O ato
Quem passou pela Avenida Iraí, em Pinhais, no final da tarde de domingo (23), deparou-se com uma cena chocante. Professores e professoras ao redor da Secretaria Municipal de Educação, com uma vela acesa nas mãos, representando as inúmeras mortes a que uma decisão, puramente política, poderá levar.
O ato foi organizado pela Frente de educadores e educadoras das escolas de Pinhais e Piraquara, SIDEDUC (Sindicato dos professores de Pinhais), APP independente.
Os trabalhadores da educação, em suas falas, salientaram que desejam o retorno seguro das aulas presenciais, como o próprio governador Ratinho Júnior (PSD) sinalizou que a reabertura das escolas se daria após vacinação, mas depois voltou atrás.
Educadoras da rede pública municipal manifestaram o descontentamento de como são tratadas pela Secretaria Municipal de Educação e da pressão que as escolas vêm sofrendo por parte do poder municipal para retornar às aulas sem vacinação.

Volta às aulas presenciais acontece próxima a nova onda de Covid-19. Foto: Emerson Nogueira
Decisões políticas que ignoram a ciência
A APP Metronorte, na data de 19/05/2021, teve uma reunião com Ricardo Pinheiro (secretário de governo de Pinhais), Adriane Carvalho (secretária municipal de saúde) e Andrea Franceschini (secretária municipal de educação), na qual protocolou um estudo do INPA (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia) realizado em municípios do Paraná, que alerta o perigo da volta às aulas presenciais.
O argumento de Andrea Franceschini para a reabertura em meio à elevada taxa de contágio no estado “se dá mais por questões emocionais dos estudantes do que pedagógicas”, como mostra o relato feito na página da APP Sindicato.
Pinhais é a única cidade do estado que abrirá todas as escolas a partir de segunda (24), ignorando os estudos realizados pelo INPA, ignorando a escassa vacinação, além de não limitar o número de alunos por sala, desde que se tenha 1,5 metros de distância.

Foto: Emerson Nogueira
Ao reabrir as escolas municipais, Marli Paulino (PSD) promove, com sua decisão, a reabertura das estaduais, pois, é a partir da reabertura do Município que se dá a reabertura do Estado. Para fazer um agrado político ao governador, a prefeita ignora a taxa de ocupação de leitos de UTI Covid em Curitiba, que já ultrapassa os 90%. Pinhais não tem um único leito de UTI, quem dirá para Covid. Além disso o Paraná está em terceiro lugar nacional na taxa de contágio.
Em uma declaração de 16/03, o Secretário Ricardo Pinheiro lamentou a desunião das cidades da Região Metropolitana de Curitiba em tomar decisões que visam o combate à pandemia. O que fez o Secretário mudar tão rápido de opinião?
Bastidores e reviravolta
Horas antes do ato em Pinhais, a chefe do Núcleo Regional de Educação da Área Metropolitana Norte, Alexandra de Fátima, pediu exoneração do cargo de chefia, alegando motivos pessoais. Junto com a Secretaria de Educação (SEED-PR), os Núcleos regionais é que exercem as pressões sobre os diretores para a reabertura das escolas no auge da pandemia.
Na reunião do dia 21/03 – entre o Secretário da educação do Paraná, o empresário paulista, Renato Feder, os prefeitos que compõem a Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense (AMUSEP) e o Ministro da Educação, Milton Ribeiro – houve uma reviravolta: os prefeitos decidiram pela não reabertura das escolas nos municípios do Noroeste do Estado, levando em conta o colapso iminente do sistema de saúde. Ao todo, das escolas que voltariam já se somam 47 munícipios que preferiam ouvir à ciência do que decisões políticas arbitrárias.

Foto Emerson Nogueira