Texto e fotos: Emerson Nogueira
Entre os dias 23 e 25 de fevereiro, cerca de 60 mulheres indígenas participaram do Fórum Kunhangwe Ruvixá. Realizado no Território Indígena Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara na Região Metropolitana de Curitiba, o evento foi organizado pela Comissão Guarani Yvyrupa – CGY que é uma organização indígena que congrega coletivos do povo Guarani nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.
O Fórum reuniu coordenadoras e articuladoras de mulheres da CGY, lideranças locais, jovens e representantes das aldeias nos seis estados das regiões sul e sudeste do Brasil – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
A programação contou com debates, noites de fortalecimento espiritual e uma ação coletiva de plantio de sementes e mudas tradicionais. Na pauta de discussões estiveram conversas sobre o movimento das kunhangue mulheres, nos níveis regional, estadual e nacional, uma avaliação de avanços e desafios para a organização e defesa dos direitos e interesses das kunhangue, análise da conjuntura política nacional, um exame das preocupações e ações para o enfrentamento de violências, entre outros.
“A sensação que temos hoje é que sim, podemos chorar juntas, mas que também somos fortes o bastante para a gente fazer caminhar, dentro das organizações, colocando em prática nossos aprendizados”, resumiu assim a experiência do Fórum Ju Kerexu, cacica no território indígena Tekoa Takuaty, em Paranaguá, no litoral do estado e uma das coordenadoras da CGY.
Ela explica que “Kunhangwe Ruvixá, significa em Guarani M’biá, Mulheres Lideranças. São as mulheres que dentro e fora dos seus territórios são referências e que todas as mulheres em suas aldeias e comunidades não deixam de ser Ruvixá. “Nos territórios tudo passa pela gente, participamos e estamos dentro da organização, mas de uma forma que possamos fortalecer o todo”, explica Kerexu.
O evento, conforme destaca Ju Kerexu, trouxe as mulheres lideranças guaranis dos territórios abrangidos pela CGY, para fazer a avaliação e retomada do movimento das mulheres e pensar caminhos, nos ganhos, nos passos que foram dados e onde ainda estão paradas. “Todas saímos do evento mais fortalecidas. Há um tempo que não nos reunimos, foi essencial para pensarmos novos passos para a nossa caminhada. Foi fortalecedor, foi um momento de reencontros e de trocas”, diz.
Outra liderança do povo Guarani, Vilma, da Terra Indígena Tekoa Guasu Virá, localizada em Guaíra, no centro oeste do Paraná, ressalta que o evento é parte de uma luta maior. “Falamos das estratégias, de como temos que levar daqui em diante, para sabermos lidar com os desafios que vem pela frente. É uma luta que não acaba aqui, e estamos visando levar isso a frente. Sempre fortalecendo as mulheres e os jovens, pois sempre falamos que os jovens são o futuro. Então, a gente tem que reensinar e reeducar, fazendo com que eles aprendam a lutar politicamente e a fortalecer a cultura, porque sem a nossa cultura a gente não existe”, destaca.
A região oeste do Paraná é local onde existem diversos territórios habitados pelos Guaranis e uma região marcada por casos de violências contra os indígenas. E para Vilma, o Fórum teve também papel fundamental na discussão dessa realidade. “Vai ser muito importante para o nosso território, porque vivemos em uma região em que os indígenas não são aceitos. É uma violência constante, tanto no território quanto fora. As nossas crianças frequentam a escola na cidade, não temos escolas dentro do nosso território. É uma luta no dia a dia que enfrentamos com as nossas crianças e adolescentes que sofrem discriminação e racismo dentro das escolas”, concluiu.
Edição: José Pires
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