Martírio (2016), de Vicente Carelli, é um filme necessário para se compreender a situação do indígena no Brasil. A luta pela conservação das tradições ancestrais, dos costumes e rezas, da relação de pertencimento à terra, da qual, somos frutos de uma mesma essência. Que nascemos como sementes e retornaremos como alimento. Da insistência vil na sucessão de governos e donos de terra de destituir o indígena da sua origem e influir com o aparelho da força numa sociedade constituída com o alicerce dos seus ancestrais.
O diretor do documentário, Vicent Carelli, enfoca a redução nas demarcações de territórios, processos parados na mesa do (vice) presidente Michel Temer que não assinou nenhum destes no dia 19 de abril e flerta abertamente com os interesses da bancada ruralista na redução de áreas de preservação, em mais uma tentativa frustrada de se perpetuar no poder. Das denominações carismáticas dando continuidade a catequização e a vergonha do pecado de serem livres e destituídos de culpa, ganhando almas e servientes a falsos profetas como Waldomiro Santiago, num mercado em que a fé, bem como a terra, é apenas negócio.
O documentário investigativo de Carelli de três décadas desemboca na trilogia de Corumbiara (2009), que aborda os massacres de indígenas na região na Gleba Corumbiara, no sul de Rondônia, causada por fazendeiros de gado contra as demarcações da Funai, em 1985. Martírio (2016) e Adeus, Capitão (sem data) sobre o líder do povo gavião Parketejê, Topramre Krohokrenhum Jõpaipaire, morto em 2016 no Pará aos 90 anos. A trilogia apresenta as lutas indígenas no processo de transição da ditadura à democracia em que os povos indígenas, constantemente, são excluídos das garantias aos direitos fundamentais, concentrado numa pequena parcela e distantes das ações do Estado.
Os ataques frequentes de capangas contratados, empresas de segurança, as áreas de povos indígenas Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e outras regiões do país, num conflito desproporcional com amputações e mortes, excluído da cobertura midiática. O diretor consegue transpassar o sentimento de isolamento na trincheira contra políticas de exclusão e abandono, o genocídio de um povo fato real que, infelizmente, esta longe de acabar. Famílias isoladas na beira de estradas vivendo de forma marginal, grãos de areia contra o vento carregado pelo tráfego de carros e do progresso. Porém, mesmo sobre a fuligem da indústria e distantes das suas raízes, trazem no corpo a pintura, as cores da terra e o espírito indômito da floresta.
O documentário Martírio (2016), de Vincent Carelli, é um registro para história da vergonha humana uma obra mais do que necessária, obrigatória. Confesso, por alguns momentos tive vontade de largar o filme pela metade de indignação e asco, sendo um recorte da situação real e apenas uma fatia do bolo, no mínimo, é de sentir vergonha.
FONTES
https://www.cartacapital.com.br/cultura/martirio-um-filme-para-indignar-brasilia
http://www.vermelho.org.br/noticia/310214-1
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/adeus-capitao-krohokrenhum
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