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NECROPOLÍTICA NO BRASIL: A TRAJETÓRIA DE UM GENOCIDA EM MEIO A PANDEMIA

Coluna Autofagia 

O livro “Necropolítica” do filósofo e escritor camaronês Achille Mbembe apresenta, a partir de seu amplo estudo sociopolítico, pautado por sua teoria de provincialização da Europa, como governos autoritários usam o poder político para definir como sociedades, sob seus domínios, podem viver ou devem morrer. Nesse sentido, o ditador – ser soberano – tem controle absoluto e incontestável e sua posição inatingível.  A partir desta análise – didática, digamos –  da obra de Mbembe, torna-se impossível não relacioná-la com o contexto atual do Brasil. Por aqui, observamos como um governo autoritário é nocivo à sociedade. As atitudes do atual presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, têm, cada vez mais, se aproximado de ditadores necropoliticos.

       Desde fevereiro – dia 26, precisamente – quando o Brasil registrou o primeiro caso de Coronavírus, o presidente da república vem negando a gravidade e letalidade da doença e, sem nenhuma base científica, insiste na narrativa de que a doença acomete um grupo específico de pessoas, inferindo que essas vidas não são importantes, optando pela economia em detrimento destes brasileiros. Aqui, claramente, observamos a manifestação necropolítica do capitão da reserva.

       Em meados de março, governadores e prefeitos preocupados com a disseminação do vírus, decidiram estabelecer o isolamento vertical, fechando escolas, universidades, comércio em geral, permitindo apenas o funcionamento de serviços essenciais como supermercados, farmácias e hospitais – seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde. A partir da postura dos govenadores, Bolsonaro passou atacá-los e caluniá-los, sugerindo que suas atitudes eram eleitoreiras e irresponsáveis.

       Após ver sua popularidade cair e a população apoiar as medidas tomadas por governadores e prefeitos, vê-los assumir um papel de protagonismo na luta contra o Covid-19, o chefe do executivo – outrora relutante em falar sobre economia, vide a campanha de 2018 – resolve usar a economia para pressionar a população contra o isolamento social e, até certo ponto, ameaçá-la com a perda de seus empregos durante a pandemia. Tal postura reforça o desprezo de Bolsonaro pela vida, agora, não só do grupo de risco, mas de todas as pessoas, especialmente, as mais vulneráveis economicamente.

       No meio deste imbróglio, Luiz Henrique Mandetta, então ministro da saúde, bateu de frente contra o discurso minimizador do presidente, reforçando a necessidade de isolamento vertical para combater a propagação da doença, sendo ele a única voz dissidente dentro do governo. Ao vê-lo ganhar notoriedade, o impiedoso necrocrata o elegeu como adversário e o excomungou da pasta da saúde. Em seu lugar, colocou um sujeito de aparência débil, mas de discurso afiado, aliado ao seu chefe. Nelson Teich, nunca atuou no SUS (sistema único de saúde), defensor da privatização da saúde, já discursou a favor da necropolítica ao dizer  “entre um jovem e um idoso, se deve salvar o jovem e não gastar recursos com o idoso”.

       Agora com seus pares em acordo com sua prática genocida, Bolsonaro investe na luta política contra os outros poderes da república – STF e Congresso. Ao ver os lideres destes poderes, outrora aliados, criticá-lo, instiga sua militância a promover passeatas e manifestações e protestos, promovendo grandes aglomerações, contra as instituições democráticas, jornalistas e profissionais da saúde, levando seus apoiadores, um grupo de acéfalos, a agir com violência contra todos aqueles que compactuem com sua narrativa assassina.

       Em meio a pandemia sem precedentes na história recente do Brasil, quis o destino que o “líder” – as aspas indicam ironia – desta pobre nação fosse um sujeito inculto, megalomaníaco com tendências ditatoriais a enfrenta-la. Tal como sugere o adágio de Edward Murphy, engenheiro aeroespacial estadunidense, em um de seus testes  para provar a aceleração e gravidade de uma aeronave, disse: “qualquer coisa ruim que possa acontecer, acontecerá da pior forma possível, no pior cenário possível”, nunca um epigrama fez tanto sentido. Hoje o Brasil conta com 122 mil casos de Coronavírus e 8.022 mortes e a curva exponencial ainda em ascendência. O Brasil teve a oportunidade de aprender com os erros de outros países os quais subestimaram o Covid-19, mas preferiu seguir o mesmo caminho. A diferença é que estes países não tiveram exemplos anteriores para que não escornassem a doença. Nós tivemos. A partir das atitudes do presidente da república não se pode classificar este governo de outra forma que não seja genocida. Necropolítico.

      

About Dieison Faria

Dieison Faria é professor, pedagogo e pesquisador.