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População negra foi a que mais perdeu empregos durante a pandemia, revela levantamento do Dieese

O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou, nesta sexta-feira (19), o levantamento “A inserção da População Negra no Mercado de Trabalho” que traz informações revelando a desigualdade entre negros e não negros no mercado de trabalho brasileiro. Os dados foram obtidos a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e mostram que negros e negras foram os que mais perderam emprego durante a crise sanitária e os que menos conseguiram recuperá-los.

Conforme o Dieese, entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, segundo dados da Pnad Contínua, 8,9 milhões de homens e mulheres saíram da força de trabalho – perderam empregos ou deixaram de procurar colocação por acreditarem não ser possível conseguir vaga no mercado de trabalho. Desse total, 6,4 milhões eram negros ou negras e 2,5 milhões, trabalhadores e trabalhadoras não negros. A partir do momento em que as pessoas começaram a buscar voltar ao mercado de trabalho, a taxa de desocupação cresceu. A comparação do volume da força de trabalho do 2º trimestre de 2021 com o mesmo período de 2020 mostra que a força de trabalho negra cresceu 3,8 milhões (1,79 milhões de homens e 1,97 milhões de mulheres). Já entre os não negros, o aumento foi de 2,3 milhões (963 mil homens e 1,38 milhões de mulheres). Porém, quando se compara 2021 com o 1º trimestre de 2020, antes da pandemia, nota-se que parcela expressiva de negros não voltou para a força de trabalho: 1,1 milhão de negras e 1,5 milhão de negros. Pode-se dizer que, no 2º trimestre de 2021, enquanto a força de trabalho não negra já equivalia a 92% do total registrado antes da pandemia (1º trimestre de 2020), entre os negros, esse percentual foi de quase 59%, número que levanta a questão sobre o destino desses quase 2,6 milhões de negros e negras.

O número de pessoas que perdeu postos de trabalho por causa da crise sanitária, entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, foi de 8,8 milhões. Desses, 71,4% ou 6,3 milhões eram negros: 40,4%, mulheres, 31%, homens. A comparação entre os segundos trimestres desse ano e de 2020 mostra que, em 2021, havia 2,9 milhões de negros ocupados a mais do que no ano passado – o equivalente a 47,0% do 1º trimestre de 2020. Para os não negros, os impactos da crise sanitária foram menores: dos 2,5 milhões que perderam as ocupações entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, 59% voltaram a trabalhar em 2021. O nível de ocupação ainda não voltou ao que estava no 1º trimestre de 2020: em 2021, são 4,4 milhões abaixo do observado antes da pandemia.

O aumento da taxa de desocupação é visível no 2º trimestre de 2021. Com o avanço da vacinação, muitas pessoas voltaram a buscar colocação no mercado de trabalho, mas a economia brasileira não apresentou dinamismo suficiente para receber esse volume de trabalhadores. Para os negros, a taxa de desemprego é sempre maior do que a dos não negros. Enquanto para os homens negros, ficou em 13,2%, no 2º trimestre de 2021, para os não negros, foi de 9,8%. Entre as mulheres, a cada 100 negras na força de trabalho, 20 procuravam trabalho, proporção maior do que a de não negras, 13 a cada 100.

Apesar da volta de grande contingente de pessoas ao mercado de trabalho, o desempenho pífio da economia fez uma parcela da mão de obra ficar subutilizada. A taxa de subutilização, que expressa a demanda potencial por trabalho, apresentou comportamento diferenciado entre homens e mulheres. Entre as negras, era de 40,5%, no 2º trimestre de 2020, e 40,9% no mesmo período de 2021; entre as não negras, os percentuais foram menores, mas também crescentes, 26,4% e 27,7% no 2o trimestre de 2020 e nos mesmos meses de 2021, respectivamente. Entre os homens, nesses mesmos períodos, a subutilização diminuiu: para os não negros passou de 19,1% para 18,5% e, entre os negros, de 29,4% para 26,9%.

Considerando apenas os subocupados, que são aqueles que trabalham menos de 40 horas semanais e que gostariam de ter uma jornada maior, a proporção de negros (8,4%) e negras (13,5%) superou a de não negros homens (5,0%) e mulheres (8,2%), no 2º trimestre de 2021. Um ano depois do início da pandemia, sem que a vacinação tenha atingido 100% da população, o mercado de trabalho seguiu cambaleando, em sintonia com a economia que não cresceu: o assalariamento sem carteira no setor privado (16,0%), o trabalho doméstico sem carteira (14,9%), o trabalho por conta própria (14,7%) e o trabalho familiar (8,7%) foram os que mais se ampliaram, quando se compara o 2º trimestre de 2021 com o mesmo período de 2020. O mercado de trabalho foi incapaz de gerar postos protegidos: o emprego com carteira no setor privado não variou (0,1%); no setor público, cresceu 1,74%; e o trabalho doméstico com carteira diminuiu cerca de 7,0%.

Além de perderem empregos, negros e negras também têm mais dificuldade em recuperar postos de trabalho.

Para as mulheres negras, o emprego no setor público com carteira cresceu quase 20,0%; o trabalho doméstico sem carteira aumentou 16,8%; e o conta-própria, 15,8%. Para o homem negro, houve elevação do assalariamento sem carteira no setor privado (23,4%) e do trabalho por conta-própria (13,5%). No caso dos não negros, para os homens, o aumento mais expressivo ocorreu no assalariamento sem carteira no setor privado (13,6%) e no trabalho conta própria (12,2%), enquanto para as mulheres, houve ampliação de 20,5% no trabalho por conta própria e de 12,8% no emprego doméstico sem proteção legal. Informalidade crescente para todos os trabalhadores, negros e não negros, é reflexo da desconfiança sobre o futuro do país e da ausência de rumo da economia brasileira, problema acentuado pelos efeitos da reforma trabalhista, que não gerou empregos e arrancou direitos dos trabalhadores, e pela pandemia, que acontece diante de um estado omisso diante das dificuldades crescentes dos brasileiros.

Em relação aos rendimentos, na comparação com o momento pré-pandemia, primeiro trimestre de 2020, registrou-se queda média de -2,40% para todos os ocupados, no segundo trimestre de 2021. No caso dos homens, as reduções foram maiores: os rendimentos médios dos negros diminuíram -3,2% e dos não negros, -5,7%. Entre as mulheres, a queda foi de -1,9% para as não negras. Já o rendimento médio das negras apresentou alta de 1,5%. Em relação ao início do isolamento, no segundo trimestre de 2020, o decréscimo médio de rendimentos foi de 6,9%. Por sexo e raça, todos os segmentos tiveram queda: homens não negros (-7,5%), mulheres não negras (-6,6%), homens negros (-6,4%) e mulheres negras (-4,7%). Para se entender a queda acentuada, é necessário lembrar que, no início do isolamento social, em abril, grande parte dos trabalhadores informais e com menores salários perdeu as ocupações. Com isso, a média de rendimentos ficou mais alta do que no 1º trimestre de 2020, pois quem continuou empregado era majoritariamente assalariado com carteira e rendimentos médios superiores à média vigente – e foi trabalhar em esquema de home office. Nos dois últimos trimestres de 2020, muitas pessoas começaram a trabalhar, geralmente em postos informais com baixos rendimentos. Assim, quando se comparam os rendimentos do 2º trimestre de 2021 com os auferidos no início do isolamento, a queda foi mais acentuada. As médias de rendimento também comprovam a desigualdade de remuneração por cor/raça. Enquanto homens e mulheres não negros receberam em média R$ 3.471,00 e R$ 2.674, respectivamente, no 2º trimestre de 2021, trabalhadores negros ganharam R$ 1.968 e trabalhadoras negras, R$ 1.617.

Confira o levantamento no site do Dieese: https://www.dieese.org.br/boletimespecial/2021/conscienciaNegra.html

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.