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O esforço de cada manhã

Levantei da cama já era próximo das 08h00 uma sensação de embargo no estômago, de uma noite sem grandes arruaças alcoólicas, até que bem comuns para o meu ritmo. Era dia 22 de outubro, o braço esquerdo puxava durante parte da madrugada, pois é…  Antes de tudo desmoronar a gente sente a casa balançando, as rachaduras até que um dia ela cai.

Ela disse “eu não sou taxi para te levar”, desci as escadas, angustiado, passei pelo portão e na rua apertei o passo para pegar o expresso. Não fui trabalhar melhor ir pra casa, pode ser grave esta dor, mas mal conseguia conter a afobação até chegar, peguei um taxi. Por volta das 8h20 o silêncio açoitava a Rua das Grevíleas, n° 75, a rua do balão nos fundos da Igreja da Glória. Foi o pior dia da minha vida.

Às vezes sento nos bancos ou na beira do chafariz da XV de novembro observo casais, crianças, vendedores ambulantes, músicos de rua, os punks, os hippies, numa sensação de contentamento da solidão, observar à vida e encontrar a razão dela, invisível ao resto do mundo, voyeur a espera do que espero acontecer, nada.

Uma pessoa mística sente-se sensível quando o selfie caminha contrário às expectativas, confronta a própria fé num sentido de reprovação da escolha, refaz tudo do começo ao fim, para entender a dinâmica da própria vida dos caminhos direita e da esquerda, “I hurt myself today”, de joelhos, a cabeça curvada, prostrado em sentido de humildade ou derrota?

“Eu estive de joelhos dobrados conversando com o homem da Galiléia

Ele falou comigo na voz tão doce

Pensei ter ouvido o barulho dos pés do anjo

Ele chamou meu nome e meu coração ficou parado

Quando ele disse: “João vai fazer a Minha vontade!”

(Gods cut you down – Johnny Cash)

 

No dia 14 de maio, 29 de abril, já não importam datas. Se há coincidências ou acasos, o nome dela era Ana, Elisângela, Antonia, Maria, Flávia, porque a idade, porque foi o momento, porque não estava preparado, porque estava bêbado, porque não gostava de mim, porque não esperei, porque tinha outro, porque não soube regar, porque eu não a amava ou me amava, talvez. Trabalhava muito, trabalho pouco, é quem sou? O que sou? Meu cheiro? Minha casa? Minha cor?

 

Por certo tempo você deixa de ir a academia, tocar violão, sair, recolhe-se, fica nublado como uma Curitiba, mesmo no verão. Ao final toda relação virá chorume. Depois com cuidado a natureza se encarrega de por flores, grama, arvores pra enfeitar a paisagem, mas as camadas do aterro estão lá, quem sabe seremos amigos, tem gente que não quero nem ver e outras que nem querem me ver. O pessimismo do sentimento amargo faz o rosto sisudo e o olhar reticente.

 

Do que vale o amar? Muito. Os que fazem uso dele, bem pouco.

 

Como diz o nêmeses do Batman, o Coringa, “você precisa apenas de um dia ruim na sua vida para mudar tudo”. O meu dia ruim perdi alguém que orava, amava, que me valia o olhar, por na cozinha e fazer moqueca aquela moqueca, o quibe e por o limãozinho, os meus outros dias, depois deste, foram apenas iguais a todos os outros, tão indiferentes quanto qualquer outro.

Não quero conhecer o mundo, apenas a mim mesmo e isto já parece tarefa árdua. Acho que estou como este texto incompleto, sem concisão, coesão e com partes faltando, mas assim mesmo, desta forma torta, ainda procuro dizer alguma coisa.

“Eu vou sair para ver o céu e o luar, viver, sorrir, sonhar e dar àquele/aquém saiba cuidar” (Ao Amanhecer – Mário Costa).

About Mario Luiz Costa Junior

Jornalista e Músico, integrante colaborador do Parágrafo 2. Cronista urbano e repórter de cultura e sociedade, tem como referência os textos literários e jornalísticos de Gabriel Garcia Márquez e Nelson Rodrigues, da lírica de Cartola e da confluência de outras artes, como o cinema, no retrato do cotidiano no enfoque da notícia. Acredita que viver é um ato resiliente no caminho de pedra para a luz.