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Fome no Paraná – Levantamento mostra que prato das famílias do estado têm menor variedade de alimentos desde 2002

Reportagem: José Pires

Fotos: Emerson Nogueira e Adriana Matias.

 

Os filhos de Marlei Pereira, 52 anos, cresceram sem comer carne. Artigo de luxo, a proteína animal era vista no prato da família em raras ocasiões. Eles pertencem à geração do final da década de 1990, quando 50 milhões de brasileiros viviam na miséria. Duas décadas depois, mais uma geração da família cresce sem a iguaria. Os netos de Marlei, sete crianças entre três e 10 anos de idade, raramente comem frango, carne de boi, ou de qualquer outro animal.

A alimentação básica na casa dos Pereira é arroz e feijão. Os pratos na mesa sempre tiveram pouca diversidade de alimentos, porém, nos últimos anos, principalmente com a pandemia de Coronavírus, a situação piorou e hoje a fome se faz presente. E, como na casa de Marlei, segundo o “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil”, realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), 43,4 milhões de brasileiros não contavam com alimentos em quantidade suficiente para atender suas necessidades e cerca de 19 milhões precisam conviver com a fome desde o início da pandemia. No Sul, segundo o Inquérito, em 6% dos domicílios havia fome. E o “Atlas das Situações Alimentares no Brasil – A disponibilidade domiciliar de alimentos e a fome no Brasil contemporâneo”, levantamento realizado pelo Centro de Práticas e Pesquisas em Alimentação e Nutrição Coletiva (CPPNAC) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), revela que as famílias do Paraná não se alimentavam tão mal desde 2002.

“Arroz e feijão sempre têm, com sorte a gente consegue uma salada de repolho”

A casa de Marlei é a de número 306 nas margens do Rio Palmital, no bairro Guaraituba, na cidade de Colombo, Região Metropolitana de Curitiba. Dois quartos, cozinha e banheiro abrigam a numerosa família. Grandes frestas entre as tábuas das paredes dão acesso a pernilongos e outros insetos que se banqueteiam todas as noites.  

Além de Marlei, na residência vivem os netos, dos quais Yasmin de três anos é a menor, e dois filhos adultos da diarista, entre eles Aline que tem 26 anos e está gestando o quarto filho. Marlei tem outro filho e que hoje cumpre pena na Penitenciária Estadual de Piraquara. Morava com eles também Fernanda, nora de Marlei. Mas sua dependência química, e o desespero por conseguir drogas que a fazia vender os alimentos dos próprios filhos, fizeram com que ela fosse convidada a deixar a casa. Seu quarto hoje se resume a uma pilha de madeiras e telhas em frente à porta da cozinha. Seus rebentos são criados pela avó e por Aline.

Na casa de dois quartos, cozinha e banheiro há diversas frestas nas paredes de madeira. Por elas, todas as noites entram pernilongos e outros insetos. Foto: José Pires

Alimentar 10 bocas é um desafio e ficou ainda mais difícil durante a pandemia. Marlei trabalhou como faxineira com registro em carteira durante seis anos, mas ficou desempregada e hoje a renda da família vem de uma diária de R$ 130 que ela consegue fazer uma vez por semana. Á diária se somam R$ 210 do Auxílio Brasil – programa do governo federal que substituiu o Bolsa Família – completando o montante de R$ 710 por mês, menos de um salário mínimo, cerca de R$ 73 por pessoa para alimentação e demais despesas. A realidade dos Pereira se assemelha à de quase 10 % das famílias do Sul do país, como mostra o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. Segundo o levantamento, essa parcela da população tinha rendimento, em 2020, de ¼ dos salário mínimo, ou seja, R$ 261. No Brasil, 30 % dos domicílios viviam essa realidade.

Com a renda menor que um salário mínimo, a despesa com alimentação acaba abocanhando a maior parte dos proventos. Conforme o Atlas das Situações Alimentares no Brasil – A disponibilidade domiciliar de alimentos e a fome no Brasil contemporâneo, que selecionou e analisou um conjunto de informações da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF, edições 2002-2003, 2008-2009 e 2017-2018) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, edições 2004, 2009 e 2013), ambas elaboradas pelo IBGE, em 2017 e 2018, nos domicílios com rendimento de até dois salários mínimos, a despesa média mensal com alimentação era de R$ 329, o que representava 22% da despesa total; já naqueles com renda superior a 25 salários-mínimos, esse valor era de R$ 2.061, mas representava apenas 7,6% da despesa total. Ou seja, os domicílios mais pobres comprometiam uma parte aproximadamente três vezes maior do seu orçamento com os alimentos do que os domicílios ricos. Em suma, mesmo tendo despesas menores com a aquisição de alimentos, quanto mais pobre o domicílio, maior é o comprometimento de seu orçamento com a alimentação.

Ganhando pouco, se come mal. Essa realidade acompanha a família de Marlei há décadas. Hoje, os sete netos da faxineira têm como alimentação básica arroz e feijão. “Arroz e feijão sempre têm, com sorte a gente consegue uma salada de repolho. O que não falta é o leite para as crianças”, diz a avó que, no dia da entrevista, se preocupava com o pão que tinha acabado ainda pela manhã.

Os netos de Marlei gostam muito de carne, assada principalmente. Mas raramente comem. No Sul, conforme o Atlas das Situações Alimentares no Brasil, entre 2017 e 2018, o consumo de carne de boi teve queda de 6 quilos por pessoa. E a disparidade entre a quantidade ingerida pelas “classes de rendimento” é uma das maiores do país: Nos estados sulistas, quem ganha entre 10 e 15 salários mínimos consome em média 21,8 quilos de carne bovina por ano, enquanto os que ganham até dois salários mínimos consomem 11,4 quilos per capita.

“Comemos arroz, feijão e ovo. Mas quando tem ovo não tem feijão, não dá pra comprar os dois”

Cerca de três quilômetros separam a casa de Marlei da residência onde vive a venezuelana Laura Helena Bracho Espinoza, seu esposo, os quatro filhos do casal, sua mãe e uma sobrinha. A família de imigrantes mora no Guaraituba, bairro que também fica no município de Colombo. A única renda dos Espinoza vem do trabalho do marido de Laura, Gustavo Henrique Daza Luzardo, que tem emprego de repositor em um supermercado da região e ganha R$ 1.300 por mês, dos quais R$ 700 vão para o aluguel. O que sobra é dividido entre água, luz, alimentação e demais despesas.

Laura e a família vieram da Venezuela fugiram da fome. Mas a encontraram também aqui. Foto: Adriana Martins.

Falta muito para os Espinoza se alimentarem bem. Arroz e feijão também é a base da dieta da família. “Sempre comemos arroz, feijão e ovo. Mas quando tem ovo não tem feijão, não dá para comprar os dois”, revela Laura. Mesmo presente nas mesas das famílias mais pobres, segundo o Atlas, em todas as regiões do país, a aquisição domiciliar per capita de arroz decresceu nos dois períodos considerados. Em 2017-2018, o Maranhão (52,4 quilos) e o Piauí (42,2 quilos) apresentaram aquisição superior à média nacional (19,8 quilos). Por outro lado, com exceção de Minas Gerais, todos os estados das regiões Sudeste e Sul apresentaram aquisição abaixo da média nacional. No Paraná, entre 2002 e 2018, houve queda de quase 10 quilos de arroz per capita por ano.

Diego, de 13 anos, é o mais velho dos filhos. Ele conta que comeu carne pela última vez a cerca de 15 dias. “Comi frango ensopado. É muito bom”, lembra. Ele e sua família vivem hoje no estado que mais produz esse tipo de alimento no Brasil. O Paraná é o maior produtor de frango do país. Uma em cada três aves abatidas em território nacional em 2020 saiu de solo paranaense. O volume total do estado, no ano passado, foi de 4,49 milhões de toneladas – ou 33,4% das 13,7 milhões de toneladas produzidas pelo Brasil, segundo o IBGE. Nosso estado também é um dos maiores produtores de ovos, ocupando a terceira posição entre todos os estados da federação.

Mesmo à frente da produção de frangos, no Paraná foram constatadas baixas no consumo desse tipo de carne. O Atlas das Situações Alimentares no Brasil aponta que entre 2002 e 2018 houve queda na aquisição de aves nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, ao passo que as regiões Norte e Nordeste apresentaram aumento na aquisição desse item. Em 2017 e 2018, os estados das regiões Norte (exceto Rondônia e Tocantins) e Nordeste apresentavam aquisição per capita acima da média nacional (12,4 quilos). Já na região Sudeste a aquisição desse alimento esteve abaixo da média em todos os estados. A aquisição per capita de aves nos domicílios situados em áreas rurais é superior àquela realizada pelos domicílios urbanos, em todas as regiões do país, com diferenças mais acentuadas nas regiões Sul e Centro-Oeste. Desde 2002, paranaenses comem em média 4 quilos a menos deste tipo de carne por ano.

Para José Raimundo Sousa Ribeiro Jr., um dos realizadores do Atlas, essa dicotomia entre grande produção e menor consumo de carne pode ser explicada por alguns fatores. “O Atlas mostra que a queda na diminuição do consumo desse tipo de alimento se acentuou a partir de 2013. Vários fatores podem explicar isso. Precisamos, por exemplo, observar que existe um aumento no consumo de refeições fora de casa, assim, talvez essas pessoas estejam consumindo mais carne em outros locais. No entanto, a carne é um produto comercial como todos os outros, ou seja, sua produção demanda lucro. Grandes frigoríficos, como a JBS, são os maiores produtores. Para eles não importa quem vai consumir, se são os brasileiros ou se a produção vai para o exterior, o que importa é o lucro. Num cenário econômico no qual os rendimentos familiares estão recuando, o consumo da carne consequentemente diminui e boa parte do que é produzido vai para outros países”, explica.

Fonte: Atlas das Situações Alimentares no Brasil – A disponibilidade domiciliar de alimentos e a fome no Brasil contemporâneo

Mas na casa dos Espinoza, assim como na de Marlei, não falta apenas na carne. Também é raro o consumo de frutas, legumes e verduras.  Entre 2002 e 2018 houve queda na aquisição de hortaliças e tuberosas em todas as regiões do país, com exceção do Centro-Oeste. A classe que mais consumiu esse tipo de alimento no Sul foi a que ganha entre 10 a 15 salários mínimos, cerca de 45 quilos, o dobro da que recebe dois salários mínimos, 22,5 quilos.

Já com relação a frutas, conforme o Atlas, em todas as regiões brasileiras, observa- se o crescimento da aquisição desse tipo de alimento no primeiro período analisado e uma queda no segundo. A região que observa o maior consumo per capita de frutas no país é a Sul. Mas, novamente a classe de rendimento dita quem consome mais esse alimento. Os que ganham entre 10 a 15 salários mínimos consomem cerca de 60 quilos por ano, 40 quilos a mais daqueles que ganham cerca de dois salários mínimos por mês.

David Miguel é outro filho de Laura Espinoza. Aos 12 anos, costuma comer alimentos mais variados apenas na escola. “Gosto muito dos lanches. Às vezes tem iogurte, leite e até biscoito”, conta ao lado das irmãs menores, Lauriannys de oito anos e Lauribell de apenas um. O consumo de panificados também teve queda desde de 2002, como observa o Atlas. O Paraná foi, entre os estados do Sul, onde menos se consumiu esse tipo de alimento no período analisado. Entre os seis estados que apresentaram maior aquisição de panificados ao longo dos períodos analisados, cinco estavam localizados na região Nordeste e um na região Norte. Os ricos do Paraná também tomam mais leite do que os pobres. Aqueles que ganham mais de 15 salários mínimos por mês bebem 71 litros por ano, enquanto que quem ganha até dois salários mínimos bebe a metade, cerca de 35 litros. É a maior diferença do país.

Fonte: Atlas das Situações Alimentares no Brasil – A disponibilidade domiciliar de alimentos e a fome no Brasil contemporâneo

“Às vezes, minha única refeição do dia é um pão que alguém me dá”

Papelão, latas, plástico e madeira tomam conta do pequeno quintal de Ailton Peixoto da Silva. Mais conhecido como Seu Leôncio – referência a um personagem do desenho Pica-Pau que ostenta espeço bigode- Ailton, assim como outras 350 famílias, vive na Ocupação Jardim Veneza, no Bairro Tatuquara, em Curitiba. A ocupação é fruto da iniciativa e organização do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

Leôncio passou fome quando viveu nas ruas dos 14 aos 18 anos. Quase 30 anos depois e ela ainda o persegue. Foto: Emerson Nogueira

Leôncio tem 47 anos, mas aparenta bem mais. Trabalha como catador de reciclados e faz do terreno onde mora um depósito. Ele sai todas as manhãs e caminha quilômetros em busca de matéria prima em diversas lixeiras dos bairros vizinhos. Mas retorna perto do meio dia. Volta porque a possibilidade de se alimentar está na cozinha comunitária que o MTST criou no Jardim Veneza. Ela distribui, gratuitamente, centenas de almoços. Para muitos, como Leôncio, é a única chance de se alimentar do dia. “Como só aqui. Se não fosse o almoço servido na cozinha eu passava fome. Tem dias que não consigo chegar a tempo de pegar almoço e aí, às vezes, minha única refeição é um pão que alguém me dá na rua”, lamenta o catador de reciclados.

A cozinha do MTST cumpre um papel social que deveria ser do estado. Alimenta centenas de pessoas todos os dias do mês, garantindo a sobrevivência delas. Assim como o trabalho solidário na Ocupação Jardim Veneza garante a vida de Leôncio, em Colombo, um trabalho social também garante a vida das famílias de Marlei e de Laura. Adriana Maria Matias é coordenadora da Pastoral do Migrante e Assistente Social com especialização em Serviço social, formada também em pedagogia. Ela atua na Paróquia Católica Santa Teresinha de Lisieux, que atende cerca de 370 famílias na região do Bairro Guaraituba. Adriana trabalha com famílias em extrema pobreza. A princípio, sua atuação de dá por meio de um atendimento básico que procura direcionar as famílias para serviços sociais oferecidos pela prefeitura municipal. “É de extrema importância que as comunidades procuradas pelas famílias possam oferecer acolhida e posteriormente encaminhamentos para os serviços públicos do município. O atendimento da Pastoral Social da Paróquia Santa Teresinha é pontual e depende de doações da comunidade, através do fornecimento de móveis, alimentação, itens de higiene pessoal, produtos de limpeza, roupas, encaminhamento para o mercado de trabalho”, revela Adriana.

A cozinha solidária do MTST é a única fonte de alimentação de muitas famílias. Foto: Emerson Nogueira

A assistente social conta que a situação das famílias em vulnerabilidade na região piorou muito com a pandemia de Coronavírus. Hoje, mesmo que o atendimento da Pastoral tenha caráter básico, muitas pessoas se alimentam por conta desse trabalho.  Mesmo assim ele ainda está longe de conseguir suprir as necessidades das famílias. “Hoje, nossa paróquia tem em torno de 370 famílias devidamente cadastradas para receberem uma cesta básica que nem sempre atende as necessidades nutricionais e o grande número de pessoas nas famílias”, destaca.

A produção da pobreza no Brasil

Marlei, Laura e Leôncio não se conhecem, no entanto, carregam histórias parecidas. Todos viveram tragédias pessoais que tiveram a fome como pano de fundo. Marlei criou os filhos sozinha e hoje cria os netos. Há alguns anos teve tuberculose. A doença se agravou por uma depressão. Perdeu muitos quilos e penou durante meses no leito de um hospital. Hoje, pena para dar de comer a nove bocas, além da sua. Franzina, carrega na história a condenação por ter nascido pobre, por ter nascido mulher. Laura nasceu a milhares de quilômetros de Colombo. Percorreu fronteiras fugindo do monstro que buscava morada no estômago dos filhos. Mas o encontrou também aqui, bem longe de sua terra natal. E, Leôncio, que viveu na rua quando adolescente, viu dois de seus filhos e sete da ex-esposa padecerem de fome, tem como companhia, no pequeno barraco que teima em ficar em pé mesmo com a fragilidade das paredes de madeira, a mesma fome que se esconde nos armários e geladeiras de 19 milhões de brasileiros.

Mas nada é obra do acaso. A sina dos três foi produzida historicamente por uma série de desmontes de políticas sociais e também pela falta de implementação delas. Quem explica porque, no período entre 2004 e 2013 a fome e o risco de fome apresentaram uma tendência de queda no Brasil e, entre 2013 e 2017-2018, a tendência que se observa, segundo dados do IBGE, é de um aumento expressivo dessas duas situações, é Kauê Avanzi, professor e Doutorando em Geografia pelo Programa de Pós-graduação em Geografia Humana (PPGH) da Universidade de São Paulo (USP). “A fome tem aumentado em todo o planeta, em decorrência da concentração fundiária e do modelo corporativo de produção de alimentos que desloca de maneira perversa camponeses e comunidades tradicionais de ambientes que as sustentaram por gerações para as cidades onde, no geral, habitam locais que não lhe dão o básico de dignidade, do qual as favelas, que se generalizam por todo o mundo, são um bom exemplo. No relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2020, de 13/07/2020, a FAO, e outras instituições afirmam que o fenômeno da fome afetava 47,7 milhões de pessoas na América Latina e Caribe em 2019 e que esse é o quinto ano consecutivo de aumento da fome no continente, com projeções para os anos seguintes ainda piores tendo em vista a contabilização dos impactos da pandemia na segurança alimentar. Para 2030, as previsões do SOFI chegam a 67 milhões de pessoas”, alerta.

Conforme explica Kauê, por meio de políticas sociais que ocorreram entre 2004 e 2013, fruto da conciliação de classes consolidada com governos de esquerda no Brasil, estávamos na contramão das estatísticas globais. “Desde 2013 vivemos o desmonte destas políticas e a intensificação de um modelo de gestão econômica radicalmente neoliberal, o que causa dificuldades enormes às famílias brasileiras, já que o Estado deixa de garantir com que a própria população consiga alimentar de maneira adequada, mesmo que nossa produção agrícola tenha se tornado maior neste mesmo período”, completa.

Avanzi também pontua que a produção da fome está alicerçada em pilares históricos. “Existem três heranças que ainda nos travam muito enquanto país. A primeira delas é a racial, já que indígenas e negros foram e ainda são considerados grupos de segunda classe, que não desfrutam da cidadania prometida pela democracia burguesa; A segunda delas é a desigualdade de gênero e de representação política da mulher no Brasil, que é uma das maiores do mundo. Costumamos nos referir a países do Oriente Médio como opressores com as mulheres. Mas países como Afeganistão possuem 27% de mulheres eleitas no parlamento, a África do Sul 45,8%, enquanto o Brasil apresenta apenas 15,2%; A terceira herança é a concentração fundiária, que no Brasil é gigantesca. Grande parte das terras agrícolas do país estão nas mãos de poucas famílias e corporações como bancos e empresas do agronegócio. Não atoa o atual governo brasileiro, que radicaliza esta agenda política liberal e autoritária, os ataques às questões de gênero, raça e aos povos do campo e das florestas, como os indígenas e camponeses. A pauta econômica e a chamada ‘agenda moral’ do governo são tratadas como independentes uma da outra, mas estão intimamente conectadas”, finaliza.

Você pode ajudar as famílias que foram personagens desta reportagem:

Adriana Matias, assistente social que trabalha com famílias em extrema pobreza no bairro Guaraituba, em Colombo, pode ser encontrada no telefone: (41) 99702-4602.

A Cozinha Solidária do MTST, que serve centenas de refeições gratuitamente todos os dias, pode receber doações por meio da Chave-PIX: mtstparana@gmail.com

 

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About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.