Numa tarde rara de sol, porém com aquele ventinho frio típico da capital, a banda Maglore apresentou no SESC Paço da Liberdade, no último dia 19, canções dos discos Veroz (2011), Vamos Pra Rua (2013) e do mais recente trabalho intitulado “III”, eleito um dos melhores álbuns de 2015 pela Rolling Stone, Billboard, MTV e UOL entretenimento, dentre outros veículos.
O power trio Maglore, formado por Teago Oliveira (Voz e Guitarra), Rodrigo Damati (Voz e Baixo) e Felipe Dieder (Voz e Bateria), trouxe todo o volume ao espaço intimista e acolhedor do Paço para uma plateia diferenciada formada por adultos e crianças.
Acostumada a tocar em festivais e casas de shows, a banda entrou pontualmente às 17h quebrando o gelo curitibano “olha gente! nós gostamos de tocar um pouco alto espero que não quebre nada por aqui”, diz Teago, olhando o teto com detalhes de madeira e composto por gravuras que retratam a história de Curitiba.
A apresentação pouco contida aqueceu o clima tímido da cidade, a banda fez ecoar os amplificadores na sala do SESC, para uma plateia comportada em suas cadeiras. Já de início disse a quê veio com “O Sol Chegou”, uma indireta dos baianos para a capital cinza.
A banda tocou com entusiasmo esfuziante durante todo o show, voltando para um bis com mais três músicas. Atenderam todos os fãs, assinaram discos e ainda estavam com a calma e modéstia baiana para conceder esta entrevista. Sem falar na plateia que finalmente pode ficar de pé.
Para Rodrigo “nos somos uma banda brasileira, é pop? O que é? É difícil definir, você até pode imaginar algo contido, mas é um trio, um trio de rock, as letras e os timbres dele (Teago) se destacam quando você escuta o disco, tentamos segurar um pouco, talvez na passagem de som, mas não rolou”, descreve.
O formato da sala do SESC Paço da Liberdade se assemelha a um teatro, pois as pessoas permanecem sentadas durante as apresentações, o que permite outro tipo de interação. “Nós gostamos de tocar alto e se fizer isto numa sala como esta ninguém escuta nada, até tentamos segurar um pouco, é uma forma diferente de se apresentar e este espaço também é lindo,” completa Teago.
O trio em algumas apresentações conta com a participação de amigos como Leonardo Marques (pré-produtor do disco) e Hélio Flanders (Vanguart), o que altera a sonoridade do grupo, segundo o vocalista “a nossa apresentação fica mais classuda, em trio pegamos mais forte, principalmente, eu que gosto de espalhar guitarra pelas músicas, dou uma brecada”, explica.
A primeira vinda da Maglore a cidade foi no lançamento do disco “III” no Jokers Pub, após um ano e meio, o grupo retorna com ingressos esgotados. “Tocar no SESC foi muito bom pra gente, legal! Neste esquema a tarde veio famílias, crianças, enfim todo mundo […] diferente da coisa da casa noturna que só vai maior, no show de hoje os ingressos eram limitados, mas a procura foi grande e a gente percebe que tem um núcleo de público aqui, houve uma procura maior de quando lançamos o disco”, ressalta Oliveira.
O álbum “III” destaca a maturidade sonora da banda, que confluiu com a assinatura com a gravadora Deck Disc como enfatiza Felipe “o disco é mais palatável, acessível, talvez melhor produzido e tivemos um suporte melhor, uma gravadora, estrutura, foi uma conjunção”, pontua. Esta aceitação ou projeção maior permitiu a Maglore participar dos principais festivais como o Festival do Sol e Lollapalooza.
Para o vocalista “muita coisa aconteceu para que este disco chegasse às pessoas, o que calhou de ter uma aceitação e visualização maior, muito pelo disco em si, […] os outros álbuns não tiveram esta oportunidade/possibilidade de chegar às pessoas. Mas, também é aquela coisa nos já vínhamos batendo em algumas traves, o disco abriu portas e a galera começou a ouvir e a entender qual é o som da banda também”, comenta.
Entretanto, o grupo passou por um momento de reformulação, e por dizer incerto, com a saída de dois integrantes, de um quarteto formaram um trio com a entrada de Rodrigo Damati (Voz e Baixo). “Este é um esquema que acaba com a banda, saiu dois caras, o negócio vai acabar! Não tem muito o quê fazer, é só esperar sangrar, mas aconteceu o contrário”, diz Teago.
Para Rodrigo, “música não tem receita, é caminhar e continuar caminhando, parecia um momento adverso quando formou o trio e aconteceu que foi super firme e de crescimento”, completa.
Do primeiro trabalho, Veroz (2011), que culminou com a mudança da banda para São Paulo e dos passos iniciais até firmar-se no circuito musical do país, o grupo amadureceu as composições, letras, harmonia e no processo de entender como funciona este caminho. A Maglore aborda nas canções temas variados que passam por relacionamentos, conversas pessoais e internas, da interação da pessoa com o ambiente e sobre a cultura dos lugares.
Conforme explica o baixista Rodrigo “às vezes quando escrevo parece que é relacionamento, mas é uma conversa pessoal, um papo interno, jogo uma terceira pessoa, até parece, mas muitas vezes é um papo interno/pessoal, não sei digam vocês…”.
Teago reflete que “Vamos Pra Rua (2013) aborda outro tipo de relação da figura com o ambiente, o lugar, o sentimento, a cultura, há certa negação, nega algumas coisas, ou, impositivo, é assim que tem que ser. Com exceção de Motor, este disco fala de outros tipos […] a gente gravou este disco experimentando tudo, quero mexer em todos estes botões aqui, fazer a porra toda”.
Continua, “já nesse disco, com um pouco mais de experiência, nos permitimos falar um pouco mais sobre relacionamentos, uma bobagem vamos falar do que quiser, é aberto e não diz o que você deve sentir, não tem esta necessidade”.
Para Felipe “é interessante fazermos esta reflexão do segundo disco até em alguns momentos a gente precisa desdizer algumas coisas, a banda não é só isso, mas também é isto, no III não tínhamos esta obrigação, obrigação nenhuma, com nada, por isto que é mais leve” salienta.
Os arranjos do trio são concisos e destacam-se pelas linhas distintas, incluindo elementos de cada integrante, que compõe uma unidade no produto final dando uma sonoridade particular e consistência ao trio.
A Maglore tem projetos de lançar um novo disco, talvez, no próximo ano há uma chama criativa, uma vontade de continuar, porém matem uma calma soteropolitana e com um olhar crítico sobre as novas canções.
“Entendemos que é um processo e o novo trabalho não deve ser como uma fotografia e apenas alterar o filtro, os processos são naturais e lentos, cada integrante enxerga de uma forma, o objetivo não deve ser de fazer a banda maior, mas algo construído com cuidado, algo que já enxergamos em algumas canções”, conclui Teago.