Foto: Juruá Online
Entre 1985 e 2015 o Sul do país registrou 59 assassinatos de indígenas. Paraná e Rio Grande do Sul somam 22 casos cada, já Santa Catarina registra 15. No Brasil, em 30 anos, 1.003 foram mortos. Os dados são da Cartografia dos Ataques Indígenas (Caci). E estão disponíveis no site: http://caci.cimi.org.br.
A iniciativa organizou, em um mapa, registros de assassinatos de indígenas no Brasil no período de 1985 a 2015. É a primeira vez que as informações foram sistematizadas e georreferenciadas em uma visualização que permite olhar os casos em sua dimensão territorial. É o primeiro passo, conforme explica o site, na tentativa de mobilizar um grupo de atores para reunir, sistematizar e visibilizar informações sobre assassinatos de indígenas, tema que nem sempre ganha a atenção que merece. A plataforma pode ser aprimorada nos próximos anos.
O projeto foi desenvolvido pela Fundação Rosa Luxemburgo, em parceria com Armazém Memória e InfoAmazonia. Segundo o site, o georreferenciamento das informações teve como base relatórios do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT) produzidos entre 1985 e 2015, e foi feito a partir da região em que os crimes aconteceram. Não é um levantamento completo. Infelizmente, o número de assassinatos no período é muito maior do que os registrados pelas duas organizações. Mas trata-se de uma base sólida que, por si só, é um registro histórico que pode servir como ponto de partida para pesquisas e análises aprofundadas.
Dossiês e análise
Além de georreferenciar e disponibilizar os dados, também foram organizados quatro dossiês com análises aprofundadas sobre casos emblemáticos. Eles combinam informações reunidas em arquivos históricos com os dados dos mapas e podem ser consultados a partir da palavra “dossiês” na aba superior. O principal talvez seja o assassinato em massa do povo Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul, classificado como genocídio.
Paraná
Entre 1985 e 2015 o estado do Paraná registrou 22 assassinatos de indígenas, entre eles estavam duas crianças, uma em Chopinzinho em 2013 e outra em Laranjeiras do Sul, no ano de 2015.
Guaíra, com três mortes, é o local onde mais se assassinaram indígenas no estado. Entre as motivações para os assassinatos no Paraná estavam disputadas de terra, como o caso da morte de Ademir Mendes Alvez, em Palmas, no ano de 2003. Segundo o levantamento, Ademir, uma liderança indígena e sobrinho do cacique Albino Veri, foi degolado por um facão em uma emboscada nas proximidades da aldeia em que morava, enquanto se dirigia pra casa. O acusado, morador vizinho da terra Indígena, matou a vítima por ciúmes, pois era amante da esposa de Mendes. A comunidade indígena, porém, acredita que o crime está relacionado à invasão das terras indígenas, pois a vítima estava sendo ameaçada desde que participou da demarcação e expulsão de madeireiras da região.
Santa Catarina
Em Santa Catarina, 15 indígenas foram mortos desde 1985. Destes, oito assassinatos aconteceram no município de Ipuaçu. Entre as motivações estão brigas em festas e aqueles relacionados a disputas internas dentro das comunidades indígenas, como o caso de Orides Belino da Silva, morto em 2003 no município de Ipuaçu. Orides, cacique e vice-prefeito da cidade, foi morto com dois tiros de espingarda pelas costas, enquanto chegava em casa. O acusado Valdo Correa, irmão da vítima, tinha sido cacique antes de Orides assumir, e teve vários problemas com a justiça. Acabou saindo da comunidade para morar na aldeia Nonoai, no Rio Grande do Sul. Os acusados cometeram o crime para conseguirem poder político dentro da comunidade indígena. Todos os acusados respondem pela ação penal nº 2003.72.02.001706-2, em tramitação na 2ª Vara da JF de Chapecó, estado de SC.
Santa Catarina registra também um caso emblemático, a morte de Vitor, uma criança indígena assassinada de modo cruel em Imbituba no ano de 2015. O menino estava no colo da mãe na rodoviária, com o pai e dois irmãos. A família se deslocara da aldeia e procurava um local para vender artesanato. Um homem se aproximou, acariciou o rosto da criança e a atacou com um estilete no pescoço, degolando-a.
Rio Grande do Sul
Em três décadas 22 homicídios contra indígenas aconteceram no Rio Grande do Sul. Três deles em Miraguaí, três em Redentor e três em Tenente Portela. Estes foram os municípios que mais registraram assassinatos de indígenas no estado.
Entre as vítimas está um garoto de 10 anos, da Terra Indígena Ventarra que foi estrangulado por um maníaco que já havia cometido o assassinato de outros meninos no ano de 2003. Seu corpo foi encontrado um matagal nas proximidades da RS-153, perto de posto de combustível onde a vítima vendia artesanato. A polícia acredita que a vítima tenha sido assassinada no dia do seu desaparecimento. A família da vítima se mudou de Passo Fundo em decorrência do assassinato, indo para uma aldeia em Chapecó (SC).
Em 2003, Leopoldo Crespo foi morto no município de Miraguaí. O crime emblemático foi motivado por preconceito. A vítima, que era da Terra Indígena Guarita, foi morta no centro do município a chutes e pedradas pelos acusados, que o atacaram por preconceito contra indígenas. Os dois assassinos, maiores de idade, foram julgados e condenados por homicídio duplamente qualificado. Roberto foi condenado a 14 anos de reclusão. Almiro foi condenado a 11 anos. Eles cumprem a pena na Penitenciária Estadual de Três Passos. O acusado menor de idade foi internado na Fundação de Atendimento Socioeducativo de Santo Ângelo.