Foto: Site Metrópoles
Coluna Evangélico à Esquerda
Antes de eu me converter a Cristo, após longos e delicados processos, eu sabia quem era Silas Malafaia. Ele era uma ressalva que eu tinha, o meu pé atrás em relação ao evangelicalismo no Brasil. Não refletia as boas pessoas cristãs que eu conhecia, mas era seu porta-voz. E o erro estava em sua boca, assim como todos os indícios de que o que ele fazia e representava não era o evangelho de Cristo, e sim seu projeto de enriquecimento e poder pessoal. Para quem não estava na igreja na época, são sabidos os escândalos de lavagem de dinheiro, manipulação de pessoas, e enriquecimento pessoal sem precedente. Isso era matéria no Fantástico antes de eu me converter. Nunca vi o Silas como o porta-voz do evangelho que ele diz ser. Sempre o vi como um charlatão. Ele se aproveita da inabilidade das pessoas, do pouco conhecimento que os evangélicos têm da palavra de Deus. Ele não é o único, mas talvez seja o mais proeminente.
Como a igreja no Brasil se permitiu sequestrar por um tão claro falso pastor como ele? Silas começou sua carreira condenando as teologias de domínio e de prosperidade, importadas dos EUA. Em algum momento, virou uma chave, e ele passou a ser seu maior defensor. Os pastores americanos que ele publica no Brasil são os mais notórios picaretas da fé nos Estados Unidos. Mesmo as igrejas de lá, tão nacionalistas e tão ligadas as ideias de são o país detentor da verdadeira fé cristã, não engolem bem esses caras. Procure saber quem é Benny Hymm, Cleffo Dollar, Kenneth Copeland, Joyce Meyer, e os tantos outros Malafaias americanos. Talvez olhando para os originais, dê para perceber o quão grotesca é a nossa caricatura…
Mas o papel de Silas Malafaia nas eleições de 2018 e 2022 é indelével. Ele encampou todas as suas forças para eleger Jair Bolsonaro, usou de toda a sua influência no país para isso. Falou a todo o “povo evangélico do Brasil”, como se ele fosse o último profeta, último bastião da voz do Senhor vivo na nação. Como se fosse ele o portador das novas tábuas da lei, que agora proíbem o comunismo, o PT, a esquerda… Seu interesse tem uma razão clara: ele não junta uma miríade de pastores picaretas em volta do presidente à toa. Eles querem privilégios. Eles querem investigações paradas sobre seus patrimônios e crimes. A igreja se acostumou a lançar sobre estes homens sua fé, de maneira acrítica, porque é assim que as igrejas têm ensinado as pessoas a fazer. Não querem perguntar a Deus, que a todo aquele que pede, dá sabedoria sem distinção. Eles querem mastigado, o que quer que a figura de autoridade humana disser passa a ser verdade, pois é o detentor da verdade divina. Cristo nos advertiu sobre os Malafaias, mas a igreja parece não conseguir ler estas advertências.
Enquanto os pobres doentes, de cognição sequestrada, sofrem esperando pelas próximas 72 horas nos quartéis pelo país, nosso Moisés moderno limpa os dentes de camarão e banha seus pés num dos resorts mais caros do país.
Esse cidadão, e a família Bolsonaro, junto de todos esses criminosos que mantém reféns esses pobres tolos acampados em quartéis, são os criminosos. Dos acampados, eu começo a ficar com pena. Eles estão realmente sofrendo com o que se tem dito para eles, e o medo deles do comunismo, para nós uma grande besteira, é real. Estão escravos destes homens que não ligam, que os usam pra defender seus próprios interesses. Silas Malafaia talvez seja o pior deles, pois é o que usa a fé e o nome de Jesus Cristo para fazer isso.
Vão precisar de tratamento, estes pobres nos quartéis, para sair da esquizofrenia que o bolsonarismo construiu ao seu redor.
Mas figuras como Silas, os Bolsonaro, e seus apoiadores de alto escalão, precisam pagar por seus crimes. Não foram poucos. Foram graves.
A igreja não pode permanecer refém desse tipo de pastor picareta. A fé é uma coisa muito séria, mas eu creio que Deus vá revelar e limpar.
O Brasil merece e precisa de mais Rubens Alves, mais Caio Fábio, mais Ed Renne, e menos Malafaias…
Rafael Bührer é estudante de Teologia na Faculdade Unida de Vitória/ES, EAD, Marxista-leninista, Cristão, ex-músico independente, recepcionista bilíngue, marido, torcedor do Coritiba e cearense naturalizado.