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Movimento de mulheres indígenas busca orientar, acolher e garantir direitos de vítimas de violência doméstica

Entre os dias 17 e 20 de junho acontecerá, na Tekoa Terra Indígena Rio do Lebre, no município de Nova Laranjeiras no Paraná, o 3º Encontro do Movimento Xondaria Kuery Jera Rete. O Movimento é uma iniciativa de mulheres indígenas e busca informar, debater, defender e lutar pelos direitos de indígenas de todo o estado. Os Encontros, que acontecem uma vez por ano desde 2019, têm como objetivo dar espaço e voz a mulheres de várias aldeias e discutir sobre todo o tipo de violência, como a física e a mental que afligem indígenas de diversas etnias. Além disso, o evento também tem como foco ressaltar a importância da manutenção e do fortalecimento da cultura e dos costumes indígenas e estimular a união entre as mulheres incentivando todas a não se calarem diante de qualquer situação.

Jessica Maira Gabriel de Castro, de 22 anos, é uma indígena que nasceu no Paraná e atualmente mora Espirito Santo. Ela é uma das fundadoras e coordenadoras do Movimento Xondarias Jera Rete que é um movimento de mulheres indígenas criado com objetivo de atender suas necessidades e defender, apoiar e acolher mulheres indígenas em situação de violência. “Mas também atuamos com as lideranças na luta pela educação, saúde e pra que nós indígenas possamos ter nossos direitos respeitados. E esses direitos são principalmente nossas terras que devem ser desmarcadas, pois não há um lugar que não seja terra indígena, no Brasil. Garanto isso porque o Brasil é terra indígena. Nosso objetivo principal é luta pela igualdade e respeito as mulheres indígenas mais ao mesmo tempo lutamos por todo nosso povo na luta Guarani sempre lutamos lado a lado”, revela.

O 3º Encontro do Movimento Xondaria Kuery Jera Rete acontecerá entre os dias 17 e 20 de junho.

O movimento foi batizado em homenagem a Florinda Jera Rete, tia de Jessica e primeira cacica mulher do Paraná. “Ela deu início ao protagonismo das mulheres indígenas, foi ela quem mostrou que as mulheres indígenas também podem estar à frente de suas comunidades, que as mulheres devem e merecem ser protagonistas de suas próprias jornadas”, ressalta Jessica Maira.  

Ainda sobre a tia, Jessica lembra que ela foi uma grande mulher, batalhadora e forte que conquistou a aldeia Aracaí, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. “Ela venceu todas as batalhas de preconceito e machismo, mas infelizmente não conseguiu vencer a luta contra um câncer no colo do útero. A ideia de criar um coletivo de mulheres indígenas era dela, mas ela acabou falecendo e antes de partir nos deixou essa missão de seguirmos com o projeto. Por isso o movimento tem seu nome, além de ser uma homenagem também é um símbolo de resistência, de força e de coragem porque ela foi tudo isso e ela segue sendo nossa força e nossa inspiração pra seguirmos nessa luta”.

Violência contra as mulheres indígenas

A violência contra as mulheres indígena também é presente nas aldeias. Jessica Maira ressalta que, infelizmente, não existe uma rede exclusiva para atender as indígenas vítimas de violência doméstica e quando acontecem casos de violência elas costumam procurar as lideranças das aldeias. “Geralmente as mulheres fazem as denúncias às lideranças da aldeia onde vivem, então essa liderança fica responsável por levar a vítima para fazer a denúncia na Delegacia da Mulher.  Mas hoje em dia, com o nosso movimento também conseguimos ajudar nesses casos, temos uma página no Facebook e Instagram onde as mulheres indígenas vítimas de violência podem se comunicar conosco e assim podemos dar todo o apoio”, revela.

Jessica Maira Gabriel de Castro é uma das fundadoras do Movimento.

Nos encontros do Movimento Xondaria Kuery Jera Rete as participantes ficam sabendo das leis que existem para defender as mulheres e protege-las de agressores. “Sempre iniciamos as reuniões falando sobre as leis que existem para defender as mulheres, ou seja, a única lei que temos hoje em dia a Lei Maria da Penha. Sempre orientamos como elas devem proceder para conseguirem denunciar qualquer tipo de violência. Para isso primeiro precisam estar informadas sobre o que é violência, porque existem vários tipos de violência, mas atualmente nas comunidades indígenas só é mais conhecida a violência doméstica, por isso sempre iniciamos as reuniões com informações sobre tudo”, revela Jessica.

Além de orientar as vítimas sobre violência, os encontros das indígenas têm também como objetivo o fortalecimento dos costumes e tradições e o fortalecimento espiritual. “Precisamos muito fortalecer o espírito pra seguir na luta.  Não digo que nossa cultura está se perdendo, mas acredito que em alguns momentos nos acomodamos com as coisas materiais e isso nos afasta um pouco de nossas raízes, mas nunca perdemos o que é nosso e o que nos mantém vivos que é a nossa cultura, tradição e costumes”.

A organização do evento busca recursos para concretizar o Encontro e as doações, que serão utilizadas, entre outros, para o deslocamento das indígenas até a T.I. de Rio do Lebre, podem ser feitas via depósito bancário. “Nós do Movimento Jera Rete temos o objetivo de defender os direitos das mulheres indígenas. O encontro a ser realizado é de grande importância para a continuidade e fortalecimento do movimento. O valor será revertido em aquisição de alimentos para os dias do evento, auxílio de transporte e elaboração de camiseta para identificação das participantes”, destacam as organizadoras que também lembram que, por causa da pandemia, todos os cuidados necessários como a utilização de máscara, álcool em gel e distanciamento social serão tomados.

Contato para as doações

(41) 9 97204914 Eliane Gabriel de Castro CPF: 109.605.969-09 DADOS BANCÁRIOS: Banco do Itaú Agência: 3884 Conta Corrente: 171699

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.