A maior parte das armas se encontrava em residências sob a posse de civis.
Texto e artes: José Pires.
Entre janeiro de 2019 e junho de 2022 cerca de 2.391 armas foram furtadas ou roubadas no estado do Paraná. As informações são da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e foram obtidas pelo Parágrafo 2 via Lei de Acesso à Informação (Lai). A análise dos dados teve a mentoria do Instituto Sou da Paz por meio do Programa de Jornalismo e Acesso a Dados de Segurança Pública e Direitos Humanos.
As informações enviadas pela Sesp trazem a quantidade de boletins de ocorrência denunciando furtos ou roubos de armas do início de 2019 até junho de 2022. Os dados revelam ainda se as vítimas desses crimes eram pessoas físicas ou jurídicas; o ambiente onde os furtos e roubos ocorreram; dia do mês, da semana e horário dos crimes; as notificações por cidades do estado; a espécie das armas, seus calibres e fabricantes, entre outros.
O Código Penal Brasileiro descreve o furto como subtração sem que haja violência e o roubo como subtração mediante grave ameaça ou violência. No Paraná, conforme os dados encaminhados pela Secretaria de Segurança, no período descrito foram registrados 2.332 boletins de ocorrência por furtos e roubos de armas. Destes, 1.761 (75%) eram de furto e 571 de roubo (25%). Muitos B.O.s, no entanto, comunicaram o desvio de mais de uma arma e isso explica porque o número de armas furtadas ou roubadas é maior do que o de ocorrências.
Furtadas e roubadas
Os boletins de ocorrência registrados em 320 municípios do estado revelam que quase duas armas foram roubadas por dia no Paraná nos últimos três anos e meio. São armamentos de diversos calibres e que foram desviados de empresas, de agentes de segurança pública, de pessoas civis e de Colecionadores, Atiradores desportivos e Caçadores (CACs) totalizando 2.391 unidades.
O ano de 2019 lidera o ranking destes crimes com 833 ocorrências, 2020 registrou 444 e 2021 totalizou 626 furtos e roubos.
Quando são considerados apenas os primeiros semestres, 2022 lidera no número de furtos e roubos. Se mantido o ritmo dos crimes ocorridos nos primeiros seis meses do ano, o número de armas furtadas ou roubadas se aproximará de 1.000 e será o maior desta série histórica.
Perfil das vítimas
Assim como muitos boletins de ocorrência registraram furto ou roubo de mais de uma arma, muitas ocorrências fizeram mais de uma vítima. O que os dados revelam é que entre os vitimados a maioria eram pessoas físicas. Segundo a Sesp, a definição quanto a pessoa jurídica foi o campo “razão social” estar preenchido no B.O.
Entre as vítimas, 87 eram agentes de segurança pública, incluindo Policiais Militares, Policiais Civis, Policiais Federais, entre outros. Veja no gráfico:
Ambiente onde ocorreram os furtos e os roubos
A maioria dos furtos e roubos ocorreram em residências (58,3%). Em segundo lugar vem “ambiente rural” com 18,7% das ocorrências. Segundo a Secretaria de Segurança, o ambiente rural contempla vários subambientes como fazenda, chácara, sítio, via pública rural, mata, floresta, rio e lagoa. Se considerarmos fazenda, sítio e chácara como residência rural, diz a Secretaria, pode-se afirmar que o ambiente rural também contempla residências rurais.
Ainda se destacam ambientes públicos com 173 furtos e roubos e comércios e mercados que juntos totalizam 107 ocorrências:
A quantidade de pessoas físicas que tiveram armas furtadas e roubadas em suas residências vai ao encontro do crescimento de armas nas mãos de civis nos últimos três anos.
Em 2022, o número de armas registradas nas mãos dos CACs atingiu a marca de 1 milhão. Os dados do Exército foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação pelos institutos Igarapé e Sou da Paz. A quantidade de armamento na mão desta categoria de civis quase triplicou desde dezembro de 2018, quando Jair Bolsonaro (PL) foi eleito. Desde então, o acervo dos CACs teve um aumento da ordem de 287% em todo o país.
Já o número de armas passou de 433.243 em 2019 para 1.006.725 em julho deste ano.
Esse arsenal de 1 milhão de armas está, de acordo com os registros militares, nas mãos de 673,8 mil CACs.
Esta categoria hoje pode adquirir de revólveres a fuzis de repetição. As pessoas que têm registro como atiradores, por exemplo, têm o direito de possuir até 60 armas, sendo 30 de uso restrito, como fuzis. Os caçadores podem ter até 15 armas com alto poder de fogo. Não há limite de armamento para colecionadores.
O estado do Paraná pertence, ao lado de Santa Catarina, à 5º Região Militar do Exército. Nos dois estados, o número de armas nas mãos dos CACs saltou de 54.522 em 2019 para 171.907 em 2022, um crescimento de 215%.
O número estabelecimentos bélicos, consequentemente, também teve expressivo crescimento sob o governo Bolsonaro. Dados do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (SIGMA) do Exército Brasileiro revelam que entre 2018 e 2021 o número destes estabelecimentos no Brasil saltou de 48 para 2.641, um crescimento de 5.402%.
No Paraná e em Santa Catarina, pertencentes à 5º Região Militar do Exército, o crescimento entre 2018 e 2021 foi de 120%. Veja no gráfico:
O aumento de armas nas mãos de civis reflete a falácia de que o cidadão estaria mais protegido se tivesse uma em casa. Mas o número de furtos e roubos em residências e a quantidade de vítimas civis mostra que essas pessoas acabam se tornando alvo de criminosos.
Grande parte das armas furtadas e roubadas acabam abastecendo o crime. É isso que comprova a pesquisa Desvio Fatal do Instituto Sou da Paz que, para diagnosticar como se dão os desvios de arma de fogo no Estado de São Paulo, analisou milhares de ocorrências classificadas como roubo, furto ou desvio no período de 2011-2020, e as ocorrências de apreensão entre 2015 e 2020.
Bruno Langeani, gerente de Projetos do Instituto, destaca que na pesquisa foram agregados artigos científicos que entrevistaram ladrões de residência que revelam que donos de armas são alvo desse tipo de criminosos. “Eles afirmam que saber que existem armas em casa é um elemento de atração, pelo seu alto valor financeiro, facilidade de venda no mercado ilegal, e também porque é ‘ferramenta de trabalho’ para o crime. Por isso não deixaram de entrar na casa por medo da arma, mas sim, buscarão o momento de ausência dos moradores para desviar as armas. Por isso também a maior presença de furtos”, revela.
E no Paraná, conforme os dados levantados pelo Parágrafo 2, os furtos e roubos de armas foram cometidos principalmente em dias de semana e nos horários da manhã e da tarde, períodos em que as famílias estão no trabalho.
As segundas-feiras foram os dias da semana em que mais se furtou e roubou armas no Paraná, foram 446 unidades (18%). Confira:
As manhãs registraram 28% dos crimes, as tardes 26%, as noites 29,5% e as madrugadas 16%.
E janeiro (233), fevereiro (214), abril (220) e maio (221) foram os meses dos anos que mais registraram furtos e roubos de armas no Paraná.
Espécie e calibres das armas
As milhares de armas furtadas e roubadas no Paraná eram de diversas espécies e calibres. Porém, a maioria delas era de revólveres e pistolas. As duas espécies somam juntas 1.515 armas furtadas ou roubadas, o que corresponde a 64% do total.
As marcas mais roubadas foram a Taurus (52,1%), a CBC (13,6%) e a Rossi (12,5%).
Bruno Langeani destaca que em geral o perfil da arma desviada vai acompanhar o perfil de arma registrada. Se há mais revólveres e pistolas registradas é natural que os desvios tenham mais destas armas. “E o perfil da arma desviada em muitos casos vai espelhar o perfil da arma apreendida no crime, pois para muitos tipos de armas o mercado legal é a principal fonte de fornecimento”, diz.
O gerente de Projetos do Instituto Sou da Paz reforça que não é novidade que milhares de armas legalizadas migrem para o mercado ilegal precisamente a partir de roubos e furtos de residência. Ao estimular que mais pessoas comprem armas, reforça Bruno, com a falsa alegação de que estas protegem as famílias, e afrouxar este processo de compra, o presidente Bolsonaro ajuda a aumentar o número de armas em residências. Ao crescer este bolo de armas legais, crescem os riscos da migração de armas para o mercado ilegal.
Roubos por cidades
Desde 2019 foram registrados furtos e roubos de armas em cerca de 80% das cidades do Paraná. Ao todo, 320 municípios tiveram vítimas deste tipo de tipo de crime. Curitiba com 199 ocorrências foi a cidade com mais registros. Ela foi seguida por outros grandes centros urbanos como Londrina (90) e Maringá (82).
Confira no gráfico as 10 cidades que mais registraram furtos e roubos de armas entre janeiro de 2019 e junho de 2022:
Tomazina, município do Norte Pioneiro paranaense, é a quarta cidade que mais registrou furtos e roubos de armas no estado, foram 81 unidades. A cidade, que tem pouco mais de 9.000 habitantes, teve dezenas de armas furtadas de uma agropecuária no começo de 2022.
O sou da paz (sqn) poderia fazer materias sobre o narcoterrorismo que assola o povo humilde com suas armas contrabandeadas, os assassinatos, opressão dos moradores, tudo isso financiado e estimulado pelos malditos e inescrupulosos viciados em maconha, crack e cocaina. Poderiam evidenciar os irreparaveis danos causados pela proibição das ações policiais nas comunidades. Não sei pela “paz” de quem eles militam. Do povo é que não é.