Últimas Notícias
Home » indígenas » Criminosos incendeiam casa de Cacique no Rio Grande do Sul
Cerca de 15 homens chegaram ao longo no início da noite deste sábado

Criminosos incendeiam casa de Cacique no Rio Grande do Sul

 

No início da noite deste sábado (19), por volta das 18 horas, um grupo fortemente armado invadiu a casa do cacique Carlinhos Alfaiate, localizada no setor de Laranjeira na Terra Indígena do Guarita, na área do território pertencente a Redentora. A TI fica no Noroeste do Rio Grande do Sul, ocupando parte dos municípios de Tenente Portela, Redentora e Erval Seco.
O grupo efetuou disparos de armas de fogo e ateou fogo na casa do cacique. No local a polícia aprendeu diversas cápsulas e cartuchos deflagrados de calibre 7,62, calibre 12, calibre 28, calibre 20 e calibre 38. Depois da invasão Carlinhos Alfaiate ficou desaparecido e indígenas e Brigada Militar realizaram buscas na região e o encontraram refugiado em uma comunidade vizinha, como destaca uma fonte da região. “O encontramos em uma comunidade próxima da sua residência, ele está bem”, conta.

Cerca de 15 homens armados chegaram  no início da noite deste sábado

O Cacique Carlinhos vinha sofrendo diversas ameaças que haviam se intensificado nos últimos dias e, inclusive, grupos armados foram avistados em diversos setores da Terra Indígena do Guarita. “Já faz tempo que prometeram de pegar e matar ele, ontem quase conseguiram”, revela a fonte. 

Crime pode ter ligação com disputa pelo cargo de Cacique

Em 25 de fevereiro de 2018 Carlinhos Alfaiate foi eleito cacique de Guarita e Vanderlei Ribeiro seu vice, ambos escolhidos para mandatos até dezembro de 2022. A eleição movimentou os quase 8 mil indígenas que hoje vivem na TI. O processo foi acompanhado pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Fundação Nacional do Índio (Funai) que atestaram a lisura do pleito. Começava aí, no entanto, muitas disputas, tentativas de golpe e ameaças pelo cacicado da região e a Terra Indígena ficou dividida entre dois grupos.
Em 1º de março de 2018, o candidato derrotado, Vilmar Sales, requereu à Comissão Eleitoral “providências quanto ao resultado da eleição” alegando irregularidades que teriam sido cometidas pelo cacique eleito. Em 4 de março, o então presidente da Comissão Eleitoral, Alexandre Ribeiro Mineiro, negou provimento ao pedido de Sales ressaltando que “as denúncias eram desprovidas de qualquer prova”.

Fortemente armado, o grupo usou armas de grosso calibre

Porém, em 11 de dezembro de 2018, Alexandre Ribeiro Mineiro, que havia presidido a Comissão Eleitoral e negado o pedido de processo por parte do candidato derrotado, fez uma denúncia contra Carlinhos Alfaiate, e na oportunidade, declarou a destituição do cacique. Ao mesmo tempo que fez a acusação, e que segundo ele havia sido enviada ao MPF com as provas das irregularidades cometidas por Alfaiate, Ribeiro destacava a destituição do cacique eleito por meio da Comissão Eleitoral Permanente e sinalizava que já empossaria provisoriamente como novo Cacique Vilmar Salles, candidato derrotado no pleito eleitoral.
No dia 12 de dezembro o Conselho Estadual de Povos Indígenas do Rio Grande do Sul (CEPI) emitiu uma nota informando “que a liderança atual representada pelo cacique Carlinhos Alfaiate tem toda autonomia e legitimidade”, pois foi eleita com a maioria dos votos dos membros da comunidade da Terra Indígena.
A tensão ficou latente e os grupos rivais prometiam um conflito eminente.

Cacique Carlinhos – Foto: Jornal Atualidades

Tentativa de golpe

Quase um ano depois, em setembro de 2019, Vandinho, vice cacique eleito ao lado de Carlinhos, protocolou na Policia Federal e no Ministério Público Federal uma carta em que afirmava que estaria destituindo Alfaiate e estaria pessoalmente assumindo o cargo de cacique. Começava aí mais um longo período de tensão pela disputa da liderança da Terra Indígena de Guarita.
No último dia 04/10 o Ministério Público Federal promoveu, em Porto Alegre, uma reunião com lideranças indígenas. A pauta versou sobre a divulgação de notas ofensivas em emissoras de rádio da região de Tenente Portela, Miraguaí e Redentora que, para o MPF podem incitar conflitos entre os índios e agravar as situações já instaladas na Terra do Guarita, além de beirar a prática de crimes.

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.