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O Passaralho da Positivo: Universidade demite dezenas de professores e extingue seis cursos presenciais

Comprada pela Cruzeiro do Sul Educacional no final de 2019, a Universidade Positivo, uma das maiores do estado do Paraná, personificou, na manhã desta quinta feria (16), a ideologia de mercantilização do ensino promovida por grandes conglomerados educacionais que, aos poucos, dominam a educação privada no país. Em reuniões que duraram cerca de 10 minutos, a UP demitiu cerca de 60 professores apenas no período da manhã. As despedidas provavelmente continuem no restante do dia.

As informações são do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpes). Além das sumárias demissões, a UP extinguiu todos os cursos de licenciatura que eram ofertados no modo presencial. Assim, conforme informação repassada ao Sinpes, a universidade não oferecerá mais aulas presenciais nas graduações de Ciências Biológicas, Educação Física, Pedagogia, Química, Matemática e Física.         
Os desligamentos se deram em diversos cursos, tanto nos presenciais quando nos EAD. A estimativa é que cerca de 60 professores e professoras tenham perdido emprego. Na graduação de Biologia 09 professores foram desligados, em Medicina 10, 06 em Psicologia, 03 em Engenharia e Bioprocessos, 08 em Direito, 02 em Publicidade e Propaganda, Odontologia 05, Enfermagem 06, Pedagogia 03, 01 em Design e todos os professores do curso de Educação Física foram despedidos.

Professores e alunos em desespero

Os desligamentos afetaram gravemente a comunidade acadêmica gerando um misto de pânico e decepção entre alunos e docentes. O Centro Acadêmico de Ciências Biológicas (CacBio) destaca que hoje é um dia de grande tristeza para aqueles que são ligados à Universidade Positivo. “A UP tem demitido, desde as 8h30 da manhã, diversos professores sem nenhuma explicação. No meio da pandemia estamos sem informações, no escuro, nosso curso deve ser cancelado. É um dia muito triste e nos sentimos extremamente abalados. Há alunos com mais de 80% do curso de Biologia já concluído, existem estudantes fazendo trabalho de conclusão de curso. E agora?”, questiona o CacBio.

Fernanda Martinez, aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Positivo ressalta que a demissão dos professores é revoltante. “Pagamos as mensalidades de maneira integral inclusive agora na pandemia quando as aulas são apenas online. Os professores que foram desligados eram orientadores de muitos alunos. Estou no quarto ano do meu curso e me formo no final do ano. Minha orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso foi desligada. Isso é uma falta de respeito enorme”, lamenta a acadêmica.

A professora Jezuína Kohls, docente do curso de Pedagogia e que também dava aulas em outras licenciaturas, tinha sete turmas agora durante a pandemia e orientava cinco grupos de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Depois de quatro anos lecionando na UP foi desligada na manhã de hoje depois de uma reunião de 10 minutos. “É um processo de desmonte da educação, a Cruzeiro do Sul dá fim aos cursos presenciais de licenciatura em nome do lucro. As mudanças de currículo propostas pela Cruzeiro do Sul começam a se concretizar hoje e resultam nessa quantidade enorme de demissões. É uma lástima, a Universidade Positivo tinha um nome a zelar, mas hoje vem colocando sua história por água a baixo em nome do lucro”, desabafa.

Já o presidente do Sinpes, Valdyr Perrini, ressalta que as despedidas em plena pandemia demonstram o elevado grau de cinismo e a desumanidade que campeia as cúpulas dos empresários da educação que se aliaram com operadores do mercado financeiro. “No horizonte de medidas que podem ser adotadas pelo Sinpes está a possibilidade de ações coletivas para caracterizar a demissão em massa, ampliando as denúncias já encaminhadas ao Ministério Público do Trabalho com pedido de mediação. Além de prosseguir mobilizando professores e alunos, principais prejudicados com as medidas adotadas, no sentido de reverter esse panorama. A reforma nas leis trabalhistas fez com que a precarização das relações de trabalho se tornasse mais aguda e o sucateamento das condições de trabalho, redução de horas-aula e alterações curriculares sem consulta aos alunos e corpo docente são apenas alguns dos mecanismos utilizados na direção de um profundo rebaixamento na qualidade das Instituições de Ensino. A luta pela educação de qualidade está apenas começando”, diz Perrini.

EAD, a nova “menina dos olhos” dos barões da educação privada

Comprada pela Cruzeiro do Sul Educacional em dezembro de 2019, quando à época tinha cerca de 1,600 empregados e 33 mil alunos, a Universidade Positivo projeta hoje a sombra da mercantilização do ensino promovida por grandes conglomerados educacionais. As mudanças, aos poucos implementadas na universidade pelo grupo, que hoje é o quinto maior da educação privada no país, têm se refletido em constantes demissões, em redução de carga horária de professores e no fortalecimento da modalidade Ensino a Distância.

No início de julho, diversos coordenadores de cursos foram demitidos depois de passarem por uma reunião de cerca de 5 minutos na qual foram informados de seu desligamento. Uma das despedidas foi a Coordenadora do Curso de Biologia da Universidade Positivo, a professora Ana Meyer.           
A grande quantidade de demissões na UP é reflexo da mercantilização do Ensino a Distância que é hoje a menina dos olhos dos “barões da educação”. Cursos de graduação presenciais podem ofertar até 40% das aulas a distância, o limite anterior era de 20%. É isso que determinada uma portaria publicada pelo MEC no final de 2018. Grande grupo educacionais como a Cruzeiro do Sul tem se valido dessa portaria e imposto mudanças na matriz curricular dos cursos na tentativa de reduzir custos e aumentar lucros. A UP pretende implementar, até 2021, uma nova matriz curricular que fortalece o EAD. Com ela, a instituição não ofertará mais cursos totalmente presenciais, ou seja, quase metade das aulas serão à distância. Com isso professores perdem emprego, já que a demanda por mão de obra docente diminui, e os estudantes.

O Parágrafo 2 entrou em contato com a Positivo questionando as demissões e os motivos, mas não recebemos resposta da assessoria de imprensa da UP.

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.