A série americana “Atypical” conta a história de Casey, uma adolescente e atleta que está tentando descobrir sua orientação sexual, a adolescente se sente atraída pelo seu namorado, Evan, e, ao mesmo tempo, por sua melhor amiga, Izzie. A quarta temporada do seriado lida com Casey explorando sua bissexualidade depois de terminar seu relacionamento com o namorado. A jovem tem problemas com rótulos e com todo o processo de aceitação, diante disso, sua questão se relaciona com a de muitos adolescentes brasileiros, que, por viverem em um país retrógrado e homofóbico, sentem-se apreensivos com relação a aceitar sua própria sexualidade. Na adolescência, a curiosidade de manter relações sexuais surge e, nesta fase, a falta de diálogo entre pais e filhos cresce, ainda mais se o jovem não for heterossexual, pois o tema ainda é tabu na sociedade e é visto como afronta à moral e aos bons costumes.
O desenvolvimento da sexualidade é um aspecto biológico do ser humano que é influenciada pelo contexto social, cultural, histórico, político, religioso e ético onde a pessoa está inserida. A sexualidade vai se desenvolvendo a partir da interação social, através da comunicação consigo e com o outro. Em relação ao sexo, a sexualidade está relacionada ao prazer, erotismo e reprodução. Se a sexualidade está presente desde o nosso nascimento, entendemos que ela pode se transformar ao longo do tempo, dependendo das experiências que vivenciamos.
No início do século XX, Leonídio Ribeiro criou o laboratório de Antropologia Criminal e, por meio dele, defendia que homossexuais deveriam ser “tratados”, ele usou de recursos médicos como a opoterapia para orientar uma equipe que estudou a constituição morfológica de aproximadamente 185 homossexuais presos pela polícia do Rio. O objetivo era detectar sinais de “interssexualidade” que serviria para identificar homossexuais. A única conclusão dos “exames” constatou que a homossexualidade só poderia ser manifestada por “produções epidérmicas vindas do atrito irritativo” ou seja, nada científico, mas resultado de relações sexuais. A falácia da reversão sexual é uma ideia antiga no Brasil.
Somente com a organização de movimentos de defesa LGBT os abusos de gênero passaram a ocorrer com menor frequência, as internações se tornaram ilegais depois de o Brasil deixar de reconhecer a homossexualidade como doença em 1985, antes da OMS, que só reconheceu quatro anos depois.
O ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Marco Feliciano (atualmente deputado federal pelo PL) classificou a homossexualidade como “modismo” durante uma audiência com pessoas que se consideram “ex-gays”. O encontro reuniu, no Legislativo, ativistas da causa LGBT e pessoas ligadas à bancada evangélica. Feliciano argumentou que se uma pessoa pode ser gay, também existe um caminho “inverso”. Cinco pessoas convidadas relataram como começaram a se relacionar com pessoas do mesmo sexo, todas contaram ter sofrido abusos na infância ou problemas de relacionamento com os pai, e defenderam que ninguém “nasce gay”, mas que o comportamento é determinado pela sociedade. O vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia ponderou que a psicologia “acolhe toda forma de sofrimento” e acusou os grupos mais conservadores de tentar “moldar o mundo a sua convicção religiosa ou ideológica”.
O fundamentalismo, enraizado no país, produz uma ideologia que inverte as situações e propõe cura para aquilo que não é doença, enquanto adoece a sociedade como um todo, tentando padronizar o moralismo como modo de ser da sociedade, isso cria uma falsa ideia do que é normal e o que não é, uma linha que divide o país entre puros e impuros, destruindo a concepção de estado laico, fundamento básico de uma democracia.
Texto Escrito por:
Giovana Garcel Cavalcante.
Eduarda Geovana Lemes.
Karime Espindola da Silva.
Jucimara da Rosa Barbosa.
Vitor Emmanuel de Souza.
Caio Flávio Barros.
Crédito da imagem: UBES – União Brasileira de Estudantes Secundaristas.
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