R$ 60. Já na nossa região não conseguimos mais de R$ 40. Por isso a gente vem pra cá”, ressalta Cláudio Lucas Kygna, indígena que mora na Aldeia Ivaí, em Manoel Ribas.
Porém, as condições do acampamento são muito precárias. Os barracos cobertos por lona oferecem pouco conforto e segurança. Há vazamentos quando chove e pouca proteção contra o frio. Não há água no acampamento, nem luz, ou banheiro. Manter a higiene pessoal é desafio, inclusive para as mais de 30 crianças que hoje estão no local. “A gente precisa muito de banheiros químicos, esse é um dos nossos maiores desejos”, diz Cláudio. Arnoldo Matias Gojgomk, que também é da Aldeia Ivaí, está há dois meses em Campo Largo com a esposa e duas filhas. Para a família, a maior dificuldade é a falta de água. “Não tem água, aí fica muito difícil. Precisamos comprar ou receber doações de água pra fazermos tudo, até tomar banho”.
Diante da precariedade do acampamento, os indígenas se mobilizaram para pedir que a Prefeitura Municipal de Campo Largo crie uma Casa de Passagem para abrigar as famílias que precisam vir à cidade comercializar seus artesanatos. Outra reivindicação, conforme explica Cláudio Kygna, é que prefeitura ceda um terreno mais próximo do Centro da cidade onde eles possam se instalar com água, luz e banheiro. “Tivemos uma reunião com a prefeitura de Campo Largo pedindo ou uma Casa de Passagem, ou um local com mais estrutura. Mas foi oferecido um terreno no Centro que é muito pequeno, não consegue abrigar tantas famílias. A prefeitura tem nos ajudado com algumas coisas, nos manda frutas toda semana, por exemplo. Ofereceram um local para fazer uma Casa de Passagem, mas é muito longe do Centro, aí fica muito difícil pra gente se deslocar e chegar até o Terminal de Campo Largo”, diz.
Diante do impasse, as famílias indígenas solicitaram a mediação do Ministério Público do Paraná. Na última sexta-feira (28/01), representantes da prefeitura e do MP se reuniram para tentar encontrar uma solução que atenda às necessidades dos indígenas.
Casa de Passagem em Curitiba
Nos mês de dezembro de 2021, 25 indígenas da etnia Kaingang – principalmente mulheres e crianças – acamparam durante dias no pátio do Palácio das Araucárias, sede da Secretaria da Justiça, Família e Trabalho (SEJUF), em Curitiba. Eles faziam parte de um grupo de indígenas que veio da Terra Indígena Rio das Cobras, em Novas Laranjeiras. O grupo veio à Curitiba para vender artesanato, mas diante da inativação da Casa de Passagem Indígena (CAPAI), estavam desabrigados e sem apoio do município.
A Casa de Passagem do Indígena em Curitiba foi inaugurada em janeiro de 2015 como um espaço destinado ao acolhimento de famílias de indígenas, muitas delas com crianças e adolescentes, que se encontravam em situação de rua e que vinham à capital paranaense para venda de artesanato. Inaugurada em caráter emergencial, depois de iniciativa promovida pelo Ministério Público do Paraná, o local foi cedido pela prefeitura de Curitiba e durante anos funcionou na Praça Plínio Tourinho, no Bairro Jardim Botânico.
No entanto, no mês de março de 2020, com o começo da pandemia e a necessidade do isolamento social, as famílias indígenas que vinham de outras cidades e estados vender artesanato em Curitiba voltaram para suas aldeias. Com isso a Casa de Passagem do Indígena teve queda no número de usuários e o risco de contágio demandou a suspensão temporária dos atendimentos. No dia 20 de março a prefeitura de Curitiba realocou a Capai para um imóvel no bairro Cajuru. Dois dias depois o local deixou de fornecer qualquer tipo de atendimento a indígenas.
Depois de muita mobilização e da intervenção de órgãos como o Ministério Público, os indígenas acampados no pátio do Palácio das Araucárias, conseguiram uma Casa de Passagem provisória.
O Parágrafo 2 entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Campo Largo pedindo uma nota de esclarecimento sobre os fatos trazidos neste texto. Mas não recebeu resposta.