Foto: Secretaria de Comunicação da Prefeitura Municipal de Piraquara.
No último dia 23 de março, lideranças do Território Indígena Floresta Estadual Metropolitana, da cidade de Piraquara, na Grande Curitiba, se reuniram com a administração do município para apresentar demandas das famílias indígenas que hoje vivem na região, falar sobre o Abril Indígena, evento que será realizado entre os dias 18 e 20 de abril, apresentar o Projeto do Centro de Formação de Cultura e Direitos Indígenas e ressaltar a necessidade de parcerias entre o poder público e povos originários.
Participaram da reunião o prefeito Josimar Froes (PSD), a Secretária de Cultura, Esporte e Lazer Ana Mazzon, Eloy Jacintho, Kretã Kaingang, Isabel Tukano e outras lideranças indígenas, Angelo Stroparo, presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais (CMPC), João Fabio, do Conselho da Promoção da Igualdade Racial (Compir) e Karina Torrecilha, secretária executiva e membro dos dois conselhos.
Eloy Jacintho, liderança do Território Indígena, lembra que as famílias ocuparam a Floresta Estadual Metropolitana no mês de agosto de 2021. Hoje, vivem na região Guaranis, Kaingangs, Tukanos e Terenas e as famílias compartilham com o Instituto Água e Terra (IAT) – que é uma autarquia do Governo do Estado do Paraná – a gestão da Floresta. Segundo Eloy, desde que chegaram, os indígenas tinham o desejo de dialogar com a prefeitura de Piraquara. “Nosso primeiro contato com o município foi por meio da secretária municipal do Meio Ambiente, a Cristina Maria Rizzi Galerani. Depois a aproximação se intensificou com a ajuda do Angelo Stroparo, que é presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais e do Arqueólogo Júlio”, conta.
Eloy lembra que o Território recebeu a visita da Secretária Ana Mazzon e do Prefeito Josimar. Mas ainda havia a necessidade de realizar uma reunião formal na prefeitura. “Quando recebemos a visita do prefeito nós já estávamos próximos do Conselho Municipal de Políticas Culturais. Participamos de uma reunião do Conselho e sugerimos que eles fizessem um pedido de reunião com o Josimar, porque nossa relação com o governo do estado já estava bem fortalecida, mas ainda havia a necessidade de um diálogo mais próximo com o município”, revela.
Assim, o Conselho Municipal de Políticas Culturais solicitou uma reunião com o prefeito e nela prefeitura e indígenas puderam discutir possíveis parcerias em ações que visam a valorização e o fortalecimento da cultura indígena e a preservação do meio ambiente. “Fizemos a reunião, a conversa foi boa, o prefeito foi bem receptivo e apresentamos o Projeto do Centro de Formação de Cultura e Direitos Indígenas que ficará no Território e vai oferecer aos não indígenas conhecimentos sobre a cultura e sobre os direitos dos povos originários. A intenção é oferecer esse conhecimento também para as escolas. E o segundo projeto é o Nhandereko, o modo de vida indígena da recuperação, da revitalização e da proteção dos rios, da fauna e da flora”, lembra Eloy.
A cidade de Piraquara tem problemas ambientais e precisa voltar sua atenção pra eles. Em se tratando de água, por exemplo, o município, localizado em uma posição geográfica privilegiada e diferenciada, é responsável direto pelo abastecimento de pelo menos metade da população de Curitiba e Região Metropolitana. Região serrana, área de preservação ambiental, flora e fauna ricas e raras. Quase a totalidade da cidade é comprometida com a captação de água. Piraquara tem 1.162 nascentes e 93% do seu território é considerado área de manancial. Para Eloy, apoiar as ações indígenas e disseminar os saberes dos povos originários é fundamental não apenas para o município, mas para todo o estado. “É um chamamento que fazemos para a administração de Piraquara, porque a responsabilidade por cuidar dos rios, da fauna, da flora, precisa ser compartilhada entre indígenas e poder público. Deixamos claro também que os interesses que o município tem para essa área precisam estar alinhados com o que os povos indígenas se propõem a fazer. Juntos podemos construir o que é melhor para a região. É muito importante que o governo se comprometa a contribuir com a Floresta Estadual Metropolitana, pois ela estava abandonada. Trazer de novo a floresta nativa, a força da mãe natureza, isso é o Nhandereko e é isso que propomos para Piraquara”, enfatiza.
Angelo Stroparo, presidente CMPC também destaca que Piraquara ainda tem diversos desafios na área ambiental, como por exemplo a questão fundiária. Além disso, há muita dificuldade na preservação do patrimônio cultural. “A presença dos indígenas na Floresta Estadual Metropolitana e a ideia de criar ali um Centro de Formação de Cultura e Direitos Indígenas, por meio do qual podem disseminar os saberes milenares dos povos originários, é fundamental para a cidade, para que possamos rever nossa relação com a natureza, com os rios, com a agricultura”, diz. O presidente do Conselho ressalta que a retomada indígena na região é um dos eventos culturais mais importantes que Piraquara presenciou nos últimos anos. “O conselho entende que todos esses elementos se configuram em algo de grande importância, talvez o que aconteceu de mais importante na cultura do município nos últimos anos. É um fato relevante para a política cultural e desenvolvimento cultural do município e que curiosamente o plano municipal de cultura, que neste momento tramita no Conselho e está prestes a ir para a Câmara para ser votado, aprovado e depois homologado, já contemplava mesmo antes da ocupação da Floresta acontecer. Os interesses dos povos originários já estavam contemplados no plano municipal de cultura que é um dos elementos do sistema municipal de cultura (Lei 1858/2018). O plano prevê apoio ao desenvolvimento e a manutenção da cultura dos povos originários e da presença deles no município”, enfatiza.
Já o prefeito de Piraquara ressaltou que colocou a Administração Municipal à disposição das famílias do Território Indígena Floresta Estadual Metropolitana para auxiliar no for possível e principalmente para que elas tenham acesso aos serviços públicos essenciais, assim como os demais cidadãos piraquarenses. “A unidade de conservação está inserida no território de Piraquara e por mais que a gestão seja compartilhada entre o IAT e agora as lideranças indígenas, o município também deve contribuir na recuperação e preservação daquele espaço”, disse Josimar.
Abril Indígena
Entre os dias 18 e 20/04 acontece, no Território Indígena Floresta Estadual Metropolitana, a primeira edição do “Abril Indígena”. O evento, promovido por famílias das etnias Guarani, Kaingang, Tukano e Terena em parceria com Prefeitura Municipal e movimentos sociais, faz parte das mobilizações realizadas em todo o Brasil no mês que destaca a cultura e as lutas dos povos originários.
Nesta primeira edição, o Abril Indígena receberá a visita de centenas de estudantes da rede municipal de ensino. Mas o evento também é aberto a todas as pessoas interessadas na luta e na cultura indígena. Participarão, além das famílias que hoje vivem na Floresta Estadual Metropolitana, indígenas de oito aldeias de Curitiba e Região.
O evento tem como objetivos divulgar a cultura e as lutas indígenas e também trazer conscientização sobre meio ambiente e a importância do reflorestamento. Para isso, a programação do Abril Indígena conta com:
Apresentações Culturais “odjeroky, poraí-rewé”; momento artístico (teatro/show/capoeira); noite cultural “pytũ rowy’a”; pintura e grafismos “mboparaá”; roda de diálogos “onhemongwetá porã”; jogos indígenas “djaá nimangá”; roda de histórias; indígenas “nhandé mombeú wa’ekwery”; beleza indígena “kunhaĩ porã”; reflorestamento “ka’agwy porã”; exposição de artesanatos “nhandé tembiapó”; centro de exposição permanente; oficina agroecológica e diálogos interdisciplinares (coletivos diversos).
Mais informações: (41) 99632-2334
Endereço: Rua Isidio Alves Ribeiro, 764 – Bairro Planta Meireles – Piraquara – PR.