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Nação Zumbi e Machete Bomb inflamaram o público do Tork n’ Roll neste final de semana

Com quase 30 anos de estrada o tempo maturou a banda Nação Zumbi como vinho de fina elegância, de baque forte como cachaça, tão pesado quanto às alfaiais e presente como boa bebida ao paladar. Descrever o show ocorrido na sexta-feira, 22/03, no Tork n’ Roll, após uma noite de êxtase, cambaleante e, ainda, embriagado por um repertório de boas músicas, é procurar no breve vocabulário explicação para o que não há palavras, sem exageros, uma experiência sonora, única.

A Nação Zumbi, representante do manguebeat, há muito tempo desvencilhada da imagem de Chico Science, mas não da sua presença musical, trouxe músicas do disco Radiola NZ Vol.I como Sexual Healing (Marvin Gaye) e Refazenda (Gilberto Gil), canções do disco Nação Zumbi (2017) como A Melhor Hora da Praia, Um Sonho, a icônica Defeito Perfeito, com certa influência de Beastie Boys, e Foi de amor, como dizem seus versos “foi de amor droga mais que letal/quando não mata aleija/ faz esse temporal”, uma apresentação de amor, foi de amor, foi na veia.

A presença do homem caranguejo, Chico Science, estava na canção Um Sonho, a saudade de um amigo que partiu e deixou, evidentemente, muitas saudades. “Ontem eu tive esse sonho/Nele encontrava com você/Não sei se sonhava o meu sonho/ Ou se o sonho que eu sonhava era seu”.

A ideia que brotou da cabeça antenada do caranguejo e resultou na Nação Zumbi e no movimento mangue da lama até o caos. Chico, carregou Mestre Salú, Public Enemy, ritmos regionais, Tropicalismo, a World Music (Rap, Hip Hop, Rock e etc.), a crítica do cientista social Josué de Castro no combate a fome, a riqueza orgânica e a pobreza endêmica dos manguezais e fez “uma embolada, um samba, um maracatu/ Tudo bem envenenado/ Bom pra mim e bom pra tú/ Pra gente sair da lama e visitar os urubus”, A Cidade (Da Lama Ao Caos -1994).

A Nação Zumbi toca e o público canta Banditismo, em que o povo descrente parte para luta armada “para comer um pedaço de pão tudo fudido”, o bandido que é mal, o bandido que precisa comer e a violência no meio disso tudo. Não é necessário dizer #LulaLivre para expor, ter, uma postura de combate, cada descendente dessa terra sabe as mazelas da exploração do negro, do coronelismo, das angústias suprimidas e a esperança dúbia nos governantes do país.

Cantar ao ritmo pulsante das alfaias faz perceber que a fumaça que toma os pulmões saindo pela boca, neste instante, não é dos carros, do caótico, mas, da pura paz, infelizmente momentânea. Após quase 02h30 e canções como Samba Maioral, Praieira e outras dos discos Da Lama Ao Caos, Afrociberdelia e da extensa carreira, a banda Nação Zumbi encerrou a noite curitibana deixando os paladares do público aguçados, um gosto de até logo mangueboys, voltem sempre.

Machete Bomb dos pinhais de Curitiba ao pós-manguebeat

A banda curitibana Machete Bomb já teve a oportunidade de compartilhar o palco com Mundo Livre S/A, Criolo, O Rappa e preparou a cozinha para a apresentação da banda Nação Zumbi, nesta última sexta-feira. Representante da boa safra do cenário musical de Curitiba, ao lado de Tuyo e Mulamba, a Machete alia a sonoridade profana do cavaco no rock ao discurso da ironia, da malandragem e do samba.

Vitor Salmazo (Vocal) reflete que é importante trazer o som da banda as raízes e sempre que possível tocar na cidade. “A gente toca pouco em casa, é massa poder vir aqui em ‘Curita’ e prestigiar a galera que é a nossa crew”. Ele enxerga o amadurecimento da cena e a maior consciência artística dos grupos “a ideia é que a Machete se torne algo mais abrangente, nos limite da pretensão, é ser um pós-manguebeat, trazer uma nova sonoridade tendo Curitiba como sede, a cidade amadureceu muito, como consciência artística, inclusive, no site Tenho Mais discos que Amigos os 50 melhores discos de 2018, os dois primeiros lugares (Tuyo e Mulamba) são de bandas da cidade e isto de estarem lá não é de zoeira. A oportunidade de abrir para a Nação Zumbi é mostrar que a Machete não é só uma banda, mas é também um ideal artístico que representa muito bem o século XXI da cidade madrasta”, comenta.

Otávio ‘Madu’ Madureira (Cavaco/Pedais/Guitarra) explica os pormenores da cena local e a dificuldade em crescer em certos setores da música. “Há setores de música na cidade que brigam muito, não se apoiam, houve um crescimento, mas ainda existe o balde de caranguejo, barreiras estão sendo quebradas apesar de ainda haver certa resistência. Tocamos no Rio Grande do Sul, Belém, fizemos o Festival Psicodália e… nossa! Estamos tocando em Curitiba, isto é novo para nós. Parece que você precisa fazer algo muito foda fora daqui para as pessoas prestigiarem o seu show, na sua cidade”.

Enquanto a cidade madrasta de Curitiba dorme nas filas para comprar ingressos da dupla Sandy & Junior – produções de qualidade a exemplo da cena manguebeat de Pernambuco, fora do eixo Rio-São Paulo –  a Machete Bomb dá o seu recado. De baque pesado e um chute de capoeira de Angola no peito, direto da cidade da Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba.  “Aqui não! Aqui ninguém nasceu pra ser domesticado, aqui não!” (FatCap – banda: Machete Bomb). Sem mais para o momento.

Texto:

Mario Luiz Costa Jr.

 

Fotos: 

Everton Mossato 

Rafael Jackson de Jesus

 

About Mario Luiz Costa Junior

Jornalista e Músico, integrante colaborador do Parágrafo 2. Cronista urbano e repórter de cultura e sociedade, tem como referência os textos literários e jornalísticos de Gabriel Garcia Márquez e Nelson Rodrigues, da lírica de Cartola e da confluência de outras artes, como o cinema, no retrato do cotidiano no enfoque da notícia. Acredita que viver é um ato resiliente no caminho de pedra para a luz.