Coluna Pão e Pedras: Amenidades e Poesias.
Havia um pescador, dos bons, que tudo entendia do mar. Por muito entender, também o temia e, prevenido que era, amarrava uma corda do barco ao cais, evitando que se perdesse. Todos os dias ocorria o mesmo, prendia-se e, dentro de seu limite – o raio da corda – trazia para casa o alimento necessário. Certa vez, ao olhar para o mar, ficou imaginando:
-Qual será o tamanho do mundo? O que haverá do outro lado do mar?
Estas perguntas passaram a perturbá-lo, cada vez mais. Era uma curiosidade insuportável que mais crescia na medida em que ele, que nunca tinha saído deste porto, imaginava outras paisagens, outras culturas, etnias, coisas que nunca viu. Uma possibilidade mágica se abriu no horizonte, monstros e seres encantados fervilhavam em seus pensamentos, inaugurou-se uma ânsia por novos cheiros, novos sabores, novos sons.
Mas o pescador, que nada sabia do mundo, mas tudo sabia do mar, continuava a prender seu barco no cais, mas agora aumentava o tamanho da corda a cada dia. Uma gama nova de possibilidades de abriu e este passou a conhecer, aos poucos, os povoados circundantes.
Em um dia de muita chuva, lá estava ele, no mar, quando olhou em direção ao continente e nada viu. Sacou da bolsa uma faca e cortou a corda que o ligava ao cais. Depois disso nunca mais foi visto.
Muitos teorizam sobre o seu desaparecimento. Uns dizem que morreu afogado, outros que um tubarão o comeu. Mas a resposta que mais inspira é aquela que diz que alguém que quer de fato conhecer o mundo em que vive, deve desamarrar-se de seus portos seguros e lançar-se ao mar, sob o risco de nunca mais conseguirem voltar…