Foto: APP-Sindicato
Depois de anunciar na terça-feira (01/12) um toque de recolher das 23h às 5h no estado do Paraná, o governador Ratinho Junior (PSD) publicou um decreto nesta quinta-feira (03/12) proibindo a realização de confraternizações e eventos presenciais com mais de dez pessoas — sendo excluídas dessa contagem crianças de até quatorze anos. A medida tem validade por 15 dias, podendo ser prorrogada, e busca conter a alta nos casos da Covid-19.
Se de um lado Ratinho Júnior proíbe eventos com mais de dez pessoas, por outro obriga mais de 47 mil professores, professoras e outros profissionais da educação a realizar uma prova presencial, em plena pandemia, na busca por uma das 4 mil vagas oferecidas no Processo Seletivo Simplificado (PSS) da Secretaria Estadual de Educação (Seed). Mais de 47 mil pessoas se inscreveram para tentar uma das vagas. Hoje trabalho no modelo PSS mais de 30 mil profissionais.
Nietzsche dizia que “a hipocrisia estaria abolida se não fosse um espetáculo contemplá-la”. O “espetáculo” do governador do Paraná e de seu secretário de educação Renato Feder, no entanto, coloca em risco a saúde de quase 50 mil trabalhadores. Enquanto Ratinho alardeia o risco de contágio do Coronavírus – que já contaminou mais de 290 mil pessoas no estado tirando a vida de mais de 6 mil – ele se mostra irredutível em cancelar o processo seletivo que obriga os profissionais a participar de uma prova de conhecimentos para tentar trabalhar nas escolas em 2021.
O sistema de seleção do PSS nunca obrigou os professores a fazerem prova. A novidade trazida por Ratinho Jr. provocou diversas manifestações e ações da categoria representada pela APP-Sindicato. Um grupo de trabalhadores chegou a fazer uma greve de fome que durou oito dias.
Existem dois Ratinhos: um é aquele que pede que os paranaenses evitem aglomerações, que não se reúnam, que respeitem o distanciamento social; o outro é o tirano que não dialoga e impõe à fórceps a aglomeração de milhares de trabalhadores que precisam arriscar sua saúde e a de seus familiares para tentar trabalhar no próximo ano.
O governador tem sido pressionado. Primeiro por municípios que, diante do aumento no número de infectados, se dão conta de quanto é perigoso sediar uma prova que reunirá presencialmente milhares de pessoas. Paranavaí, Guarapuava, Umuarama e Maringá já se disseram contrárias à realização da prova. Depois a pressão veio por meio da empresa que vai aplicá-la, o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de eventos (Cebraspe) enviou uma solicitação de cancelamento da prova à prefeitura de Curitiba no último dia 30. O Conselho Estadual de Saúde do Paraná (CES-PR), também se posicionou contra e encaminhou um ofício, no final de novembro, para a Seed destacando sua posição. E, por fim, pelo Ministério Público do Paraná que teme pela infecção dos milhares de candidatos.
Diante da pressão Ratinho Jr. não cancelou a prova, mas decidiu adiá-la em 10 dias. A nova data é 20/12, cinco dias antes do Natal. Possíveis candidatos contaminados no dia da avaliação poderão contaminar também seus parentes e amigos. É um presente de Grego que o governo do Paraná dá a milhares de famílias do estado.