Na última terça-feira (23), oitenta e uma entidades médicas e científicas brasileiras divulgaram documento no qual defendem, entre outras medidas, o banimento da prescrição e uso dos medicamentos do chamado “kit covid”, que inclui drogas sem eficácia contra a doença, como hidroxicloroquina e ivermectina. No mesmo dia Curitiba ganhou uma iniciativa chamada “Sociedade Contra a Covid” que é promovida pelo Programa de Voluntariado Paranaense (Provopar) e tem, destacado em um de seus materiais de divulgação, a entrega de “kits de tratamento precoce de forma gratuita”.
Segundo a presidente do Provopar, Carlise Kwiatkowski, a ideia surgiu depois de perceberem a quantidade enorme de pacientes com Covid-19 aguardando leitos de enfermaria e UTI no Paraná. “Conversei com o conselho da Provopar e a iniciativa foi aprovada com o objetivo de amenizar esse quadro triste que estamos vivendo”, conta.
A presidente teve Covid-19 e a oferta para mobilizar médicos voluntários partiu do médico que a tratou durante o período em que esteve doente. “Ele se ofereceu para mobilizar médicos que pudessem atender de forma gratuita. Aí conseguimos uma parceria com empresários que estão ajudando na compra de remédios e conseguimos montar um ambulatório no Alto da XV para os atendimentos”. Hoje 17 médicos atuam como voluntários na iniciativa e no primeiro dia cerca de 60 atendimentos foram realizados. “Além disso recebemos mais de 600 ligações”, diz Carlise.
Ela, porém, nega que o projeto tenha o objetivo de distribuir Kits de tratamento precoce. Afirma que o Provopar é apartidário e respeita as diversas iniciativas no tratamento da Covid. “Não podemos ter uma guerra neste momento. O país passa por um momento muito difícil e o Provopar é a favor de todas as iniciativas que amenizem o sofrimento, como a vacina, por exemplo”. Segundo a presidente, a instituição não distribuí indiscriminadamente Kits te tratamento precoce. “Não existe tratamento precoce, o que existe é o tratamento para pacientes com Covid. Eu mesma fui tratada com hidroxicloroquina e ivermectina. Se os médicos receitarem àqueles que foram positivados com Covid, e os pacientes não tiverem condições de comprar, nós vamos fornecer. Os pacientes precisam ter a liberdade para escolher o tratamento”, enfatiza.
Porém, não há tratamento para o Covid-19, o que são tratados são seus sintomas. E, segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), os medicamentos do Kit Covid não tem eficácia contra a doença. “Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da covid-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”, diz texto do boletim do Comitê Extraordinário de Monitoramento da Covid-19, assinado por 54 sociedades científicas das mais diferentes especialidades e as 27 associações médicas estaduais.
Defendido pelo presidente Jair Bolsonaro como estratégia de combate ao coronavírus, o chamado “kit covid” ou “tratamento precoce”, na verdade, contribui para aumentar o número de mortes de pacientes graves, disseram à BBC News Brasil diretores de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais de referência. Mas, para 15% ou 20% que precisam de internação, essas drogas, segundo eles, podem prejudicar o tratamento no hospital e contribuir para a morte de pacientes.