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Mapeamento revela bairros em áreas de risco climático em Curitiba

Curitiba tem dezenas de bairros em áreas de risco climático, ou seja, locais onde tragédias ambientais, como a que atinge o Rio Grande do Sul, têm maior potencial de danos. O mapeamento dessas regiões foi elaborado pela Rede Curitiba Climática (RCC).  A RCC é um movimento que busca promover a justiça climática no território de Curitiba. Desde o fim de 2019, a Rede tem se dedicado a monitorar as ações do poder público municipal com relação à diminuição das emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE), adaptação da cidade à mudança do clima e diminuição das desigualdades sociais que situações hoje denominadas de “injustiça climática”.

A RCC produziu os mapas de riscos com base em dados do Plano Municipal de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas de Curitiba (PlanClima) publicado pela prefeitura da capital no ano de 2020.

O PlanClima é um documento formulado pela prefeitura de Curitiba que tem como objetivo orientar a ação municipal, os setores produtivos e a sociedade para o enfrentamento dos efeitos que podem advir da alteração climática. O Plano alinha-se à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS); ao Quadro de Planejamento da Ação Climática da Rede C40 de Cidades; e à meta estabelecida no Acordo de Paris de conter o aumento da temperatura média.

Por meio do PlanClima, a Rede identificou diversos tipos de riscos climáticos, bem como os bairros que cada um deles pode atingir.

Risco de Inundação:

A urbanização intensa aumenta o perigo, especialmente em áreas como Boqueirão, Hauer, Uberaba, Jardim Botânico, Rebouças, Centro, CIC, Xaxim, Alto Boqueirão e Sítio Cercado. Veja nos mapas abaixo.

Mapa produzido pela Rede Curitiba Climática
Mapa produzido pela Rede Curitiba Climática

Risco de Alagamento:

Em chuvas extremas, a capacidade de drenagem pode ser insuficiente, colocando áreas como Alto da Rua XV, Centro, Bom Retiro e outros em maior risco.

Mapa produzido pela Rede Curitiba Climática
Mapa produzido pela Rede Curitiba Climática

Risco de Ondas de Calor

Bairros altamente urbanizados, como Centro, Alto da Rua XV, Rebouças e Jardim Botânico, são vulneráveis a ondas de calor.

Mapa produzido pela Rede Curitiba Climática
Mapa produzido pela Rede Curitiba Climática

Risco de Deslizamento: Tem mais riscos de deslizamento, segundo o PlanClima, bairros do norte da cidade, como Pilarzinho, Abranches, Cachoeira e Santa Felicidade, enfrentam riscos de deslizamentos, agravados pelas mudanças no uso do solo.

Murilo Noli da Fonseca é Geógrafo, Mestre e Doutorando em Gestão Urbana e membro da Rede Curitiba Climática. Ele explica que as pessoas mais vulneráveis a tragédias ambientais em Curitiba são aquelas que moram nas periferias, principalmente em ocupações irregulares. “A responsabilidade da falta de moradia adequada na ocorrência de eventos climáticos extremos, como os que estão ocorrendo atualmente no Rio Grande do Sul, é uma questão complexa que envolve diversos fatores. A Rede Curitiba Climática compreende que a ausência de moradia adequada contribui significativamente para aumentar a vulnerabilidade das comunidades diante de desastres naturais, como inundações e deslizamentos”, enfatiza.

Murilo destaca que as ocupações irregulares paranaenses, como as mencionadas nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e na “Pesquisa de Necessidades Habitacionais do Paraná” da Companhia de Habitação do Paraná (Cohab), frequentemente estão localizadas em áreas de risco, como encostas íngremes ou próximas a corpos d’água suscetíveis a inundações. A falta de infraestrutura básica nessas áreas, como sistemas de drenagem e saneamento, agrava ainda mais a situação, tornando essas comunidades mais propensas a sofrer com os impactos de eventos climáticos extremos.

Além disso, ressalta o Geógrafo, as pessoas que residem em tais locais enfrentam, normalmente, uma menor capacidade de resiliência diante de qualquer tipo de evento extremo. “Essa falta de resiliência é influenciada por questões socioeconômicas multidimensionais, o que resulta em uma probabilidade ainda maior de não apenas serem afetadas, mas também de se recuperarem após tais eventos. Portanto, a chance de sobreviverem e se recuperarem, com o mínimo que já possuíam, é consideravelmente inferior em comparação com o restante da população”, diz.

Curitiba está preparada para volumes de chuva como os que atingiram Porto Alegre?

Apesar de Curitiba ser uma cidade mais alta do que Porto Alegre, isso não significa que esteja totalmente preparada para enfrentar chuvas tão intensas como as registradas no Rio Grande do Sul. É isso que destaca Murilo, que explica ainda que embora a cidade possua políticas de contenção de alagamentos implementadas ao longo de décadas, é necessário reconhecer que os cálculos sobre o escoamento de água foram baseados em uma realidade muito diferente da atual. A urbanização intensa e a impermeabilização do solo transformaram Curitiba em uma cidade altamente impermeável, o que aumenta consideravelmente os riscos de alagamentos e inundações durante eventos climáticos extremos.

O Geógrafo ressalta que apesar de existirem políticas públicas que funcionam, há uma necessidade urgente de melhorias, especialmente no redimensionamento de bueiros e áreas destinadas à contenção das chuvas. “O Parque Barigui, por exemplo, projetado para ser uma área de contenção de cheias, às vezes não consegue lidar com chuvas intensas. Além disso, existem bairros desprovidos dessa infraestrutura de parques e praças, enquanto a estrutura de canalização de rios e galerias, que foi eficaz por um tempo, agora se tornou obsoleta”, diz.

Além das medidas estruturais e políticas urbanas, ele enfatiza que é crucial fortalecer a educação ambiental climática e preparar as pessoas para situações de eventos climáticos extremos. Isso envolve não apenas a infraestrutura física, mas também a conscientização da população e sua capacidade de resposta. Essa preparação passa por treinamentos, capacitações e pela emissão de avisos e alertas claros, acessíveis e compreensíveis para todos.

“A educação ambiental climática pode aumentar a conscientização sobre os riscos climáticos e as medidas de prevenção, capacitando as comunidades para agir de maneira proativa em situações de emergência. Isso inclui o ensino sobre práticas de segurança durante inundações, deslizamentos de terra, ondas de calor e outros eventos climáticos, bem como a promoção de hábitos sustentáveis que reduzam os impactos das mudanças climáticas”, explica Murilo.

Também, conforme destaca o membro da RCC, é crucial garantir uma estrutura pública adequada para prevenir, mitigar, preparar e responder adequadamente a eventos climáticos extremos. E isso requer um orçamento destinado e executado para tais atividades, bem como recursos humanos qualificados para lidar com esses desafios. A alocação de recursos financeiros e a formação de equipes especializadas são fundamentais para garantir um processo de prevenção, preparação e resposta eficaz e coordenada diante de situações de emergência climática.

“É importante ressaltar que os municípios vizinhos também devem desempenhar um papel similar, pois as mudanças climáticas não têm fronteiras. Curitiba pode adotar as melhores práticas possíveis, mas se os municípios ao redor não contribuírem, o processo de preparação e resposta terá dificuldades em ter êxito. A colaboração e a coordenação entre os diferentes municípios são essenciais para enfrentar os desafios das mudanças climáticas de forma eficaz e garantir a segurança e o bem-estar de toda a região”, diz.

Em resumo, aponta, Murilo, embora Curitiba tenha algumas medidas de prevenção e mitigação de inundações, não está totalmente preparada para enfrentar volumes de chuva tão intensos e em curto período de tempo como os registrados no Rio Grande do Sul recentemente.

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.

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