Últimas Notícias
Home » reportagens » Processos de Cura: a religiosidade como arma de enfrentamento no isolamento social e na pandemia – parte 3

Processos de Cura: a religiosidade como arma de enfrentamento no isolamento social e na pandemia – parte 3

O Socorro espiritual – Os Grandes atos estão nas pequenas ações

A crença nos ajuda a suportar momentos difíceis e, apesar de termos o socorro do plano espiritual, não devemos pautar-nos apenas nesse subterfugio. As lideranças religiosas reforçam a importância de seguir as orientações dos órgãos competentes, como a OMS – Organização Mundial da Saúde, promovendo o isolamento social e o afastamento das pessoas do local de comunhão da fé, da igreja, dos templos, dos terreiros e todos os demais. Porém, a prática continua no acolhimento às comunidades, na palavra da boa-fé e no auxílio daqueles ao nosso redor. É preciso persistir e acreditar no potencial humano em superar as adversidades.

De acordo com Pastor Mike Vieira “no momento que soubemos da pandemia, acreditamos nos órgãos que tem autoridade como a OMS. Nós fechamos a igreja e começamos a fazer o distanciamento social e, indiferente da existência do templo, já estávamos direcionados para o atendimento digital. Se falamos sobre a vida quando fazemos um culto para 2.000, devemos pensar que pessoas estão expostas ao risco, preservar e observar as autoridades que vão além da figura do presidente, visto que a OMS está nós dando o que precisamos a proteção da vida, a mensagem chega mesmo que seja pelo meio digital”.

Um dos papéis fundamentais da igreja está na caridade e no cuidado com a comunidade, a entidade em que prega o pastor da Congrega Church arrecadou recursos financeiros e alimentos para conter o avanço das doenças sociais como ansiedade e a depressão. “A questão social começou no auxilio dos refugiados venezuelanos próximos de nós e mantemos até agora, as famílias ficaram vulneráveis gerando ansiedade e a incerteza a comunidade, então, houve a necessidade muito forte de acolhimento por causa da parte econômica e da pandemia, nós procuramos cuidar para que não faltasse comida ou passassem necessidade, conseguimos levantar fundos – recursos financeiros e alimentos – para auxiliar os necessitados e, inclusive, atender os carentes envolta da igreja” explica.

O isolamento, apesar de benéfico para o controle da pandemia e redução do número de infectados, expõe as famílias e coloca a população em estado permanente de alerta. Como enfatiza a irmã Zulmira Alves de Araújo, Irmãs Franciscanas de São José, “estamos passando por sofrimento e muitas vidas foram ceifadas, o povo sofrido, marginalizado, entretanto não temos como passar por este momento sem sofrimento, são muitas famílias expostas. A fé que nos sustenta e ajuda ir além e a religião como instituição, igreja, oferece alimentos e apoio espiritual, sem fé muitas pessoas entram em desespero e fora a pandemia serão muitos sofrimentos, por outro lado temos a esperança de após este momento podermos recomeçar numa sociedade”.

O poder da crença pode ajudar a travessia de forma plena ou reduzindo o sofrimento como alento e um lugar seguro. Contra esta enfermidade presente é essencial a nós fortalecer e criar uma energia vital para levar a mensagem de esperança a outras pessoas numa corrente de solidariedade. Segundo Andrey Luna Giron, praticante do Budismo Nicheren Daishonin da BSGI, “essa prática de coragem, de reverberação, se manifesta a cada momento na vida de forma real e concreta, a iluminação é algo real e podemos combater este sofrimento e incentivar e, inspirar, outras pessoas. A força, essa espiritualidade, transforma o sofrimento e nos evidencia a religiosidade em forma de energia e sabedoria”, diz.

Para Cláudio Henrique de Castro, Espírita, não estamos a sós nesta jornada e recebemos o auxílio do mundo espiritual. Principalmente, as pessoas que se encontram em desespero causando o desequilibro do orbe procurem a proximidade dos seus protetores. Há um socorro do mundo espiritual um trabalho muito grande em decorrência desse desencarne coletivo como acontece em algumas tragédias naturais e guerras, uma mobilização a procura do equilíbrio. Mantermos a calma, oremos e pensemos positivo e iremos passar por isso. Nos aproximemos dos nossos guias espirituais, nossos santos, pedindo que nos oriente, não obstante devemos ter a mente tranquila, serena, de não de aceitação, mas que conforte essa situação transitória fazendo que se prolongue os dias na terra e entremos num mundo melhor a frente”, defende.

Cláudio explica que na promessa do novo mundo a pessoa pode apresentar estados diferentes de espírito em casa trancada, sofrendo e angustiada, ou, tranquila e serena, perceber as coisas ao seu redor e aproveitar para crescer. “Eu mesmo estou rezando muito, fazia tempo que não rezava tanto assim, pensado mais, lido, me voltado mais ao estudo das religiões. O papel da religião é aproximar os fiéis de Deus ou das entidades que creem como divinas, para não excluir as monoteístas, empreguem a solidariedade, fraternidade e o amor, que irá fazer com que os sofrimentos sejam vencidos com paz e serenidade, amparar e dar o sentido da transformação, então a dor será ilusória, apesar das mortes serem terríveis” pondera.

O pastor Mike Vieira complementa o ponto de vista com a proposta de tirar aprendizado e lições valiosas da pandemia. “A forma como iremos se comportar definirá como sairemos desse momento, a partir de hoje a igreja terá que preservar a vida  olhar pela ótica da crença e ser comunidade, dar o máximo as pessoas próximas, olhar os nossos vizinhos ao lado e oferecer uma transformação já é um grande passo,  olhar para aqueles que não são vistos”. Segundo o pastor, a igreja se distanciou dos grandes templos, mas ela está nos gestos de carinho e de amor ao próximo. Prega a humildade, reconhecendo a disparidade diante de templos para 5.000 pessoas que não passam de vaidade, pois conseguimos nos alimentar da doutrina até mesmo em casa. Ele finaliza sua fala pedindo resiliência e escuta, reconhecendo que diante da criação não somos nada. “São várias vozes deixando e tornando a mente confusa devemos escutar a voz sutil do amor e do cuidado, lutar pela preservação, pois não temos o domínio sobre todas a coisas, nós dependemos da fé e do nosso cuidado, a natureza está sendo destruída e devemos olhar para o que o poder superior criou e cuidar da criação”. 

A irmã Zulmira Alves de Araújo também pede sobriedade e perseverança a saber que a vida aqui é apenas uma passagem. “Somos convidados a ajudar os que mais precisam, pobres, os imigrantes, a população em situação de rua, os mais afetados, são nestes momentos que percebemos a solidariedade, […]pois entre a vida e morte não se leva nada” finaliza.

 Embora, as doutrinas tenham formas diferentes de explicar a pandemia e expressar a fé, a crença no propósito maior as une e, independente da doutrina, é na comunhão com o poder superior e no respeito pela vida que nossos caminhos se cruzam.  Toda a crise ou momento de sofrimento é também oportunidade de transformar e construir uma sociedade em que a vida é posta em primeiro lugar, usar os preceitos da religião e buscar o bem comum e a dignidade humana, numa concepção de sociedade justa com amor ao próximo, porque a melhor religião é aquela que nos ajuda a ser melhores.

Fontes:

  • Cláudio Henrique de Castro, Doutor em Direito e estudioso das religiões e do direito canônico, espírita. Frequenta a Umbanda e o Kardecismo.
  • Mike Vieira, Pastor da Igreja Congrega Church, Ativista Social, há 10 anos.
  • Irmã Zulmira Alves de Araújo, Igreja Católica, Irmãs Franciscanas de São José.

Leia também as partes 1 e 2:

https://paragrafo2.com.br/2020/05/07/processos-de-cura-a-religiosidade-como-arma-de-enfrentamento-no-isolamento-social-e-na-pandemia-parte-1/
https://paragrafo2.com.br/2020/05/09/odiadeamanha/

About Mario Luiz Costa Junior

Jornalista e Músico, integrante colaborador do Parágrafo 2. Cronista urbano e repórter de cultura e sociedade, tem como referência os textos literários e jornalísticos de Gabriel Garcia Márquez e Nelson Rodrigues, da lírica de Cartola e da confluência de outras artes, como o cinema, no retrato do cotidiano no enfoque da notícia. Acredita que viver é um ato resiliente no caminho de pedra para a luz.