Entre janeiro de 2022 e outubro de 2023 foram registrados 2.336 Boletins de Ocorrência (Bos) por intolerância religiosa no estado do Paraná. Os dados foram obtidos pelo Parágrafo 2 junto à Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná (SESP/PR) via Lei de Acesso à Informação (Lai).
Estes dados não computam as denúncias encaminhadas ao Disque 100, que é um canal do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. O que o Parágrafo 2 levantou são Boletins de Ocorrência registrados em delegacias de todo o Paraná por causa de crimes de intolerância religiosa.
Os dados levantados trazem informações sobre ano das ocorrências, mês, dia da semana, tipo de crime, termos utilizados, tipo da violência, entre outros.
Em 2022 foram registrados 1.102 e em 2023 foram 1.234, até o mês de outubro.
No pedido de informação encaminhado à SESP, o Parágrafo solicitou informações sobre a religião das vítimas dos crimes. Porém, nos BOs não são colhidas informações sobre os credos religiosos de vítimas ou autores. Assim, o que a Secretaria de Segurança enviou são elementos que podem dar a possibilidade de interpretação sobre quais as religiões dos envolvidos nas ocorrências. Neste levantamento, vamos nos referir a estes termos como “palavras-chave”.
Os crimes
Esse conjunto de informações traz que crimes foram cometidos e seu termo jurídico.
– Crimes contra a pessoa: 1.348 ocorrências
– LEI 7.716/89 – Crimes de preconceito de raça ou de cor: 862 ocorrências
A Lei nº 7.716/89, portanto, tipifica uma gama de condutas que caracterizam crimes de intolerância, inclusive religiosa. Ela, nesse aspecto, estabelece punição aos crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
– Crimes contra sentimento religioso e contra respeito aos mortos: 74 ocorrências
– LEI 4.898/65 – Abuso de autoridade: 51 ocorrências
Nome jurídico
– Injuria referente a raça/cor/etnia/religião/origem: 1.175 ocorrências
– Injuria referentes a religião ou a condição de pessoa idosa ou com deficiência: 173 ocorrências
– Praticar/induzir/incitar discriminação/preconceito: 235 ocorrências
– Ultraje a Culto: 73 ocorrências
– Abuso – atentado ao livre exercício culto religioso: 51 ocorrências
– Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional: 619 ocorrências
Por cidade
Curitiba é a cidade onde mais se registraram boletins de ocorrência por intolerância religiosa, com 397 BOs entre janeiro de 2022 e outubro de 2023.
E entre as cidades com mais casos de intolerância estão: Foz do Iguaçu – 109; Londrina- 103; Ponta Grossa – 87; Cascavel -79; São José dos Pinhais – 57; Guarapuava -41; Araucária – 37; Cianorte -26; Maringá- 24.
Confira no gráfico:
Dia da semana
Os domingos foram os dias da semana com mais registros de Boletins de Ocorrência por intolerância religiosa, foram 417 desde o início de 2022. Depois vêm os sábados com 362; as quartas com 340; as segundas com 329; as quintas também com 329; as sextas com 309 e as terças com 250 ocorrências.
Aqui cabe destacar que alguns boletins são registrados alguns dias depois dos crimes cometidos.
Palavras-chave
Estes termos estavam presentes em 803 Boletins de Ocorrência.
Agnóstico: 8 / Bíblia: 25/ Buda: 01/ Candomblé: 03/ Capeta: 37/ Crente: 28/ Cristão: 01
Cristo: 25/ Culto: 82/ Demônio: 51/ Diabo: 161/ Espírito: 03/ Espiritual: 02/ Igreja: 66/ Islã: 05/ Judeu: 03/ Macumba: 146/ Mesquita: 08/ Muçulmano: 04/ Oferenda: 03/ Oração: 19/ Prece: 08/ Religião: 109/ Sagrado: 02/ Saravá: 02/ Umbanda: 01/
Confira na arte as palavras mais encontradas nos BOs
Raça
No levantamento também consta informação sobre a raça das vítimas. Pretos e pardos somam maioria. Preta 415; Parda 648; Branca 999; Amarela: 15; Não informado: 216.
Dos 2.336 Boletins, apenas 2.293 trazem essas informações.
Confira no gráfico:
Caso Athanásio
Ouça o Podcast Rádio Parágrafo 2 o “Caso Athanásio”. Partindo da prisão de um pai de santo na Região Metropolitana de Curitiba, no ano de 1984, em um formato Storytelling, o podcast vai analisar e debater a relação da imprensa com os cultos de matriz africana ao longo de quase dois séculos.
Athanásio de Souza Bueno era um pai de santo que foi preso na cidade de Piraquara, em junho de 1984. Na época, os principais jornais de Curitiba repercutiram a prisão durante semanas. O pai de santo foi acusado, entre outros crimes, de promover orgias, lesbianismo, incesto e violência sexual. Jornais impressos de Curitiba estampavam em suas capas a prisão com manchetes como “Descoberto o templo do Diabo” e “Valia de tudo na seita do demônio”.
O podcast vai analisar a cobertura feita pela imprensa na época e para isso ouviu jornalistas que cobriram o caso, personagens que vivenciaram essa história, pesquisadores de comunicação, entre outros. A intenção é responder, partindo da prisão do pai de santo, como foi a relação da imprensa e de outros setores da sociedade como a polícia e a política, com os cultos de matriz africana em Curitiba e também em outras cidades do país. Sobre a capital paranaense, o Caso Athanásio traz ainda a análise de notícias de jornais desde o século XIX e demonstra como o racismo e o preconceito religioso nortearam o trabalho da imprensa sobre temas ligados à umbanda e ao candomblé.
Ouça o podcast nas seguintes plataformas:
Spotify: https://open.spotify.com/episode/11YIiBewdCPtTAGmWdT69D?si=TsRwqHkgTui7s8-nJeWu3w
Deezer: https://deezer.page.link/myNJ8hHUQdeRf5Yv9
Amazon Music: https://music.amazon.com.br/podcasts/04d5a456-a4bd-4ce6-9b10-c5a3db2f4a37/r%C3%A1dio-par%C3%A1grafo-2—o-caso-athan%C3%A1sio
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