Últimas Notícias
Home » colunistas » No caminho de pedra até a luz

No caminho de pedra até a luz

Por Mário Luiz Costa Jr.

Tem um momento na vida, na vida de todo mundo, que você explode. A balança pende apenas para um dos lados, o desequilíbrio pela corda bamba do bêbado e o equilibrista, viver na ilusão no encolhimento na fuga constante, ou, no malabarismo entre o real e o absurdo. O ápice de qualquer coisa é o declínio do momento seguinte. Seja quem for, de Fábio Assunção ou Casagrande com as drogas, atleta e ator, Ricardo Boechat ou Pedro Bial, jornalistas de referência, ou, até o representante da fé Padre Marcelo Rossi, com depressão. Se alguém dentre vós passou incólume a esta vida, atire a primeira pedra de hipocrisia.

João de Deus, médium e curador, abusou de mais de 300 mulheres. Abusou da fragilidade humana, usurpou a esperança no momento menor, fez de sapatos e roupas brancas, trajado de médico, de falso profeta, usou da fé alheia sem sentir remorso de quem, nas limitações momentâneas, procurava a cura, o remédio pra tão abrupta dor. Padres, pastores, médiuns, aqueles ditos encarregados pela unção divina de guiar almas e corpos pelo caminho de pedra até luz e na cura de seus males, se apresentam distantes, muito distantes, do casebre e da manjedoura, do evangelho que prega a humildade, o perdão, a aceitação, o jugo suave e o fardo leve.

Estes representantes estão presos às vontades e a volúpia, em construções de cúpulas douradas, rodeados de diamantes, dólares e poder, e, ainda, do ilusório e torpe poder de decidir quem deve ou não entrar no reino dos céus. Salvo, algum Francisco de sandálias e pés no chão para esse nublado tempo, pois, nada tem mais força que a oração de um justo, mesmo para os sem créditos no cartão onde as indulgências tem o preço tabelado. A esses santos guardo o dia de amanhã e a justiça que não vem do Supremo Tribunal de Justiça. 

Mas, não se rebele, indigne, por estas palavras transcritas de um penitente, pecador, que já ergueu a espada e proclamou à guerra, que vive entre o real e o absurdo, e, também, o lúdico e o utópico. Aquele que vive a esperança e a descrença, o jornalista, atleta e ator, na procura pela verdade, do bem-estar e o personagem que morre todos os dias e duas vezes nas matinês, sem identidade, que procura levar o seu fardo com a égide da fé. A crença do abstrato que não se pode tocar, não lhe dá certezas, mas que fundam na pedra nossos calcanhares.

Na espera do messias que surgirá trazendo alento para esse tempo, do João que não carrega consigo a alcunha do seu sobrenome, talvez, o presidente de fala direta, sem rodeios, amante das coisas simples e temente a Deus, a que Deus? Hades ou Ares? O representante atrapalhado que nem consegue reger a banda de ministros e seus oficiais subalternos. Só lhes digo irmãos, Mateus 7:15-20  “Cuidado com os falsos profetas eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores”.

A esperança é um verde musgo desbotado, a culpa é dos vermelhos e o touro raivoso chamado inércia, pós-verdade, vem bufando para pisotear e limpar a sociedade deste mal e vil que assola a nação. Depois de limpo o campo de batatas dos corpos, feridos e sobreviventes, os vencedores fundarão uma nação baseada na moralidade, honestidade e na liberdade. Perdido entre profetas, fardados e salvadores não a toa que nossas cabeças pendam à loucura, há tiros por todos os lados, hospitais cheios enquanto a vida se esvazia num comprimido de Alprazolam. No caminho de pedra até a luz basta a crença no amanhã, talvez, será outro dia.

 

 

About Mario Luiz Costa Junior

Jornalista e Músico, integrante colaborador do Parágrafo 2. Cronista urbano e repórter de cultura e sociedade, tem como referência os textos literários e jornalísticos de Gabriel Garcia Márquez e Nelson Rodrigues, da lírica de Cartola e da confluência de outras artes, como o cinema, no retrato do cotidiano no enfoque da notícia. Acredita que viver é um ato resiliente no caminho de pedra para a luz.