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Estudantes Indígenas da UFPR se mobilizam por moradia, cerca de 80% desiste do ensino superior por não ter onde viver

Fotos: colaboração.

No dia 27/05 estudantes indígenas ocuparam o prédio do Diretório Central do Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O movimento, denominado “Maloca UFPR” reivindica moradia para alunos indígenas que cursam ensino superior em Curitiba, em Toledo e no litoral do Paraná.

Hoje, participam da ocupação cerca de 30 estudantes da UFPR, do campus Toledo e de campis de Curitiba e do litoral, além da presença de um acadêmico da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

A Federal do Paraná tem 64 estudantes indígenas que vêm de cidades do interior e também de outros estados. Não há moradia para estes estudantes, apenas um auxílio de R$ 345 mensais que não são suficientes para custear o aluguel, principalmente na capital. Gislaine Vieira é estudante de Nutrição na UFPR e presidenta do Coletivo dos Acadêmicos Indígenas. Ela, que é do Rio Grande do Sul, explica que alunos indígenas que estudam em Curitiba geralmente ficam na Aldeia kakané Porã no bairro Campo de Santana ou no Território Floresta Estadual Metropolitana, na cidade de Piraquara a cerca de 30 quilômetros da Reitoria da UFPR. Há também dois estudantes vivendo na Casa do Estudante Universitário (CEU).

Gislaine destaca que a falta de moradia é responsável pela desistência de muitos estudantes indígenas. Estudar e se manter em Curitiba, assim como em Toledo e no litoral do Paraná, pagando aluguel e deslocamento, fica inviável para muitos alunos. “A cada ano, de 10 acadêmicos indígenas, apenas dois ou três permanecem na universidade”, diz.

Mais do que uma “simples moradia”

A moradia para estudantes indígenas não tem relação apenas com a possibilidade de ficar sob um teto enquanto se cursa o ensino superior. Ela tem relação com a manutenção da cultura indígena e a socialização com outros estudantes dos povos originários. No cotidiano destes alunos, faz falta viver em conjunto, buscar espiritualidade em sua terra e praticar sua própria língua. Com a Casa do Estudante Indígena, é isso que eles tentarão manter, focando em trazer as práticas que identificam seus povos: as artes, as danças e os rituais. 

Dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do censo da educação superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostram um crescimento de 374% do número de indígenas estudantes no ensino superior do país.

Esse cenário tem relação principalmente com a Lei nº 12.711/2012, conhecida como Lei de Cotas, que prescreve a reserva de vagas em instituições federais de ensino superior para segmentos sociais específicos, como os povos indígenas.

Entretanto, a evasão de estudantes indígenas no ensino superior é alta. Como destacado por Gislaine Vieira, na UFPR, por exemplo, cerca de 80% dos estudantes dos povos originários não termina a graduação.

E isso tem relação direta com dificuldades financeiras; ausência de estratégias de acolhimento e acompanhamento acadêmico específicos para um público multilíngue; distância de seus territórios e parentes; desafios emocionais ligados à saudade; adaptação a contextos socioculturais muito diferentes e exposição a manifestações explícitas de preconceitos e racismo e falta de moradia.

Reunião e Grupo de Trabalho

Na última terça-feira (28), depois de uma reunião com a Reitoria da UFPR, foi criado um Grupo de Trabalho para planejar a construção de uma moradia universitária indígena em Curitiba.

Reunião com o Grupo de Trabalho que vai formular projeto para a construção de uma casa para os estudantes indígenas. Foto: Colaboração.

Mesmo diante desse avanço a ocupação do DCE continua e os estudantes indígenas pedem doações. Eles buscam recursos para alimentação, agasalhos, cobertores, e/ou higiene, além de chuveiro, já que não há chuveiros suficientes no prédio do DCE.

Na manhã desta sexta-feira (31) o prédio do DCE estava sem luz.

As doações podem ser feitas por meio do QRCODE abaixo, ou encaminhados diretamente no prédio do DCE que fica na Rua General Carneiro, 390 – Alto da Glória, ao lado do Prédio da Reitoria da UFPR.

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.

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