A característica principal de Elis Regina esta na sua boca. A voz, os timbres, a emoção, o sorriso marcante mostrando os dentes e parte da gengiva, a língua apimentada, o jeito debochado, simplesmente, cativante. Dirigido e adaptado por Hugo Prata, com a boa interpretação de Andréia Horta (Elis Regina), a cinebiografia da cantora gaúcha teve estreia no último dia 24, um retrato emocionante da cantora gaúcha.
O filme se passa na vinda da cantora com o pai seu Romeu Costa para o Rio de Janeiro, em 1961, para a gravação de um disco. No entanto, o contato com a gravadora aconteceu em abril e, apenas no mês de agosto, conseguiriam vir à cidade carioca. O produtor, compreensível, explicou que naquele momento os negócios não andavam bem e já tinha uma grande estrela, Nara Leão, a coqueluche do momento.
Após este episódio, Elis consegue audição na peça de um tal “Poetinha” e passa horas na sala com Tom Jobim e Vinícius de Moraes, porém, além da negativa, recebe um deboche de Vinícius ao compará-la com uma “cantora de churrascaria” pelo sotaque, o que a deixou extremamente irritada. Mas, calma nem tudo estava perdido.
Conhecida por “Pimentinha” pela personalidade intensa, Regina insiste em conhecer Nara Leão, ícone da Bossa Nova, “a coqueluche”. Assiste ao show e dispara “canto bem melhor que ela, sou muito mais cantora”, achou o seu jeito chocho de cantar e com a voz para dentro.
Após a apresentação segue Nara e duas figuras conhecidas do Beco das Garrafas até o bar Bottles, Ronaldo Bôscoli e Luiz Carlos Miéli. Os conquistadores, beberrões e malandros se encantam pela pequena, claro primeiro Miéli, depois Bôscoli, “você vai cantar e apenas irá receber se aplaudirem de pé”, diz Ronaldo.
Elis Regina arrasou nas apresentações, a voz potente, cantando alegre pra cima, com um toque de Miéli e Bôscoli, logo, era considerada uma das melhores cantoras do país, recebendo prêmios pela música “Arrastão” de Edu Lobo e, do arrependido, Vinícius de Moraes, no primeiro Festival Popular da Música Brasileira, pela Record
Contratada para apresentar o Fino da Bossa com Jair Rodrigues fica na ponte Rio-São Paulo, mas abandona os shows no Bottles pelas brigas constantes com o mulherengo e debochado Ronaldo.
Com a chegada da Jovem Guarda o programa Fino da Bossa perde audiência e os dois falidos malandros são chamados para uma retomada O clima nas gravações, nada amistoso, entre Regina e Ronaldo prestes a se enforcar ou apaixonar, Miéli com paciência resolvia tudo, um gentleman ou Businessman?
O primeiro marido da cantora tinha vários relacionamentos com Nara Leão, Maysa, a outra, aquela e Elis. Numa briga por traição a Pimentinha encontra um sutiã dentro da sua casa e resolve lançar a coleção toda de Frank Sinatra, xodó de Bôscoli ao mar. Sim, Elis não era mais uma.
Por vezes o filme mostra a cantora como uma pessoa ingênua, inocente, emotiva. Em outras forte e atordoada pelo período complicado da ditadura em que artistas eram convidados a sair do seu país. Após a apresentação no Olimpya (França) os militares colocaram vigilância na casa da cantora, a seguiam para todo lugar, grampearam o telefone e até visitas a amigos presos como Rita Lee, eram motivo de coação.
Em retaliação as palavras consideradas “ofensivas” obrigaram Elis a cantar na abertura dos jogos militares, fato este que foi rechaçado pelo Pasquim, com uma caricatura de Henfil comparando-a a Renate Muller que cantou para Adolf Hitler.
As críticas do jornal carioca renderam desaprovação do público e os shows que seguiram era extremamente vaiada. Este período culminou na mudança da cantora para o sítio, isolamento e mudança de hábitos. No filme, certa hora, João, Pedro e Maria Rita, aparecem assustados com a mãe que coloca todos os prêmios num galinheiro, discos de ouro, troféus, “isto não vale de nada”.
O retorno da cantora aos palcos no show “Falso Brilhante” com atual companheiro o pianista César Camargo Mariano, tem grande aceitação do público e destaca-se a canção “Fascinação”. Na comemoração Elis encontra Henfil, que diz “porra cantando pra milico? Tem um monte de gente presa lá e não entrega ninguém”, daí que vem a canção composta por Aldir Blanc e João Bosco, “o Bebâdo e o Equilibrista”. A cantora mostra a canção ao cartunista, uma cena que faz os espectadores chegarem aos prantos.
Dê certo Andréia Horta põe vivace ao interpretar Elis Regina em momentos que a semelhança física e a emoção tomam conta tela, no final vou te contar ela morre, este clima de decadência vício em cocaína, remédios, álcool, final de relacionamento, a personalidade intensa, muitas vezes é pra encher linguiça, pois não sou grande fã dela, entretanto, temos um bom filme, sobre uma exímia cantora.
Talvez o filme peque por não apresentar duetos e parcerias importantes com Milton Nascimento, Tom Jobim, Belchior, Rita Lee e deter-se apenas ao núcleo Nelson, Miéli e Bôscoli, contudo é emocionante sentir nos olhos a música que Elis expressa pela boca.
O elenco de Elis conta com Gustavo Machado (Ronaldo Bôscoli), Lúcio Mauro Filho (Luis Carlos Miéli), Rodrigo Padolfo (Nelson Motta), Icaro Silva (Jair Rodrigues) Caco Ciocler (Pedro Mariano) e Zé Carlos Machado (Romeu Costa – Pai). Eleito melhor filme pelo festival de gramado e ganhador do Kikito por Melhor Montagem, Tiago Feliciano, e Melhor Atriz Andréia Horta.