Coluna Filosofia Di vina
A discussão do tempo está presente na história da filosofia desde os gregos. Da mitologia à contemporaneidade, o que se tem são especulações que nos fazem pensar que o tempo passa somente dentro de nossa mente, sem ligação nenhuma com o mundo. Esta sucessão de fatos nos dá a impressão de começo, meio e fim, ou, passado, presente e futuro. Mas é provável que não exista externamente à nossa consciência e seja uma condição de percepção das coisas.
O mundo no século XXI parece reforçar este argumento quanto a questão da passagem do tempo. Desde os primórdios da humanidade, com algum esforço, se nota uma evolução histórica que perde totalmente seu sentido se confrontada com os dias que seguem. Feridas mal curadas, acordos fajutos de paz e ressentimentos de todas as ordens voltam à cena a cada dia que “passa”.
Nos E.U.A a questão racial, aparentemente resolvida depois da eleição do primeiro presidente negro do país, parece não estar de acordo com a evolução histórica. Policiais brancos matando a sangue frio negros imobilizados e desarmados despertaram a ira da juventude negra. Uns ocupam as ruas em protesto, outro se assume como franco atirador e mata cinco policias brancos em Dallas.
Na Turquia, a disputa entre dois setores de interesses diferentes faz a população ficar alerta e ser obrigada a escolher entre o sultão de sempre ou um regime militar. Os militares turcos ainda apelam para o clássico golpe militar, não aprenderam nada na escola de mercado contemporânea, que troca chefes de estado sem disparar um tiro. Utilizam ainda soldados armados e tanques de guerra assustando o povo, não sabem que é bem mais vantajoso e eficaz utilizar a ignorância política da própria massa e insuflar um patriotismo vazio com camisas da seleção e patos de borracha.
Na França, um jovem de 31 anos, pai de três crianças, parte para cima da multidão com um caminhão em alta velocidade, matando mais de oitenta pessoas, inclusive muitas crianças iguais àquelas que tinha em casa. O Ocidente se alvoroça, terrorista islâmico é a questão, contra-ataque é a resposta. Embora o assassino estivesse embriagado uma noite antes, não se leva em consideração o fato de o Islã proibir o uso de álcool, o que importa é a origem franco-tunisiana do algoz. O ano de 2001 volta à cena: um país inteiro amarga uma década de guerra e fome na caçada de um terrorista que ninguém viu, nem vivo, nem morto. Enquanto uma população inteira tem que comer pão de grama, bilhões são destinados à guerra contra o terror.
Os mortos de Nice são de fato algo a ser lembrado com tristeza, pois, é injustificável. Mas também é injustificável o silêncio pelos mortos de Oaxaca no México. Um estado que se rebelou contra as “reformas estudantis” e teve de presente saraivadas de metralhadora contra a população civil. Não estamos falando de 2006, e sim 2016, especificamente em junho deste ano. O silêncio da mídia não é novidade, em 1994, enquanto todos desfrutavam do gol de Bebeto embalando o sonho do tetra, 500 mil Ruandeses eram mortos, a maioria com golpes de facão. A mídia seletiva dita os problemas e de quando em vez das soluções.
Sobre a questão das reformas educacionais, o Brasil surge como um grande exemplo de que o tempo não passa. Pipocam projetos medievais como o “Escola sem partido” promovido, obviamente por políticos, com partidos, portanto. Projetos destinados salvar os alunos do pensamento de esquerda, como se todos os professores fossem de esquerda, o que já de cara demonstra que os que pretendem instaurar a mordaça há muito não visitam uma escola pública. Não olhar para escola pública não é um lapso da nossa elite política, não se configura um esquecimento de décadas como parece, antes disso, é um projeto de escola, como diria o saudoso Darcy Ribeiro.
Em outras palavras, aqueles que nunca se importaram com a qualidade das escolas temem que os jovens tomem consciência e exijam direitos negados desde sempre e, ao invés de mudanças significativas para o estudante, é mais fácil calar os professores, este último suspiro da educação pública.
De anacronismos a anacronismos, caminhamos em marcha ré na tortuosa estrada da evolução, sempre com aquela impressão de que o tempo realmente parece não passar.