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Indígenas paranaenses participam da Conferência da Onu na Escócia

Com informações da APIB.

 

Dezenas de representantes de povos indígenas do Brasil participam da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) em Glasgow, na Escócia. Entre eles está Kretã, liderança Kaingang e Coordenador Executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e um dos organizadores do movimento da Retomada Indígena da Floresta Estadual Metropolitana, no município de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba e Nig Kaingang, Liderança Indígena da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), além de Werá Rivelino, representante da Comissão Guarani Yvyrupa.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, em conjunto com todas as suas organizações de base, mobilizou a maior delegação de lideranças indígenas brasileiras da história da Conferência do Clima para pautar soluções sobre a crise climática. Mais de 40 representantes dos povos originários estarão em Glasgow entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro com a proposta de ocupar a Conferência para alertar o mundo sobre a necessidade de demarcar as Terras Indígenas e proteger os povos indígenas para o futuro do planeta.

“Nos colocamos contra falsas soluções baseadas em inovações tecnológicas elaboradas a partir da mesma lógica desenvolvimentista e produtivista que provoca as mudanças climáticas. Criticamos soluções que não reconheçam os povos indígenas e comunidades locais como o ponto central na defesa das florestas, da diminuição do desmatamento e das queimadas, e como essenciais para a garantir que a meta declarada de manter o aquecimento global abaixo de 1,5 graus Celsius”, destaca trecho da mensagem da Apib aos líderes mundiais, empresários, gestores públicos e organizações que irão estar presentes na COP26.

Nig Kaingang, Liderança Indígena da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) -segunda à esquerda – Foto: Apib

A delegação indígena brasileira na conferência está o genocídio indígena e o ecocídio que está em curso no Brasil agravado pela pandemia da Covid-19 e pelo projeto de morte do Governo Federal. No dia internacional dos povos indígenas, 9 de agosto, a Apib entrou com um comunicado inédito no Tribunal Penal Internacional (TPI) para denunciar o governo Bolsonaro por Genocídio.

“Moldamos e protegemos nossos biomas ao preço do sangue de milhões de parentes. O genocídio dos povos originários, a perseguição aos defensores dos territórios e a captura ilegal de nossas terras, é o maior e mais disseminado crime que a humanidade produziu ao longo de sua história. Este é um crime continuado e presente, o qual denunciamos em todas as instâncias que ocupamos”, reforça a delegação em mensagem.

Ao Parágrafo 2, Kretã destaca que os representantes indígenas sabem da importância da COP por conta da participação de governos do mundo todo e que as propostas que contra o desmatando da Amazônia são importantes e estão sendo discutidas, mas não tiveram a participação dos indígenas.

Para ele, no entanto, o mais importante é que esse não seja apenas mais um evento que se limite a discussões, os governos precisam assumir compromissos e cumpri-los. “Não adianta ser apenas mais uma COP. Os governos precisam assumir compromisso, mas executá-los, porque se não ficam novamente apenas nos discursos. Nossa comissão aqui na COP é a maior da história, e isso é muito importante e representativo. Continuaremos aqui na luta para conferir o documento final apresentado da Conferência. Vamos cobrar o que for acordado aqui e precisamos também que a sociedade brasileira nos ajude a cobrar”, destaca Kretã.

A Apib participa da conferência desde 2014, e havia mobilizado, em 2019, um grupo de 18 pessoas para a última COP, que era até então a maior participação de lideranças no encontro. Neste contexto de pandemia da Covid-19, que afetou bilhões de pessoas, os povos indígenas reforçam a necessidade de respeitar a biodiversidade presente nos territórios indígenas.

Rivelino e Kretã – Foto Apib

Para a delegação indígena a atual política do Governo Federal é nociva ao meio ambiente, ao clima e às comunidades tradicionais. A Apib e suas organizações indígenas denunciam de forma constante as invasões aos territórios, a contaminação de rios e nascentes por agrotóxicos e mercúrio, o desmatamento desenfreado da Floresta Amazônica, do Cerrado e do Pantanal. Segundo a organização, apesar desse cenário, os fundos econômicos continuam apoiando financeiramente a ganância desenfreada que destrói o planeta.

Mesmo sendo responsável pela proteção da maior parte do patrimônio florestal global e, consequentemente, da capacidade de armazenar mais de 293 gigatoneladas de carbono, um terço das terras indígenas e comunitárias de 64 países estão sob ameaça devido à ausência de demarcação.

O Brasil, que originariamente era todo Terra Indígena, hoje reserva apenas 13,8% do território nacional aos seus povos originários. E essa porção do território é a que se manteve mais preservada nos últimos 35 anos, representando menos de 1% do desmatamento no Brasil no período, apontam dados do Mapbiomas. Essa porcentagem não significa toda a extensão das florestas protegidas pelos povos indígenas e segundo a Apib, além da paralisação das demarcações de Terras Indígenas, os territórios tradicionais já demarcados encontram-se sob forte ameaça legislativa, em uma tentativa inconstitucional de negar a presença tradicional dos povos indígenas no país, e da ocupação de suas terras muito antes da formação do Estado brasileiro.

 

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.