*Esse texto é um relato de experiência de um jovem professor da rede pública do Paraná que é contratado em regime de PSS. As informações e indicações todas são feitas com base nas experiências vividas pelo docente.
O ano de 2024 tem sido intenso. A luta dos professores sempre foi constante, mas esse ano, com a questão da privatização de escolas paranaenses, a grande mobilização feita através da greve, e mesmo agora, alguns meses depois, os docentes continuam se mobilizando contrariamente ao “Parceiro da Escola”. Buscando formas de conscientização da comunidade escolar, apresentando os problemas do projeto e desmentindo as propagandas e entrevistas dadas pelos representantes do governo estadual, muitos professores estão firmas contra o programa.
Esse movimento de privatização segue o projeto educacional do governo de Carlos Massa Ratinho Júnior, que desde que assumiu o cargo em janeiro de 2019, vem adotando estratégias que dificultam o trabalho de professores como a implementação de diferentes aplicativos e plataformas educacionais que os estudantes relatam não contribuir para suas aprendizagens, a padronização do currículo e aplicação de avaliações externas que regulam e exerce um controle sobre o trabalho docente.
Coincidentemente, eu comecei minha trajetória profissional dentro desse projeto de escola do atual governo, e sempre ouvi comentários de meus colegas – mais comuns recentemente – que reclamam que tem ficado cada vez mais difícil ser professor com formas de controle mais sofisticadas e com a limitação da atuação docente. Essa limitação se dá de diferentes formas, e em alguns componentes curriculares ela é mais evidente, porque os professores devem cumprir metas de acesso e de realização de atividades de plataformas de “aprendizagem”, e por isso devem levar os estudantes para a sala de informática para manter os índices altos, o que faz com que eles não tenham tempo em sala para desenvolver realmente as atividades que satisfaçam as necessidades de aprendizagem dos estudantes.
Diante de toda a burocratização do ensino, de todas as exigências feitas pelo governo, da cobrança das chefias de núcleos regionais, e da falta de valorização dos professores, meus colegas costumam chegar até mim e dizer coisas como: “você é novo ainda, não trabalhe como professor. Se eu fosse jovem, eu trabalharia com outra coisa”, ou ainda: “eu fico com pena de vocês que estão começando, porque se fosse eu, não seguiria nessa profissão”. No entanto, o curioso – para falar o mínimo – é que a maioria dos professores que fazem esse tipo de comentário são excelentes profissionais, são os docentes que sempre levam as atividades planejadas, que buscam identificar as reais necessidades dos estudantes, que cobram a qualidade dos trabalhos, que lutam, de fato, por uma educação pública de qualidade.
Esse ponto de “contradição” é o que chama a atenção. Será que esses professores realmente não queriam ser professores, ou eles se sentem dessa forma por que não conseguem ter o reconhecimento de todos seus esforços? Será que eles não gostam da docência, ou só estão cansados de não serem valorizados?
Claro que é improvável que um governo com uma política educacional como a posta em prática no Paraná, desenvolva uma ação de valorização e reconhecimento do trabalho de professores e professoras. Mas, ainda assim, devemos buscar formas de valorização dos docentes que lutam diuturnamente pela escola pública brasileira. Sim, é necessário que o Estado faça esse trabalho, mas nós também precisamos fazer nossa parte.
Como construir uma cultura de valorização da Escola e dos professores? Eis o desafio. Se existem estudos na academia que indicam práticas de valorização docente, que encontremos meios para que esses conhecimentos cheguem ao máximo de equipes diretivas e pedagógicas possíveis, para que o trabalho seja feito nas formações docentes. Mas se não há ainda investigações sobre o assunto, que a academia comece a olhar para essas questões. Que os sindicatos de professores promovam cartilhas com instruções para a realização de atividades de valorização docente, que as organizações estudantis ajudem os grêmios escolares a atuarem em seus colégios. Essa frente de luta pela valorização profissional precisa da ajude de todos, para que, um dia, a cultura e o senso comum realmente valorizem os professores.
Nossos bons professores paranaenses lutam, todos os dias, tanto para que os estudantes sejam educados e formados integralmente, como contra um governo com um projeto educacional de desmonte da educação. Precisamos encontrar formas de reconhecer o valor desses profissionais e de motivar nossos colegas que, apesar do cansaço e da desmotivação, nunca deixam de lutar pela educação pública brasileira.
Texto do professor Lucas Fíngolo Claras, docente de História PSS do estado do Paraná, mestre em Educação pela PUC-PR e doutorando em Educação pela mesma instituição.
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