Gastão Schefer Neto chegou à “Vigília Lula Livre”, no bairro Santa Cândida em Curitiba, na manhã de sol desta sexta feira (04).
“Eles estão vindo! Eles estão vindo! Bolsonaro!”, gritava Gastão.
Alucinado derrubou caixas de som que permaneciam sobre um pedestal. A agressão aconteceu no momento do “Bom dia presidente”, ato simbólico realizado pelos militantes todas as manhãs. Gastão é delegado da Polícia Federal. Foi diretor da ADPF-PR (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal) e candidato a Deputado Federal pelo PR.
Gastão ter praticado tal agressão no momento do “Bom dia presidente” é de uma simbologia bem maior do que imaginamos. Curitiba é famosa pelo jeito “fechado” de muitos de seus habitantes. Um comportamento frio de ser. “Curitiba não dá bom dia de graça”, diz a lenda. “Curitibano não dá bom dia”, mostra a prática.
O jornalista Dante Mendonça escrevia pra Tribuna do Paraná em 2003:
“Curitibano é econômico no gesto, não esbanja afetação. O afeto, encerra no peito”.
A fama de antipatia é até motivo de orgulho pra alguns. A cidade fria, de habitantes elegantes que convivem sem conviver.
Orgulho mesmo, entretanto, é quando a cidade se torna a capital da Lava Jato, a República de Curitiba.
Porém, a Curitiba fria de sentimentos, tornou-se, nos últimos anos, a Curitiba do ódio. A agressão de Gastão é apenas uma entre tantas que a cidade registrou nestes tempos de cólera.
Em março de 2015 um casal foi agredido no Centro porque vestia camisetas vermelhas, o que provocou a ira dos manifestantes anti-Dilma, que se caracterizavam por vestir roupas verde e amarela. A camiseta de Diego Davoli, que tinha uma imagem de Che Guevara estampada, foi arrancada do seu corpo e, depois, incendiada. Ele e uma adolescente de 14 anos apanharam.
“Ladrona”, “safada”, “corrupta”. Gleise Hoffmann foi recebida aos berros por manifestantes do MBL de Curitiba no Aeroporto Internacional Afonso Pena em abril de 2016.
Em agosto do mesmo ano a atriz Letícia Sabatella foi hostilizada em uma confusão com manifestantes pró-Temer e Moro, contrários ao governo petista, que faziam uma manifestação a favor da Operação Lava Jato. As agressões foram registradas no 1º Distrito da Polícia Civil do Paraná. A Polícia Militar precisou intervir, para proteger a atriz e cantora.
Em outubro de 2016 militantes MBL tentaram entrar à força no colégio Lysímaco Ferreira da Costa, no bairro Água Verde. Os ocupantes denunciam o diretor da escola, Jailson da Silva Neco, de ter ajudado a forçar a entrada do estabelecimento. Alunos afirmaram que foram agredidos pela Polícia Militar, chamada após o tumulto. O MBL realizou diversas investidas contra as ocupações dos colégios em Curitiba.
Em 25 de maio de 2017 a sede do PT Paraná, em Curitiba, foi atacada na madrugada por duas pessoas encapuzadas, que arremessaram bombas de coquetel molotov contra o diretório. Segundo a direção do partido no Estado, foi o quarto atentado desde março de 2016.
Em 24 de janeiro de 2018 manifestantes Pró-Lava Jato agrediram o repórter curitibano Rafael Moro que estava em frente ao prédio da Justiça Federal. Moro (que não é parente do juiz) fazia uma reportagem para o The Intercept Brasil.
Na noite de 17 de abril militantes do acampamento pró-Lula foram agredidos por um grupo de cerca de 30 torcedores do Coritiba nas imediações da avenida Paraná. Os agressores usaram barras de ferro e pedaços de pau.
Na madrugada de 28 de abril o acampamento Marisa Letícia foi atacado a tiros por volta das quatro horas da madrugada. Jeferson Lima de Menezes foi atingido no pescoço e uma militante de raspão no braço. Imagens de câmeras de segurança, de uma residência vizinha ao acampamento, mostram o momento em que um homem dispara contra os militantes.
Gastão é apenas mais um dos curitibanos que não sabem dar bom dia, não sabem respeitar o contraditório, as escolhas políticas dos demais.
Curitiba é fria, em todos os sentidos…