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PM mata jovem na Portelinha e comunidade teme violência do Estado

Na noite de 11 de setembro, Mateus Silva Noga, de 22 anos de idade, foi assassinado pela Guarda Municipal de Curitiba no Largo da Ordem, bairro do Centro da Capital. Durante uma confusão, quando a GM tentava dispersar violentamente um grupo de jovens que se divertia no local, Mateus foi baleado por um Guarda e faleceu. Sua morte repercutiu em veículos de imprensa e gerou protestos.

Dois dias depois, em 13 de setembro, mais um jovem de 22 anos era assassinado, desta vez pela Policia Militar do Paraná. Este, porém, tombou longe das câmeras de segurança e seu suspiro derradeiro se deu em uma viela escura da Portelinha, comunidade que fica na região do bairro Santa Quitéria, também na capital paranaense.

Dele, pouco se sabe. Apenas que se chamava Gabriel e que morava há pouco tempo na comunidade. Sem história, sem família, sem velório. Provavelmente enterrado como indigente em uma cova municipal. A versão dele já não será ouvida e o que aconteceu foi registrado como “auto de resistência”.

Aquela terça-feira foi violenta na Portelinha. Muitos tiros, ameaças e agressões. Segundo os moradores – que não terão suas identidades reveladas – a polícia agrediu, naquela noite, mais três jovens. “Eles apanharam com chutes, tapas na cara e pauladas”, revelam.

Apesar da operação estrondosa, dela pouco se sabe, ou melhor, pouco se fala. O silencio é uma necessidade básica daqueles que moram na periferia. Assim, o relato que mais repercute sempre é o dado pela Polícia.

A versão para a morte de Gabriel, fornecida pela PM a um veículo de imprensa, é de que os policiais foram até a comunidade para checar uma denúncia de tráfico de drogas e o jovem teria reagido à abordagem.         

Moradores contam que mais de 20 viaturas participaram da ocorrência. Na mesma noite a PM teria dado um recado: “daqui pra frente, vai ser assim”.

Mas na Portelinha sempre foi assim. Primeiro o tapa, depois a pergunta. “A PM sempre agrediu pessoas aqui na comunidade. Mesmo durante o dia isso acontece, se for a noite é pior ainda”, dizem os moradores.  

No último dia 12, amigos, familiares, representantes de movimentos sociais e vereadores/as participaram de um protesto contra a morte de Mateus Silva Noga. Ele aconteceu no mesmo local onde o jovem foi assassinado com um tiro de espingarda Calibre 12. Os Manifestantes levaram cartazes de repúdio à violência da Guarda Municipal de Curitiba e também pedidos de justiça e posicionamento do Prefeito de Curitiba que silenciou sobre o assunto. Muitos jovens ali presentes também seguravam flores e velas em memória de Mateus. A família do jovem expressou sua revolta e o pedido à Prefeitura que seja feita a divulgação das imagens das câmeras do Largo da Ordem, para que os culpados sejam penalizados.  

Também houve um protesto contra a morte de Gabriel. Ele aconteceu na Portelinha na noite de terça-feira (14).

Depois de assassinados, Mateus e Gabriel se tornaram números. Compõem a macabra matemática dos “autos de resistência”. O número de mortes em  supostos confrontos com policiais civis e militares e guardas municipais aumentou 57% no Paraná nos últimos seis anos. Quem revela é um levantamento do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Paraná (MPPR).

No primeiro semestre de 2021, segundo o Gaeco, foram registradas 210 mortes, foram 134 no mesmo período de 2015. O levantamento mostra também que entre as mortes promovidas pela Polícia Militar a maioria dos óbitos foi registrada em pessoas com idades entre 18 e 29 anos (53,36% do total). Há informações sobre 11 vítimas com idades entre 13 e 17 anos e duas com 60 anos ou mais. Quando o detalhamento é feito pela cor da pele das vítimas, metade das mortes foi de pardos, 104 óbitos, e pouco mais de 40% das ocorrências envolveu confronto com pessoas brancas, 89 vítimas.

Curitiba foi a cidade paranaense com maior registro de mortes em supostos confrontos, com 45 ocorrências.

O Parágrafo 2 entrou em contato a Assessoria de Imprensa da Policia Militar pedindo uma nota de esclarecimento sobre as denúncias trazidas nesta reportagem. Mas não recebemos resposta. 

 

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.