Coluna Requadro 2 – Texto de Heloise Muchinski
Não sou uma pessoa que costuma jogar vídeo game, mas preciso falar sobre um certo jogo. Gosto de coisas trashs e sem noção, com uma pitada de subversão como no jogo hack n’ slash da Platinum Games,BAYONETTA. Não falarei sobre dados técnicos, não é minha intenção aqui e deve haver sites de games com conhecimentos necessários para avaliar jogabilidade e gráficos, mas essa não é minha área. Mas antes deixe-me apresentar, sou Heloise Muchinski, estudante de Filosofia, amante de cultura inútil, e essa é minha primeira pauta no Requadro 2, espaço que dividirei com o já colunista do Parágrafo 2, Idov Cassol.
Falemos então sobre nossa musa de hoje do jogo homônimo, Bayonetta.
No universo do jogo existe duas forças que mantém o equilíbrio do mundo, as Umbra Witches as bruxas, e os Lumen Sages, que são os seguidores da luz. Até aqui é a oposição clássica de luz e trevas. Depois do envolvimento de um Lumen Sage com uma Umbra Witch uma guerra eclode causando o extermínio de quase todas as bruxas. Quinhentos anos depois dessa guerra Bayonetta desperta de um caixão no fundo de um lago chamando atenção dos anjos e assim passa a ser perseguida, o motivo disso é parte da trama que revelar agora seria spoiler, mas ela também passa a caçar os anjos e levar suas Auréolas para o demônio Rodin, usando-as como moeda de troca para novos itens do arsenal.
Basicamente Bayonetta é uma bruxa cuja roupa é feita de cabelos, cabelos que também usa para convocar crias do inferno (através de um pacto com a entidade Madama Butterfly). Na trama, a sensual Bayonetta é armada com armas nos punhos e nos pés, e é assim que ela enfrenta criaturas divinas, possuidoras de uma forma angelical no mínimo bizarra.
Na época que joguei lembro de ter achado muito doido uma bruxa caçadora de anjos, gostei da inversão de papeis, já que a perspectiva histórica que temos de bruxas são o extremo oposto. A melhor parte está nos golpes nos quais são utilizados aparelhos de tortura medieval nos anjos, entre os aparelhos estão: dama de ferro, cavalo de madeira, guilhotina, esticador. Todo o cenário de tortura, mais uma bruxa de traje que lembra látex cria um ambiente de fetiche sadomasoquista.
Pode não parecer mas Bayonetta é um exemplo de contracultura e da não objetificação da mulher. Nesse momento você deve estar se perguntando como isso é possível, já que ela é uma gostosa que não para de sensualizar exatamente como vemos todos os dias nas mídias de entretenimento, mas vamos lá. A criação de Bayonetta contesta alguns estereótipos vigentes. É de conhecimento que no Japão exista uma procura maior por jogos e mangas onde a mulher é retratada com características mais infantis e com histórias onde sua submissão é muito mais evidente.
Quando a personagem surgiu, veio com ela, uma grande quantidade de material produzido por fãs. Alguns materiais vieram a chamar a atenção do designer do jogo, Hideki Kamiya, por serem em sua maioria versões eróticas. Até aqui tudo bem, era de se esperar, já que tudo que surge ganha sua versão erótica na internet. Mas por que uma personagem erotizada desde sua criação chamaria atenção do criador por causa de suas versõescalientes?
Na época Hideki mencionou no twitter estar um pouco desgostoso com as artes que estava encontrando, isso causou grande tumulto entre os gamers, já que era óbvio surgir material do tipo pornográfico com a personagem; o designer explicou um pouco mais o motivo de sua reclamação, para ele os fãs que estavam produzindo tal material não tinham entendido a essência da personagem e por isso na maioria da vezes a reproduziam de maneira submissa, fazendo com que ela não se diferenciasse muito das colegiais indefesas que se encontra com grande facilidade nesse tipo de material; assim a personagem era totalmente descaracterizada, deixando de ser uma mulher dominadora e forte, perdendo o poder sobre a sua sexualidade.
Você que está ai lendo meu texto deve estar se perguntando, como uma mulher toda sexualizada, rebolando para anjos não vai ser objetificada?
A história do jogo se passa em um mundo parecido como nosso, numa cidade europeia fictícia, Vigrid, onde os atributos da personagem nada interferem na interação entre os personagens e com ausência de um par romântico; aliás ela mal interage com o povo de Vigrid, apenas com o jovem Luka Redgrave que busca vingança contra a bruxa, mas na maioria das vezes a interação é apenas com os inimigos angelicais aparentemente desprovidos de desejos sexuais. Pensando nessa perspectiva, podemos levar a questão de que se Bayonetta não é sexualizada para os personagens do jogo, para quem ela seria? Seria para o jogador?
Já vi muitas defesas que partem desse ponto, no qual a personagem seria chamada de puta, que estaria ali apenas para o entretenimento do jogador; a regra é diferente quando se trata do personagem Kratos de God of War, que é o fodão e você ainda pode controlar o seu desempenho sexual. Esse pensamento não é tão diferente do que vemos por ai, onde a sexualidade da mulher só pode existir se for para o entretenimento masculino. Não sei para vocês, mas para mim ser sexy não está ligada ao falocentrismo, a sexualidade da mulher não está exclusivamente para entretenimento dos homens.
Para mim Bayonetta vai além de um jogo para entreter, serve como exemplo de força e empoderamento sexual. Para quem interessar super recomendo o jogo, também tem a animação Bayonetta Bloody Fate (2013) que resume bem a história do jogo. Espero que vocês tenham gosta e até a próxima.
Beijos =)
Trailer de Bayonetta Bloody Fate: