Coluna Filosofia Di vina
O brasileiro, acostumado a pegar o ônibus e enfrentar uma jornada dura de trabalho, sabe que as mudanças mais urgentes do país não se resolvem com frases prontas ou decreto de armas para fazendeiros ricos.
O pobre trabalhador, das periferias urbanas e rurais, sabe que discursos delirantes e fazer arminhas com a mão não resolvem o problema da miséria em um país. Todos sabem que os problemas sociais do Brasil são complexos e a falta de interesse político para resolvê-los é maior.
O Brasil das grandes mamatas, da injustiça social, do absurdo está a pleno vapor. O país que queria se modernizar agora se segura na beira do poço do cataclismo social. A pauta volta à década de 1960, o debate muda de “como superar a pobreza” para “como entregar mais rápido e barato as riquezas do país”. Ou ainda, “direitos das minorias” para “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”. O espírito de colônia está mais vivo do que nunca e, na crônica social de nosso tempo, o patriotismo vazio e o fanatismo conservador dão o tom do grito bestial dos já arrependidos eleitores de Bolsonaro.
O governo, que mal começou, começa mal. A composição ministerial deixa clara a disputa interna dentro da cúpula do PSL, apelidado sarcasticamente pelo brasileiro de Partido Suco de Laranja. As três forças que disputam o país no momento são: os militares, os “Chicago Boys” e a parte delirante da direita medieval. Esta última serviu de apoio popular para a campanha regada à fake news e agora cobra sua parte do bolo. As duas forças mais perigosas, os ultraliberais e os militares, não pretendem perder tempo descobrindo como pecam os brasileiros, estão mais interessados em garantir privilégios de um lado e saquear o estado de outro.
Bolsonaro tem seus adversários políticos, mas é de dentro de casa que sai a verdadeira facada, seu governo sangra e ele, como sempre, se cala. O tragicômico caso de Queiroz – que é funcionário, mas faz pagamento ao seu patrão – é aplicado em pequenas doses pela mídia. A opção do PSL em deixar de fora a grande imprensa para se comunicar por redes sociais se mostra um erro monumental, a grande mídia não brinca em serviço e não precisa de muito para expor as contradições e limitações de um governo que quase 90 milhões de brasileiros já conheciam.
Para aumentar ainda mais o clima de racha dentro do principiante governo, DEM e PSL posam para fotos na China, os grandes combatentes com o lema “nossa bandeira jamais será vermelha” sorriem e atrás de si estão Mao, Lenin, Engels e Marx. Olavo de Carvalho, interessado, não na ideologia, mas defendendo os interesses de empresas norte americanas, parte para a briga, utilizando a “questão ideológica”. Os chineses, antes de serem socialistas são concorrentes dos norte americanos, os chineses não investem um centavo em Olavo, os norte-americanos sim. Dá para entender a raiva e a defecação verbal que surgiram daí. O fruto apodrece antes de madurecer.
O silêncio de Bolsonaro é compreensível, uma vez que cada palavra sua cava mais o abismo ao seu redor, respingando em muita gente a ponto de as pessoas não saberem se o que fala sai da boca ou da bolsa coletora.
Os defensores mais acirrados do cambaleante presidente sentem falta das “mitadas”, mas ele já não pode mais fazê-las. A conversa fiada da eleição não cola mais, os problemas agora são reais e a incapacidade de lidar com eles se revela a cada dia, a cada vez que volta atrás. Um misto de incompetência, mal caratismo e mediocridade compõe a verdadeira “mitada” que o Brasil começa a compreender e se arrepender.