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Famílias indígenas pedem ajuda para sobreviver em Curitiba

Por José Pires e Emerson Nogueira

Fotos: Emerson Nogueira

Kaingangs vindos da Terra Indígena de Nonoai, no Rio Grande do Sul, lutam para sobreviver por meio da venda de artesanatos no Centro de Curitiba. A família de Marciano da Silva chegou há duas semanas e é composta por ele e a esposa. A outra família é mais numerosa, Jef e Janaína Salvador estão desde o final de 2020 e têm quatros filhos. O grupo enfrenta dificuldades para se alimentar e para pagar o aluguel do pensionato onde vivem. Com as mudanças constantes de bandeiras restritivas por conta da Covid-19 na capital paranaense, fazer as refeições diárias e não dormir na rua se tornou um desafio.

As duas famílias estão entre os indígenas do Rio Grande do Sul que passam ao menos uma temporada do ano em centros urbanos. Em busca de uma forma de renda, se aventuram em cidades do estado gaúcho, de Santa Catarina e do Paraná.

Vivem o reflexo da falta de investimento e políticas públicas para a população indígena. Os povos originários possuem os piores indicadores de saúde, educação e emprego. Representam 30% da população em situação de extrema pobreza, de acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Cerca de 82% estão submetidos à informalidade no mundo do trabalho.

As famílias de Marciano e de Jef vivem períodos de aldeamento e temporadas como não aldeados. Assim, elas estão entre 325 mil indígenas não aldeados que são invisíveis aos olhos das políticas públicas. De acordo com o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos mais de 800 mil indígenas no país, 38% vivem ou passam períodos do ano nas cidades. Além da invisibilidade, são vítimas de genocídio diante da pandemia do novo coronavírus.

Entre os Kaingangs que vendem artesanato no centro da capital paranaense todos os adultos foram imunizados contra o Coronavírus, as crianças tomaram as vacinas contra a gripe, apenas. Marciano e esposa foram vacinados em Nonoai, Jef e Janaína tomaram a vacina em Curitiba, por meio do serviço do “Mãe Curitibana”. Mesmo imunizados, os indígenas não estão livres dos efeitos da pandemia. As medidas restritivas impostas pela prefeitura de Curitiba para frear a disseminação do vírus prejudicou consideravelmente a venda do artesanato. “Com as lojas fechadas menos pessoas circulavam pelas ruas. Assim nós vendemos bem menos, nossa renda caiu bastante”, destaca Jef que, ao lado da esposa, vende balaios, cestos, filtros do sonho, entre outras peças de artesanato. Ele também precisou recorrer a um emprego informal para conseguir sobreviver com a família nos últimos meses.

as restrições ao funcionamento do comércio durante a pandemia fez cair a venda de artesanatos das famílias kaingangs

As duas famílias vivem em um pensionato no Centro da Capital. Em novembro de 2020 o Parágrafo 2 denunciou que a Casa de Passagem do Indígena em Curitiba (Capai) estava fechada desde março daquele ano. Um ano depois ela continua sem oferecer atendimento. Na época, questionada pela reportagem, a prefeitura de Curitiba encaminhou a seguinte nota:

 “Em função da pandemia da covid-19, os indígenas que vinham a Curitiba para a venda de artesanato deixaram a cidade. 

Em 20 de março, a Fundação de Ação Social (FAS) garantiu o retorno de 65 índios para suas aldeias. O grupo estava abrigado na Casa de Passagem Indígena (Capai) – unidade mantida pelo município para atender essa população.

O embarque dos indígenas atendeu pedidos dos caciques das aldeias Rio das Cobras, localizada no município de Nova Laranjeiras, e Ivaí, em Manoel Ribas, que ficam nas regiões centro-sul e centro-norte do Estado, respectivamente. Mesmo antes da pandemia, a vinda de indígenas para Curitiba dependia, na maioria das vezes, de autorização dos caciques, que faziam o controle de fluxo.

Com a desocupação da unidade e também com o reordenamento de serviços, necessário durante a pandemia, a FAS passou a usar o espaço – que funcionava na Praça Plínio Tourinho – para o atendimento à população em situação de rua, grupo mais vulnerável ao novo coronavírus.

Famílias pedem ajuda

As duas famílias pedem ajuda para se manter e garantir ao menos a alimentação dos filhos. Demais doações também são bem-vindas.

O contato para as doações pode ser feitos pelos telefones:

(54) 99966-5689 Marciano da Silva

(54) 99267-4077 Jef  

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.