Coluna Filosofia Di vina
Em duas das mais famosas obras da humanidade, “Ética a Nicômacos” e “Política”, Aristóteles reflete sobre condição social humana. Nestas obras, aparecem as seguintes teses: o homem é um animal político por natureza e a política é a ciência da felicidade humana. O homem desenvolve suas potencialidades em sociedade e a política deve garantir a maneira de viver que possibilite o alcance da felicidade, afinal, todos os seres humanos têm como fim último da vida a felicidade.
O que faria Aristóteles no Brasil nos idos de 2016? Vendo suas teses serem colocadas em xeque, logo ele, que visou separar os seres vivos e classificá-los para melhor compreende-los, provavelmente chegaria a conclusão de estar diante de uma outra categoria de seres, nem tão política, mas com a parte animal evidente, um ser novo no mundo.
O bem comum que a política deveria garantir, no Brasil não aparece nem como farsa. Nossa ideologia de segunda nem visa mascarar a realidade. A coisa por aqui é escancarada, sob a luz do dia e com aplauso encalorado dos adestrados da poltrona, dos fiéis desta religião indigesta chamada mídia, religião que como das boas que é, tem seus próprios santos e demônios.
No país onde tudo funciona de forma diferente, um bom exemplo é a polícia no Paraná que, visando ajudar a Araupel, a acudir um incêndio acaba matando dois e ferindo sete. Obviamente que o engano se entende, afinal, quem não confunde pistola .40 e escopeta com mangueiras, e sem-terra com focos de incêndio? A secretaria de segurança pública do PR, esta mesma, que era comandada pelo xerife Francischini, na época do massacre dos professores, tenta justificar dizendo que a PM sofreu uma emboscada, e como em toda emboscada aquele que faz, a faz sem armas, contra duas viaturas de policiais treinados acompanhados de seguranças da empresa: em outras palavras o estado paranaense comandado pelo playboy Beto Richa e a Araupel resolveram tudo à maneira coronelista brasileira, mandando seus capatazes, fardados ou não, resolver a situação .A amizade entre a Araupel e Richa vem de antes, e entre os mimos trocados estão 150 mil reais doados à campanha do tucano e o terror instaurado pela PM em Quedas do Iguaçu. Mortos, feridos e isolados pela própria PM, eis a situação dos sem-terra. Como será que Aristóteles veria isso?
No picadeiro da Câmara Federal, na noite de 17 de abril de 2016, a fauna política brasileira se mostrou de corpo e alma. Deputados fantasiados, alcoolizados, outros trazendo o filho mais novo para votar fizeram o cenário na tragicomédia tupiniquim.
Aristóteles, provavelmente jogaria os papiros para ar ao perceber que todo um corpo político não visa o bem comum como ele escreveu, mas sim obedecem uma pauta econômica que está além das capas da Veja. Uma pauta extremamente perigosa para a nação como um todo, que junta de uma só vez impunidade, pré-sal e retirada de direitos.
É claro que Aristóteles não tem a vantagem de, como nós, ter visto programas como o da loira Xuxa, que descia de uma nave em trajes lascivos e era acompanhada por um bando de meninas, réplicas sua. Nesse programa, as crianças se emocionavam ao se verem no vídeo, nenhuma das provas eram executadas de maneira séria e, no final, como símbolo de deslumbre mandavam beijos para toda a família, pai, mãe, tia, cachorro, vizinho e por aí vai.
No domingo (17), a Xuxa era Cunha, sem nem um fio de sensualidade, as paquitas, os secretários e os convidados deslumbrados por descobrirem que podiam se ver no vídeo os deputados do DEM, PSDB e PP entre outros não menos absurdos.
Na hora da votação, o festival de besteiras era um circo de horrores, aberrações de todas as naturezas mandaram, assim como na Xuxa, beijo para o pai, mãe, filhos, esposas, entre outras. Demonstrando obviamente a seriedade que o processo tinha, ou seja, nenhuma. Das coisas mais difíceis que Aristóteles teria que entender seria: como tantos acusados julgaram e condenaram alguém que não tinha acusação?
Dentre todas as coisas que Aristóteles se chocaria, provavelmente era a descoberta de um novo animal até então improvável, um animal que ele denominaria Homos Bolsonarus, que tem a característica marcante de ter mais de um orifício defecante, para desta forma, confundir os predadores que nunca conseguem distinguir quando fala ou dejeta.
Assim seguimos, sem Aristóteles, mas com Cunha, Bolsonaro e Temer, assistindo a esta funesta novela com a certeza de um final trágico, uma novela sem heróis mas com muitos vilões aclamados pelo coro do senso comum, esperando o próximo deboche dos velhos calhordas de sempre, que são os únicos a rirem desta piada pronta chamada Câmara Federal.
Você também pode gostar de:
https://paragrafo2.com.br/2016/03/22/nietzsche-marx-e-moro-ou-como-aplaudir-a-ignorancia/