Cerca de 80 indígenas estão acampados no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Interior Sul, em São José, na Grande Florianópolis desde a última segunda-feira (13). Eles pedem a saída imediata de Eunice Antunes Kerexu na coordenação do Distrito Sanitário.
As lideranças presentes, que representam comunidades do interior dos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, reclamam da precarização da saúde nas aldeias e da falta de diálogo com a atual coordenação.
Segundo o Cacique Luís Salvador, do povo Kaingang do Rio Grande do Sul, Kerexu assumiu o DSEI há nove meses e desde então existe um sucateamento da saúde indígena de diversas aldeias de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. “É um descaso com a saúde na base, nas aldeias. Além disso existe um sucateamento da estrutura do DSEI. Existem materiais aqui, como canos e caixas d’água que eram para estar nas aldeias, mas estão estocados, sem uso”, diz.

Os indígenas afirmam também que no DSEI existem remédios que deveriam servir para o uso nas aldeias, mas estão estocados no Distrito correndo o risco de perderem a validade.
Fotos encaminhadas ao Parágrafo 2 mostram uma quantidade enorme de medicamentos estocados no DSEI, alguns deles, conforme os registros, venceram na metade de 2024.

Antônia konheco Paté, representante das Mulheres da Terra indígena Ibirama Láklãnõ Xokleng e vice cacica da Aldeia Koplag, no Alto Vale do Itajaí em Santa Catarina, destaca que diversas lideranças de seu povo estão na ocupação porque os indígenas estão sofrendo por causa omissão da atual coordenadora do DSEI. “Levamos várias demandas das aldeias para Brasília e tivemos sucesso nestes pedidos, assim muitas coisas foram encaminhadas ao DSEI, materiais de saneamento básico, por exemplo. Mas quando chegou aqui a Kerexu disse que não era nosso e mandou para outros lugares. E hoje estamos aqui reivindicando nossos direitos, não estamos aqui fazendo uma política, estamos exigindo melhorias para o nosso povo”, afirma.
A Cacica Laodiceia, do povo La Klãno Xokleng e Claudete da Terra Indígena Chapecozinho, de Santa Catarina, afirmam que a ocupação é para exigir a troca da coordenação porque a situação de Eunice Kexeru seria insustentável, principalmente, segundo elas, por falta de diálogo com os indígenas.
Veja no vídeo abaixo:
Kerexu reclama de misoginia
Em suas redes sociais, a coordenadora do DSEI, Eunice Antunes Kerexu, que é da etnia Guarani e primeira mulher indígena a ocupar a coordenação do Distrito Sanitário, afirma estar sendo vítima de misoginia.
Ela publicou, em seu Instagram, uma nota da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) que ressalta que “viemos através desta, manifestar total apoio e solidariedade pelos ataques à Coordenadora do DSEI interior Sul, Xerexu Ixapyry. O corpo das mulheres indígenas que ocupam cargos públicos está em constantes impugnações, onde muitas vezes são mobilizadas e articuladas por homens, que visam desmoralizar a capacidade e o profissionalismo que nós mulheres indígenas e lideranças sempre tivemos”.
Confira a nota na íntegra:
https://www.instagram.com/p/DE0OACmP8Pd/?hl=pt-br&img_index=1
As lideranças que ocupam o DSEI, no entanto, responderam por meio de nota que “a ocupação do DSEI é composta em sua maioria por mulheres indígenas de diferentes povos. Não cabendo o argumento de movimento misógino para derrubar a coordenadora Eunice Kerexu”.
Confira a nota na íntegra:
O Parágrafo 2 entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) que é responsável pelo DSEI pedindo uma nota sobre as acusações trazidas pelos indígenas que ocupam o Distrito. Porém, até a publicação desta matéria a SESAI não tinha respondido.
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