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Ida Cox e a coragem do Blues feminino

Se não era fácil para um negro fazer sucesso com música nos Estados Unidos no início do século XX, imaginem para uma negra. No entanto, contrariando todas as adversidades, muitas fizeram. A dor e a miséria vivida nas plantações de algodão, aliadas a opressão vivida pelas mulheres, propriedades de seus maridos, sem perspectivas, presas a tabus relacionados a liberdades sexuais e individuas, foram combustíveis que inflamaram cantoras como Ida Cox que inspiraram e abriram o mercado para as grandes vozes femininas do Blues.

Ida Cox nasceu em Toccoa, no estado da Georgia. De família pobre, a filha de ex escravos, assim como alguns de seus contemporâneos, saiu de casa ainda adolescente para tentar ganhar a vida com a música. Passou algum tempo em turnê com um pianista chamado Jelly Roll Morton antes de assinar um contrato de gravação com a Paramount em 1923.

Muitas das suas setenta e oito canções foram gravadas também por outros rótulos como a Broadway e Silvertone. Cox utilizava alguns pseudônimos como Kate Lewis, Velma Bradley, Julia Powers, e Jane Smith.

Como não havia de ser diferente com quem se propõe a fazer Blues, Ida Cox cantou magistralmente a dor dos negros. Além disso, uma constante em suas letras eram temas direcionados ao público feminino. Ida cantava diretamente para as mulheres negras que se viam presas por condições raciais e sociais humilhantes. Suas canções exigiam dignidade e respeito para com as mulheres. Uma delas, a de maior expressão “Wild Women Don’t Have the Blues” era repleta de insinuações sobre a liberdade sexual, o que era considerado pela maioria uma afronta à dignidade das famílias (e esse papo continua atual).

Ida Cox foi uma das mais singulares cantoras de blues da história.  Apesar de ter menos reconhecimento que Bessie Smith e Ma Rainey, por exemplo, simbolizava o espírito liberto de alguns blues americanos feitos por mulheres negras na década de 20.  Além de grande cantora e ótima letrista, muitas vezes ela produziu seus próprios shows, e conseguiu suas próprias turnês.

Cox foi uma mulher à frente de seu tempo. Negra, cantora, empreendedora e que falava sobre feminismo muito antes das mulheres pensarem em atear fogo aos sutiãs.

About Dom

Dom é aficionado por música, mas especificamente pelo Rock n’ Roll e suas várias vertentes. Aprendeu crítica musical nas bodegas do Largo da Ordem como o Bills Bar e nas conversas na fila do Madrugueiro que partia ás 5 h da manhã do Terminal Guadalupe.