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É preciso que a educaçã seja um ato de amor. Fot: Juliana Barbosa.

Educação popular: instrumento de Nova Esperança

“Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”

Paulo Freire

Elis Regina, em seu histórico show-espetáculo Transversal do tempo, constrói uma interpretação crítica sobre o tempo vivido no Brasil de então. O ano era 1978, e o país parecia estar preso para sempre aos militares autoritários no poder. A pressão por mudanças vinha de todas as partes da sociedade: Artistas, atletas, intelectuais, estudantes, professores. Mas nada disso parecia trazer alguma perspectiva de mudança no cenário vivido naqueles anos de chumbo. Havia um peso imenso, transversal a toda a sociedade, e ao mesmo tempo em que a indignação perante os presos políticos, à corrupção e a tortura era enorme, nenhuma ação tomada parecia ter o poder de mudar o que se vivia. A letra da música, que faz o título do espetáculo, expressa este sentimento da seguinte maneira: “As pobres coisas que eu sei/ Podem morrer/ Mas espero/ Como se houvesse um sinal/ Sem sair do amarelo”. Eram tempos de desesperança.

No Brasil de hoje, mais de 40 anos depois do espetáculo de Elis, volta a parecer um sinal sem sair do amarelo, no qual sentimos ainda que a necessidade de avançar sobre o fascismo novamente no poder seja urgente, desesperançosos não o fazemos. Ao observar as notícias que enchem os jornais e as redes sociais, vemos um cenário de terra arrasada, onde não há o que fazer a não ser lamentar as tragédias que se seguem dia após dia, esperando que algo ou alguém intervenha, de cima, por nós. No entanto, longe dos holofotes midiáticos, movimentos sociais tem trabalhado duramente e se movimentado na construção de um novo amanhã.

Cartões com palavras geradoras

Cartões com palavras geradoras dispostas ao centro da conversa. Foto: Juliana Barbosa.

Em Curitiba, o coletivo Marmitas da Terra se organiza desde o início da pandemia em ações de combate à fome na região metropolitana deste município, indo muito além da ação – extremamente importante – de doar marmitas e cestas de alimentos para comunidades onde existem registros de fome. Neste Sábado, 25 de Setembro, mais um passo foi dado nas ações deste coletivo, que em conjunto com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e do Fórum Paranaense de Educação para Jovens e Adultos e as lideranças da ocupação, organizaram uma roda de conversa sobre educação popular na comunidade Nova Esperança, em Campo Magro, trazendo outros horizontes de ação, para além das marmitas que a comunidade recebe às quartas-feiras, da padaria e da horta comunitária. Afinal, matar a fome de alimento, por si só não é o suficiente quando pensamos a quantidade de jovens que estiveram por tanto tempo sem escola, ou dos idosos ainda não alfabetizados. Há também fome de conhecimento nos entornos da “cidade modelo”.

A ocupação Nova Esperança se estrutura a partir da necessidade de moradia que muitos dos desabrigados durante a pandemia possuem – inclusive muitos migrantes haitianos e venezuelanos – e se transformou em um lugar potente de trabalho coletivo, de partilha e de organização popular. Este encontro teve como ponto de partida a partilha das trajetórias de vida de todos os que ali estavam presentes. Os participantes se dispuseram em círculo, ao redor de uma mesa, onde cartões com palavras geradoras estavam dispostos. Viradas para baixo, cada pessoa retirou um dos cartões e apresentou-se pensando o significado da palavra retirada em sua vida. Palavras como sonho, casa, trabalho, comunidade, escola, família e esperança deram tom das histórias de cada um que, tal como uma rede, puderam tecer os pontos em que a vida de um tocava na do outro, e assim poder pensar na força que os une na construção de um outro futuro possível e necessário.

Neste momento, mais uma vez, a educação popular pode nos mostrar a potência do povo organizado, para que possamos avançar contra peso transversal a nosso tempo. A árvore plantada pelos participantes da conversa simboliza exatamente isso, as raízes de cada um de nós unidas na luta pela terra e pela vida digna, no campo e na cidade. É hora de avançar com esperança, porque com já nos dizia o grande Paulo Fraire, esperançar não é espera vazia para que as coisa melhores por si só, mas uma espera ativa, que transforma a realidade. Afinal, a educação pode e deve ser, antes de tudo, um ato de amor, de união popular na luta contra o fascismo e o autoritarismo. Venceremos!

Círculo de conversa sobre educação Popular. Foto: Juliana Barbosa.

About Kauê Avanzi

Kauê Avanzi é doutorando em Geografia pela FFLCH-USP, educador no Ensino Básico, poeta e músico. Gosta de escrever, se divertir e confraternizar.