No próximo sábado (22), mais um indígena lançará sua pré-candidatura à Câmara Municipal Curitiba. Eloy Nhandewa, que é do povo Guarani Nhandewa, disputará pela segunda vez uma vaga no legislativo da capital, concorrendo nestas eleições pelo PSOL.
Com o mote “Curitiba é Terra Indígena”, a pré-candidatura de Eloy se soma a outras de indígenas que também disputarão uma cadeira no legislativo de Curitiba. Nas últimas semanas, confirmaram suas pré-candidaturas Jovina Renhga, Kaingang da Aldeia Kakané Porã que deve disputar uma vaga pelo PT; Kixirrá Jamamadi que também disputará pelo PT e Camila Kaingang, também da Aldeia Kakané Porã, que concorrerá a uma vaga pelo PcdoB no Coletivo das Culturas.
A quantidade de candidaturas indígenas apresentou um importante crescimento nos últimos pleitos em todo o país. Nas eleições de 2020, a Justiça Eleitoral registrou 1.721 candidaturas autodeclaradas indígenas, um crescimento de 11% em relação à anterior, de 2016, quando 1.546 indígenas se candidataram.
O Estado do Paraná teve, nas últimas eleições municipais, 33.854 candidaturas disputando as cadeiras do legislativo e 1.329 as do executivo. Entre os milhares de postulantes aos cargos eletivos haviam 46 indígenas, o que representava 0,13% do total de candidatos. Representantes dos povos originários disputavam vagas em 27 municípios paranaenses, todas para o cargo de vereador. Em Curitiba e Região Metropolitana seis candidatos declararam ser da cor/raça indígena.
Já nas eleições de 2024, o número de candidatos e candidatas indígenas deve crescer consideravelmente por conta das cotas para candidaturas indígenas. No mês de fevereiro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que partidos e federações partidárias com candidaturas indígenas registradas terão direito à distribuição proporcional de recursos financeiros do Fundo Partidário (Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos), e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), bem como, de tempo gratuito de rádio e televisão.
As cotas serão aplicadas de acordo com a proporção da população indígena em cada unidade federativa, garantindo que regiões com maior presença indígena tenham uma representação proporcionalmente maior. Isso significa que estados com uma população indígena mais numerosa terão mais vagas reservadas para candidaturas indígenas.
Sobre Eloy Nhandewa
É do povo Guarani Nhandewa e nasceu em Curitiba. Pedagogo, militante indígena, professor bilíngue de guarani e kaingang. Eloy é casado e pai de quatro filhos. Já foi vereador pelo PDT na cidade de Santa Amélia, no norte do Paraná e concorre à Câmara de Curitiba pela segunda vez.
Sua trajetória na militância indígena começou no ano de 2001 quando teve contato com as causas por meio do movimento que lutava para o ingresso de indígenas nas universidades. Naquele ano, aconteceu o primeiro vestibular indígena e por meio dele Eloy se aproximou das lideranças e começou a participar da construção de políticas que possibilitassem o acesso dos povos originários ao ensino superior.
Em 2004 foi aprovado no vestibular da Faculdade Estadual de Direito do Norte Pioneiro (Fundinopi), hoje Unespar. Cursou dois anos, mas como já participava ativamente da militância não conseguiu conciliar aulas e luta e a faculdade ficou de lado.
Em 2010 foi eleito presidente do Conselho Indígena Estadual do Paraná e ficou dois anos no cargo.
Desde 2021 Eloy é uma das lideranças que organiza a Retomada Indígena da Floresta Metropolitana, no município de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. Lá, famílias Guarani e Kaingang operacionalizam a recuperação da mata nativa e a retirada das espécies invasoras do Território Sagrado.
Lançamento da Pré-candidatura
O lançamento da Pré-candidatura de Eloy Nhandewa acontece no próximo sábado (22) a partir das 15 h na sede do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindpetro).
O sindicato fica na Rua Lamenha Lins, 2064, no Rebouças em Curitiba.
O evento terá música, comidas, bebidas e apresentações culturais.
Inscreva-se pelo link: https://bit.ly/3VuJMRs
Histórico indígenas eleitos no Brasil
Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o primeiro indígena eleito no país foi Manoel dos Santos, seu Coco, do povo Karipuna, que se elegeu no ano de 1969. Ele cumpriu mandato como vereador na cidade de Oiapoque, no Amapá.
Em 1976, o Cacique Angelo Kretã ganhava uma cadeira na Câmara Municipal de Mangueirinha (PR), após lutar na Justiça pelo direito de candidatar-se.
No âmbito federal, Mario Juruá se tornava o primeiro indígena a ocupar o cargo de deputado federal em 1982 – seis anos depois os direitos indígenas eram reconhecidos na Constituição Federal.
O primeiro prefeito indígena eleito, registrado pelo movimento indígena, foi no ano de 1996. João Neves, do povo Galibi-Marworno, comandou o executivo do município de Oiapoque, no Amapá.
A partir de 2014, o Tribunal Superior Eleitoral passou a incluir registro de cor/raça dos candidatos.
Em 2016, concorreram às eleições municipais 1. 715 indígenas. Deste total, foram eleitos 169 vereadores, 6 prefeitos e 10 vice-prefeitos.
A presença feminina nos pleitos eleitorais se consolidou em 2018 com a eleição de Joenia Wapichana como deputada federal e com a participação de Sonia Guajajara em uma chapa para presidência da República que, até então, nunca havia sido disputada pleiteada por uma indígena.