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Pode ser marketing, mas muitos se identificaram com o movimento

 

Opinião

Hoje pela manhã, um outdoor na Rua Santa Cecília, no bairro Vista Alegre em Curitiba, causou muita repercussão nas redes sociais. A campanha publicitária “Movimento pela Reforma de Direitos” pede o fim dos privilégios para pessoas com deficiência. Com reivindicações do tipo “50% menos de vagas de estacionamento para pessoas com deficiência” e “fim de cotas para pessoas com deficiências em concursos públicos” postadas em sua fan page, o tal movimento gerou debates no Facebook durante toda a segunda feira.

É possível (e assim espero) que o outdoor faça parte de uma campanha publicitária alusiva ao Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, comemorado na próxima quinta-feira (03/12). O Paraná já protagonizou iniciativas parecidas que viralizaram na web, como o carro que foi adesivado depois que o motorista estacionou em uma vaga preferencial em Maringá. Uma ação educativa que teve muita repercussão.

O fato é que, sendo uma ação publicitária ou não, a página do tal movimento recebeu uma enxurrada de comentários durante todo o dia. A grande maioria deles condenando veementemente a iniciativa. Porém, infelizmente, muitos se identificaram com a causa.

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Os argumentos para apoiar o movimento são os mais variados e, como sempre, absolutamente rasos e reflexos de um egoísmo crônico. “País das cotas”, “terra dos privilégios”, “direitos iguais” e, é claro, “maldito PT” (esse aparece até em matérias sobre a culinária da Mongólia).

Por volta das 18h a página tinha mais de 800 likes. Salvo alguns colegas de imprensas e alguns curiosos que curtiram a fan page para ficar à par das postagens, acredito que a maioria dos seguidores realmente se identificou com a causa. Milhares de usuários da internet (os famosos haters) já demonstraram que se sentem seguros para dar voz ao que têm de pior sob uma suposta “proteção” da rede.

Quando alguém comunga com uma iniciativa como essa só demonstra desconhecer que os direitos das pessoas com deficiência são exatamente os mesmos dos demais cidadãos. O que ocorre, no entanto, é que para eles exercerem muitos desses direitos torna-se indispensável a adoção de medidas especiais. O exercício pleno do direito de ir e vir das pessoas com deficiência, por exemplo, quase sempre depende da remoção das barreiras ambientais. Não existe uma escala de valores em relação à importância dos direitos das pessoas com deficiências que devem ser observados e cujo exercício devem ser garantidos para que a sua inclusão seja assegurada. Não é possível abrir mão de um deles, sem prejuízo de todos. O exercício dos direitos deve ser garantido de forma integrada aos demais cidadãos.

Na página do polêmico movimento os organizadores destacaram que realizarão uma coletiva de imprensa amanhã (01/12) e o endereço seria passado via in box para os interessados. É bem possível que seja sim uma jogada publicitária (de gosto duvidoso). Mas, fica evidente a identificação de muitas pessoas com causas extremamente egoístas e segregadoras. A falta de respeito e empatia para com o próximo, além de uma visão rasa sobre muitos temas, mostra que a web pode ser um espaço repleto de precipitações e de frequentadores que dão de ombros para a razão, bradando ao ventos (ou aos bytes, péssima piadinha), que sua verdade é absoluta e a terra de Zuckerberg lhe dá direitos plenos de apoiar o fim de direitos verdadeiros.

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.