Foto: Marco Santos/Agência Pará.
O estado do Paraná é o sétimo maior consumidor dos remédios que compõem o chamado “Kit Covid”. Os dados fazem parte do levantamento da Agência Pública de Jornalismo Investigativo e mostra que a cada 100 mil paranaenses foram vendidas em média 4.261 caixas desses medicamentos entre março de 2020 e março de 2021.
Para o levantamento, foram exportados os dados públicos referentes à venda de medicamentos industrializados controlados e antimicrobianos de janeiro de 2018 a março de 2021. O período considerado para as análises referentes à pandemia foi de março de 2020 a março de 2021.
A sondagem revela que farmácias brasileiras venderam mais de 52 milhões de comprimidos de quatro medicamentos do chamado “kit covid” em um ano de pandemia: sulfato de hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e nitazoxanida. Segundo a Agência Pública, foram vendidos mais de 6,6 milhões de frascos e caixas desses quatro remédios de março de 2020 a março de 2021.
Os números representam apenas as vendas desses medicamentos em farmácias privadas, isto é, não incluem o que foi aplicado em hospitais ou dispensado em postos do Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com o levantamento da Pública, dentre os quatro medicamentos, o que teve mais comprimidos vendidos foi a hidroxicloroquina — que o presidente Bolsonaro anunciou tomar quando foi diagnosticado com covid-19. Foram mais de 32 milhões de comprimidos vendidos desde março de 2020, um total de 1,3 milhão de caixas.
Em segundo lugar nas vendas, a azitromicina, um antibiótico, teve mais de 13 milhões de comprimidos vendidos em farmácias brasileiras no mesmo período — mais de 3 milhões de caixas.
O Paraná, aparece como o sétimo estado onde os medicamentos que compõem o chamado “kit covid” foram mais vendidos. O estado fica atrás de Goiás, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rondônia.
Veja o gráfico:
Ineficácia contra a Covid
Alardeados como eficazes (principalmente por Jair Bolsonaro) os medicamentos do kit covid não tem eficácia comprovada contra o Coronavírus. No Brasil, diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmaram que não há medicamentos para prevenir ou tratar precocemente a doença; a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) não recomenda o tratamento e a Associação Médica Brasileira (AMB) publicou que os quatro medicamentos do kit não possuem eficácia científica comprovada e deveriam ser banidos do tratamento da covid-19. O Conselho Federal de Medicina, contudo, diz não apoiar nem condenar o tratamento precoce e defende que médicos podem definir o melhor tratamento para os pacientes.
Distribuição em Curitiba
Em março, o Parágrafo 2 noticiou que Curitiba ganhou uma iniciativa chamada “Sociedade Contra a Covid” que é promovida pelo Programa de Voluntariado Paranaense (Provopar) e tem, destacado em um de seus materiais de divulgação, a entrega de “kits de tratamento precoce de forma gratuita”.
A matéria suscitou uma denúncia da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) que enviou uma “Notícia de Fato” ao Ministério Público Paranaense. Na denúncia, a ABJD destaca a falta de comprovação científica dos medicamentos que compõem o kit contra a Covid e também os riscos de efeitos colaterais causados por eles na saúde dos pacientes.