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2102516N BRAZIL V SPAIN

“Olhe para os lados, garoto. Só da Botafogo!”

Histórias da Copa 

Pelé arriscou um chute aos 25 minutos do primeiro tempo, e logo depois levou a mão à perna direita. O camisa 10 da Seleção sentiu a virilha após o arremate, dado contra a Tchecoslováquia, no segundo compromisso do Brasil na Copa do Mundo de 1962. Pelé, já considerado o melhor jogador do mundo, estava fora da próxima partida para tristeza da comissão técnica e da torcida e para o horror dos narradores brasileiros da época.

O jogo seguinte seria contra a Espanha, e quem perdesse estaria eliminado. Substituir Pelé não era tarefa fácil. Amarildo, que pelo comportamento irascível fora apelidado de “Possesso”, foi o substituto do melhor jogador do mundo no ataque. O goleador do Botafogo tinha apenas 22 anos, e um pavio tão curto quanto perigoso.

Antes do jogo, foi alertado pelo preparador físico do Brasil, Paulo Amaral: teria que engolir os xingamentos dos espanhóis. Não poderia entrar na pilha. Amarildo entendeu o recado. No entanto, a imensa responsabilidade pesou sobre seus ombros.  Seu jogo não fluía; os passes saíam errado, ele se resumia a uma pilha de nervos. Corria perdido em campo. Ocupar o lugar do melhor do mundo parecia demais para o jovem botafoguense.

A seleção de 62 tinha Nilton Santos na lateral, Didi no meio, Zagallo na ponta-esquerda e Garrincha na direita. Todos “irmãos mais velhos” do Possesso no Glorioso. Por isso, Didi se aproximou de Amarildo, o abraçou pelo ombro e, se aproximando de seu ouvido, deu o conselho vital:

-Olhe para os lados, garoto. Só dá Botafogo!

O jovem atacante parou, fitou todos os craques da Estrela Solitária e, finalmente, se tranquilizou. A partir daí fez o que mais sabia. A Espanha vencia por 1 a 0, mas os dois gols do Possesso – aos 72’ e 86’ – levaram o Brasil adiante na campanha que terminaria no bi-mundial.

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.