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O sermão da montanha (Parte 2)

Passei por alguns dias estranhos, perdido em pensamentos, dias vagos, pensando nesta questão evocada, dita, gritada, que chama essa tal de liberdade. Procurei respostas em livros empoeirados da minha estante, talvez, numa bíblia, tem tantas palavras de paz e alento. Quem sabe não esteja lá as respostas? Ignorei. Ainda, atordoado perdi a calma liguei a tevê, assisti ao um filme a lista de Schindler, foram mortos 6 milhões de judeus, Caraca! Ficção, foi bem mais. Mesmo assim silenciei. Diz nas escrituras sagradas que o povo escolhido passaria pelo mar vermelho, no entanto, por desobediência vagaria anos no deserto, veria a terra prometida, mas não entraria. Caiu a ficha, bummm! Essa terra é o Brasil.

Ora, pois que papo de doido é este, rapaz? Perdeu o juízo? Não, meu caro. Ele ainda está por vir…. mas, deixa continuar: o lugar onde temos o lado bom de cada povo no mundo, tem samba, carnaval, folia, maravilhas mil, já dizia Benjor “moro num país tropical abençoado por deus e bonito por natureza”. Elementar meu caro, Watson! Mas, não somos nem parecidos com este povo escolhido, os Hebreus? Somos? Será?

Novamente, procurei as respostas das incógnitas que surgiam e a cada uma, mais dúvidas e questionamentos. No entanto, acordo todos os dias cedo, trabalho ao suor e as lágrimas do meu corpo, multiplico os pães, que nunca falte cerveja, um prato de comida e um samba para dar a cadência e, ainda, se der, senão for pedir muito, aquele amor doce nos finais das tardes, pode ser dessas mulheres dignas, essas tais meretrizes. Sim! esta terra é linda.

Mas, novamente olhei para os céus descrente com as respostas, olhei cegamente para as estrelas que guiam o meu caminho e a lua que nunca me abandona, carinhosa com meu samba e companheira de longa data, desde que o mundo, é mundo. Fui desobediente novamente as palavras do senhor procurando seres de outros planetas vida inteligente, por assim dizer, mas sou narciso e acho feio tudo que não é espelho. Com tanta vida gritando, mugindo, florescendo, cantando, meu violão, filhos e a companheira e não escutei novamente a voz do criador. Cego de Jericó. Trouxe aos meus olhos um ser estranho capaz de amar um igual, do mesmo sexo, o meio termo da criação, bem como um homem e uma mulher, ignorei, bobagens, blasfêmias… loucuras, perdi-me novamente no caminho, voltei aos pensamentos.

Brasileiro, da cor da noite, de uma família de parte imigrantes do nordeste, não posso ser um Hebreu, são muitas honras para quem está acostumado a ter medo de ser preso, silenciado, sufocado, tratado como estranho ou qualquer indigente na rua. Logo, olhei para a casa dos meus irmãos americanos imponentes lá deve ser a terra prometida, Eureka! Tecnologia, tudo de bom vem de lá, consigo ter um carro, casa, ter meus sonhos United States of America, que lugar maravilhoso. Invejei a morada do meu irmão com o meu jardim tão lindo, salve a Amazônia. Por pouco quase bati no décimo mandamento salvo por um drible de craque, Ah! Este meu Swing! Glórias ao senhor.

Mas, pera lá! Tem alguns irmãos meus que não são tão livres assim, no bairro deles tem drogas, armas, violência, e, ainda, mataram dois filhos diretos da linhagem do senhor um de paz e outro a própria fúria do cristo, Martin Luther King Jr. e Malcom X. Mas, podem ser o povo escolhido lutavam pelos os direitos civis, equilibrar a balança, putz! Irmão, mas o blues é tão triste e o rock é do diabo, sendo ele tão negro na sua raiz. Também pudera segregavam as pessoas apenas pela cor da sua pele, banheiros, potes de café, o algodão colhido pelas mãos negras, tanto sofrimento para uma terra chamada de Liberdade. Não deve ser lá. Ficam procurando buracos de minhocas no espaço, com dois olhos e, não apenas um, que tudo vê, uma língua elegante e pujante como as palavras de Winston Churchill, mas novamente foram desobedientes e mataram dois filhos tão iguais na própria carne.

Pois é, Moises disse “não matarás” e acertam no bilhar dos dez mandamentos acertaram no 1, 2, 6, 9, 10… vou jogar no bicho, só deve ser burro. Pecamos novamente. Mas, pelo menos vão a igreja aos domingos e haja oração para tanto pecado, penitência e castidade que não acaba mais, imagina quando chegar a conta de Hiroshima e Nagasaki?

Nestes dias vagos e vazios resolvi ligar a tevê e assistir ao noticiário o rapaz sufocando por 8 minutos e 46 segundos, dizendo eu não consigo respirar, um lugar com tanta música boa e eles estão surdos, não pararam… Pensa no preço da guerra? Uma delegacia em chamas é só o começo…, mas, que papo de doido é esse?

Pensa comigo, fica saindo pra dar rolê em bares cheios em época de quarentena, mata mais um filho meu, não cuida dos meus anjos ainda sem asas e deixa cair destes teus castelos de pedra, corta mais uma árvore, mete fogo na Amazônia, faz mais uma merda, e a terra aquecendo, Curitiba não chove faz um dias… só pra te lembrar! Bate tambor pra falsos Messias presidenciáveis, traz violência e desconforto para cama onde deitamos e depois faça a conta, é simples.  Se é difícil respirar de máscara, imagina com um joelho no seu pescoço durante 8 minutos e 46 segundos?

Se ainda não acredita no castigo, é bom acreditar.

Se não você não entendeu o recado ainda, faz assim extermina mais um indígena, tira os sonhos dos outros maltrata o povo escolhido, quando me pedires um samba pra fazer o teu carnaval, você saberá que mesmo vivendo na terra prometida, implorando e rezando todos os dias, não terá nem o lamento do meu blues. Te dei estes dentes lindos para sorrir, esta voz para me louvar e terá que aprender a fazer tudo isto com os olhos, com o brilho que você nunca teve.

Olha, para a terra da Liberdade e todo este dinheiro, tecnologia, petróleo e o escambau, essa porra toda! Sempre querendo mais e sufocando as pessoas e seus direitos, não são eles que salvam o dia nos filmes? Isto sim é ficção. Não tem a solução pra nada, ficam criando guerra, surdos, cegos e eternos pecadores, compram tudo que vem pela frente chafurdando na lama deste capitalismo desigual… então assim, vou dizer mais uma vez se você ainda não escutou o sermão da montanha, passou da hora, liberdade, dignidade, igualdade, equilíbrio. Meu caro a vida é um samba, balança pra cá pra lá vai para um lado pro outro e não cai e segue em frente, mas fica tirando sonhos e tirando o sono do outro pro teu prazer?

Depois não adianta murmurar, chorar, gritar, te dei um berço lindo, esplêndido, pega e assina embaixo dessa carta porque é responsável pelas suas próprias desgraças e suas bençãos, estúpida raça humana. Quem sabe no dia do Juízo Final eu te perdoe, mas, logo aviso, não vá com muita esperança se não abandonar estes caminhos e saiba há um lugar reservado quente e deserto para aqueles que me desobedecem e um inquilino chato que mora na casa ao lado que fica garfando teu rolê, vai viver com esse reverbe todo, enquanto não houver paz para os filhos meus.

Se ama tanto essa tua liberdade, teu carro, casa, a tua amada, aprenda a respeitar o próximo e os ama como a ti mesmo e cuida da criação esta coisa linda que fiz para apreciares com todos os teus sentidos e mais a batida do coração. Dá um tempo para a minha cabeça que já possui problemas demais para resolver como a fome na África onde toda esta vida nasceu.

E, você sempre querendo mais e me provocando. 

 

Foto destaque: Reverendo Martin Luther King Jr.

 

About Mario Luiz Costa Junior

Jornalista e Músico, integrante colaborador do Parágrafo 2. Cronista urbano e repórter de cultura e sociedade, tem como referência os textos literários e jornalísticos de Gabriel Garcia Márquez e Nelson Rodrigues, da lírica de Cartola e da confluência de outras artes, como o cinema, no retrato do cotidiano no enfoque da notícia. Acredita que viver é um ato resiliente no caminho de pedra para a luz.