Se tem algo que a política ensina é que não se deve comemorar ou lamentar uma decisão do Congresso até se ter certeza de que este realmente é o veredito final e que não cabe nenhum recurso. Hoje Waldir Maranhão (PP- MA), deputado que assumiu a presidência da Câmara Federal depois do afastamento de Eduardo Cunha, anulou o processo de impeachment de Dilma Roussef baseado em um pedido da Advocacia Geral da União que alega, entre outros argumentos, que Eduardo Cunha exerceu influência sobre a votação do dia 17 de abril que culminou no prosseguimento do processo contra a presidente.
A decisão de Maranhão teve efeito de gasolina na fogueira: Oposição aos gritos! Base governista mandando beijos ao deputado, imprensa descendo das tamancas e perdendo o status de “imparcial” e a população de queixo caído sem saber ao certo se comemora ou lamenta.
Agora, acusado de “alta traição”, o deputado Waldir Maranhão, deve ser expulso do Partido Progressista (PP). Um grupo de deputados do PP já acionou a Executiva da legenda para pedir sua imediata expulsão. Com isto, o partido deve também pedir o afastamento de Maranhão da presidência da Câmara, já que a vaga de vice é de indicação do PP. O argumento, dos agora ex-companheiros, é que ele já havia contrariado a decisão do partido de fechar a questão a favor do impeachment e, agora, voltou a confrontar a legenda, ou seja, pena máxima para essa afronta.
Maranhão, que está no partido desde 2007, tem uma extensa ficha corrida quando o assunto é corrupção. Seu nome, assim como o de Cunha, está nos inquéritos autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar políticos na Operação Lava Jato. Na época, o ministro Teori Zavascki autorizou a abertura de inquérito para investigar 47 políticos. Segundo o depoimento do doleiro Alberto Youssef na delação premiada, Maranhão fazia parte de um grupo de menor expressão do PP que recebia repasses mensais entre R$ 30 mil e R$ 150 mil da “cota” da legenda no esquema de corrupção da Petrobras. Se os ministros do Supremo entenderem que há provas suficientes contra Maranhão, ele pode virar réu.
Além da investigação da Lava-Jato, Maranhão também é alvo de outros dois inquéritos que também tramitam no STF, nos quais é acusado de crimes como lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos ou valores — ele é citado, por exemplo, em inquéritos da Operação Miqueias, deflagrada pela Polícia Federal em 2013. Os processos, segundo a revista IstoÉ, narram possíveis relações entre o deputado e o doleiro Fayed Traboulsi, preso no final de 2013 por supostamente participar de um esquema de lavagem de dinheiro e desvio de recursos de fundos de pensão, esquema que movimentou R$ 300 milhões em um ano e meio. No processo, que possui mais de mil páginas, há ligações e conversas entre Traboulsi e Maranhão. O deputado do PP também traz no currículo outros questionamentos na Justiça Eleitoral. Ele teve contas de campanha de 2010 para a Câmara rejeitadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MA).
Mesmo sendo alvo de diversos inquéritos e sendo acusado de recebimento de propina, lavagem de dinheiro e ocultação de bens, o PP nunca havia ameaçado o deputado de expulsão. Agora o parlamentar chutou o balde, afinal desviar uns centenas de milhares de reais aqui, ocultar outros centenas ali até vai né? Mas desobedecer uma ordem do partido, aí já demais!
Maranhão fazia parte de um grupo de menor expressão do PP que recebia repasses mensais entre R$ 30 mil e R$ 150 mil da “cota” da legenda no esquema de corrupção da Petrobras. Se os ministros do Supremo entenderem que há provas suficientes contra Maranhão, ele pode virar réu.
A decisão do Partido Progressista (que ironicamente é um mar de conservadorismo) só reforça que o nosso grande problema político é a representatividade do país no Congresso Nacional. Como pode um sujeito não ser afrontado por uma legenda mesmo diante de inúmeras suspeitas de corrupção e ser rechaçado por descumprir uma ordem ideológica de seus pares? Fica cada dia mais evidente que as práticas criminosas que, segundo a Ong Transparência Brasil, colocam 303 dos 513 deputados federais como alvo de investigação por algum crime, tem conivência descarada por parte da direção dos partidos.
Mas o que dizer de um partido que é o que tem mais nomes enrolados nas investigações da Operação Lava Jato? Dos atuais 45 representantes do Partido Progressista no Congresso, 21 vão responder a inquérito sob a suspeita de participar do esquema de corrupção na Petrobras. Além disso, outros 11 ex-parlamentares do PP também terão de prestar contas ao Supremo. Um deles é atualmente vice-governador – João Leão (PP-BA) – e dois ainda cumprem pena pela condenação no processo do mensalão – Pedro Henry (PP-MT) e Pedro Corrêa (PP-PE). Mas tudo bem né? No PP, assim como em outros partidos, o problema não é ser corrupto, mas sim desobedecer a linha ideológica da sigla que até um dia desses contava no seu time com o Bolsonaro, dizer o que ….