Somos o que fazemos, mas somos, principalmente,
o que fazemos para mudar o que somos.
¡Buenos días, América!
Em meu primeiro texto sobre literatura latino-americana para o Parágrafo 2, eu não poderia falar sobre outra pessoa, senão o mais latino escritor de toda a história: Eduardo Galeano.
Algum dia ouvi, em uma música de Zeca Baleiro, o trecho “poeta bom, meu bem, poeta morto”, talvez. É possível que algumas pessoas só tenham dado por sua existência ao saberem de sua morte recente, no dia 13 de abril deste ano. Porém, nós, aqui do Parágrafo, já discutimos e exaltamos juntos, inúmeras vezes, a grandeza desse Uruguaio que, embora tenha falecido, permanece eterno em cada um de nós.
Ele abriu as veias da América Latina, os braços no Livro dos Abraços. Abriu a história dos Filhos dos Dias, a vida de Mulheres que marcaram seu tempo e se tornaram imortais. Mais do que isso, Galeano abriu um novo mundo, um mundo que estava aqui o tempo todo. Ele nos fez olhar para dentro de nós e ver quem realmente somos: apenas rapazes e moças latino-americanos.
Ler Galeano é compreender que, apesar de toda a exploração sofrida, apesar de nos terem subjugado, humilhado e roubado tudo o que tínhamos de material, não nos tiraram a arte. O sangue e o suor derramados fizeram com que brotassem dessa terra grandes gênios: na música, no cinema, nas artes plásticas e, como não poderia deixar de ser, na literatura.
Galeano não é um literato, desses que escrevem romances, é jornalista (desculpem, não me é possível empregar os verbos no passado, não ainda). Uma das intenções do Parágrafo 2 é atrelar o jornalismo à literatura, Galeano faz isso. Ele mostra que a história pode ser contada artisticamente, de modo a não apenas transmitir os fatos, mas fazer-nos senti-los. Aí está a arte literária, na linguagem empregada, no modo como ele nos conta e nos comove.
Chamado de “Líder Bolivariano” por um companheiro de profissão, em uma revista de grande circulação (e que, Veja bem, não citarei o nome, pois não quero que ninguém me Veja como uma pessoa antiética), muitas vezes Galeano era colocado como representante da esquerda, ou, para os reacionários, o comunista, que devia voltar para Cuba, mesmo não sendo cubano. No entanto, observar a história a partir de uma ótica diferente daquela contada em grande parte dos livros de história não significa ser de esquerda, de direita menos ainda, mas isso significa entender o que somos e porque somos.
Ao ler Eduardo Galeano nos transformamos, é impossível não se engrandecer, assim como é impossível perceber de uma só vez sua grandiosidade. Quando leio Galeano, me sinto como Diego, quando viu pela primeira vez o mar:
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
– Me ajuda a olhar! (Do Livro dos Abraços)