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O amor no coração do confinamento

Tradução Hugo Simões

Se existe uma paixão que fascina o homem, é o amor. Quanto ao uso que dele fazemos no dia-a-dia, as histórias são inumeráveis e cada uma é única. Durante esse período de pandemia, eu me perguntava sobre a vida dos amantes confinados dentro de casa. E como adoro imaginar as coisas, aqui está como imagino uma tal situação. O Brasil, onde vivo há um pouco mais de dois anos, é um país curioso em que o amor parece estar presente por tudo. Cruzamos com ele nos bares apimentados da noite, nos ônibus, parques, sobre a areia fina das praias, nas praças públicas, ou simplesmente na rua, esses amantes, de mãos dadas ou que se beijam a céu aberto.
O mundo não suspeitou que o famoso Coronavírus fosse deixar a pequena cidade de Wuhan para se instalar no resto do mundo. E, desde que esse assassino invisível passou a assustar o planeta, deixando centenas de milhares de mortes em seu rastro, saiu de moda combinar um encontro para tomar um bom café, ou uma boa cerveja, ou para ver um bom filme. Os governos nos confinam. Entre vida e morte, o amor a céu aberto espera. Também já não é mais conveniente flertar com uma garota em um local público. Ops! Distanciamento social! Deixou de ser um gesto sedutor e virou falta de educação. Acontece que em tal situação, uma mulher não mais se sente sexy perto de um cavalheiro, mas ameaçada, pois o senhor Coronavírus flana pelo ar. Sob as máscaras, belos sorrisos se escondem e temos medo.

Em casa, o ambiente não é mais promissor. Vamos começar por aqueles ou aquelas que não vivem com seu (sua) parceiro(a) amoroso(a), mas com sua família. Quando se fica confinado em casa por um longo período, é bem útil ter ao alcance da mão seu (sua) parceiro(a) amoroso(a), uma vez que isso ajuda a matar o tempo e a aliviar o estresse, dentre outras coisas. Caso contrário, a gente acaba se chateando com a família sem nenhum motivo. É certo que acabamos tentando resolver o problema por telefone, só que isso pode causar uma onda de adrenalina que não conseguimos mais controlar sozinhos. E então a gente se vira, como um lobo faminto, para encontrar o outro… Mentimos para a família, que não quer que a gente corra riscos, e enfrentamos o inimigo invisível.
Podemos colocar os parceiros amorosos que moram juntos e as pessoas casadas dentro da mesma categoria. Esses, no começo do confinamento, estão muito animados com a ideia de ficar em casa e aproveitar o tempo livro. Os que não tem filhos, compensam o tempo perdido entre o quarto e o banheiro, e a cozinha, quando bate a fome. Os que têm tentam fazer a mesma coisa se esquivando das crianças, que ocupam muito espaço e se tornaram, durante o confinamento, um pouco mais manhosas que o normal. Elas também precisam de um pouco de atenção. Tirá-las de casa não é uma opção, não tem como largá-las nos braços do monstro que agora vive nas ruas. (Sempre por causa do amor!) Então, quando falta ar em casa e quando aumenta a tensão, nos irritamos com um Sim ou com o um Não. Brigamos por um gesto, ou por um olhar mal colocado. Tentamos desesperadamente apimentar de volta a relação que se tornou meio sem graça. Por fim, sobram os solteiros! Esses, acredito, são os mais divertidos de todos. É minha categoria preferida, porque eles são bons atores e eu adoro teatro.

Eles devem estar com o coração bem fragilizado em um momento como esse. Assim, como abutres famintos, eles correm para sites de relacionamento para encontrar alvos fáceis. Incrivelmente, ou ingenuamente, nesse terreno, a confiança reina. A gente combina de se encontrar em privado depois de uma boa conversa. O assunto acaba em um ou dois dias, por prazer, estresse ou solidão. Brincamos sem máscara, mas lavamos as mãos. Uma pena se o Coronavírus se convida para a festa. O amor tem seus motivos que o Coronavírus não entende. Assim, quando as coisas voltarem a seu curso normal, confrontaremos as consequências do confinamento. Os partos indesejados, as mortes emocionais, as relações terminadas e os novos amantes. E as pessoas recomeçarão a escrever suas histórias de amor a céu aberto!

Carlile Max Dominique Cérilia


 

About Carlile Cerilia

Carlile Max Dominique CERILIA, nascido em Petit-Goâven no Haiti, é um jovem poeta e escritor. Caminha quando não está lendo ou escrevendo. Gosta de se misturar com as paisagens: árvores, pessoas e animais. Ama cinema e música clássica. Lê Jean-Jacques Rousseau, Albert Camus, Victor Hugo, Voltaire, Dany Laferrière, Shakespeare. Hoje estuda Literatura no CREL (Centro de Pesquisa e Estudos Literários); Departamento, ANA (Narrator Apprentice Workshop). É imigrante e mora no Brasil há alguns meses.