Foto: Emerson Nogueira – https://www.instagram.com/nuolhodarua.photo/?hl=pt-br
Além da necessidade de profissionais qualificados para atuar em UTIS, os afastamentos de médicos, enfermeiros e outros profissionais impactam justamente no momento em que a demanda do sistema de saúde cresceu muito e já colapsa em diversos estados brasileiros. O secretário de Saúde do Paraná, Beto Preto, destacou em dezembro de 2020 que o estado tinha grandes dificuldades em contratar profissionais para atuar em hospitais e na linha de frente da Covid-19.
O que o secretário não disse, porém, é que, em seus dois primeiros anos de governo, Ratinho Jr (PSD) reduziu em 8% a quantidade de servidoras e servidores da Saúde. Hoje seriam 615 pessoas a menos do que no início de 2019. A defasagem atual é de quase 38% em relação à quantidade de vagas disponíveis. Das 11.319 vagas disponíveis por lei, 4.198 estão desocupadas. As informações são do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde Pública do Estado do Paraná (SindSaúde-PR). Mas a defasagem pode ser ainda maior agora durante a pandemia. Em dezembro de 2020 a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) informou ao G1 que 2.330 servidores e servidoras estavam afastados. A isso somasse os trabalhadores que se aposentaram e aqueles que infelizmente perderam a vida vitimados pelo Novo Coronavírus.
O governo do Paraná não divulga desde 2019 os dados sobre a quantidade de profissionais que trabalham na saúde. Quem revela é Olga Duarte da diretoria do SindSaúde. Segundo ela, no Brasil existe o Controle Social sobre o Sistema Único de Saúde que é formado por Conselhos de Saúde que foram constituídos para formular, fiscalizar e deliberar sobre as políticas da área. “Existem dois instrumentos de gestão que se chamam Relatório Anual de Gestão e o Plano Estadual de Saúde. O executivo tem que apresentar ao Conselho Estadual de Saúde, do qual faço parte, o plano que ele usará nos quatro anos de governo. A partir da aprovação do plano ele precisa divulgar, a cada quatro meses, um Relatório Anual de Gestão e execução das políticas de saúde que incluem a gestão de pessoas nessa área. Porém, os últimos relatórios divulgados por Ratinho vieram sem o balanço da gestão de pessoas, ou seja, não revelam quantos trabalhadores têm, em que lugar estão trabalhando, quantos se aposentaram, quantos estão afastados. Esse diagnóstico da gestão não tem sido apresentado nem no relatório quadrimestral e nem no anual. A última vez que o governo apresentou foi em 2019”, destaca Olga.
O sindicato, portanto, trabalha com dados defasados e a falta de trabalhadores e trabalhadoras na saúde do estado do Paraná pode ser muito maior. “Temos a Lei 18.599/2015 que define o número de trabalhadores nas secretarias. E na SESA precisam ter 11. 319 servidores e servidoras no quadro próprio da secretaria. O último número total que a secretaria nos passou, inclusive no relatório anual de 2019 é que temos 7.125 servidores na pasta. Assim, esse número hoje, em março de 2021, é diferente por diversas razões. Em dezembro de 2017, tínhamos 8.552, portanto houve uma redução de 1.427 postos de trabalho até 2019. Estamos operando com 63% do número que deveria haver. Ouve um déficit de 37%, uma diminuição expressiva”, explica.
Até a última atualização de dados da Sesa, no início de março, tinham sido anotadas 45 mortes de médicos e quase 200 vítimas entre os outros profissionais da área de saúde. O relatório da Secretaria indicava que 1.404 médicos tinham sido infectados pela doença entre mais de 10 mil profissionais da saúde acometidos pela Covid.
Sobrecarregados e exaustos
Ao Parágrafo 2, uma técnica de enfermagem que trabalha no Hospital do Trabalhador e pede que sua identidade não seja revelada, destaca que a rotina dos profissionais de saúde agora, no auge da pandemia, é absolutamente desgastante. “É muito desgastante nossa realidade hoje. O salário é pouco, por isso precisamos ter dois empregos, com longos plantões. Além disso, trabalhar na linha de frente da Covid-19 é estafante. Nunca vi tantas mortes como tenho visto. Nossa UTI é de 10 leitos e o semi intensivo eram dois leitos, com capacidade para mais dois. Hoje estamos com 14 leitos. O trabalho é massacrante, muita droga, muitos medicamentos que precisamos aplicar, além de Pronar os pacientes, que é colocar de barriga pra baixo”, conta.
A enfermeira também revela que muitos colegas foram afastados por pertenceram a grupos de risco. “Muitos profissionais se afastaram porque eram do grupo de risco. A falta de uma pessoa já sobrecarrega a equipe. O que poderia fazer a diferença hoje seria o governo nos valorizar, principalmente na questão financeira. Hoje o piso de um técnico de enfermagem é de R$ 1.600”.
O Parágrafo 2 entrou em contato com a Secretaria Estadual da Saúde pedindo uma nota sobre os fatos trazidos nesta reportagem. Não recebemos resposta.